"Esta é a forma de mostrar a quantidade de pessoas que fizeram esta biblioteca e que admiravam Sophia, e o modo como todos os autores criaram e sem saber contribuíram para esta biblioteca irrepetível de várias gerações", sublinhou Martim Sousa Tavares, neto da poeta e curador da exposição, à margem da visita que decorreu hoje na Galeria da Biodiversidade e Jardim Botânico do Porto -- Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Port.
A exposição "Pour ma Sofie", concebida por Oxana Ianin, e cujo título assenta numa dedicatória de Arpad Szenes -- "Pour ma Sophie amoureusement" -, é o resultado do trabalho de seleção e triagem, iniciado em 2015 pelo neto da poeta, de inúmeros livros, que para além de dedicatórias, continham cartas, escritos e fotografias guardadas na biblioteca da casa da Meia Praia, em Lagos, e em caixas em Lisboa.
"Estas dedicatórias dão a entender que a Sophia era uma pessoa consultada por outros autores, assim como também indicam o quanto era desapegada, revelando algumas discrepâncias daquilo que é uma biblioteca viva e caótica", afirmou o neto.
A exposição, que vai ficar instalada na Galeria da Biodiversidade e Jardim Botânico do Porto até dia 22 de fevereiro, é o regresso à casa -- a antiga Quinta do Campo Alegre - que outrora foi dos seus avós e palco da infância da poeta no início do século XX.
"Começar esta exposição neste local era essencial, porque foi a casa onde a minha avó cresceu. Há livros que voltam a esta casa passado 100 anos. É o voltar ao passado num espaço que ela imortaliza", disse Martim Sousa Tavares.
"Pour ma Sofie" junta assim "pontas soltas de uma biblioteca" numa exposição composta por dedicatórias em livros de escritores portugueses e estrangeiros (desde os anos 30 do século XX a 2004), várias fotografias, cartas, postais, desenhos e até o bilhete para o túmulo de Julieta.
"São as pontas soltas desta biblioteca que explicam um bocadinho quem era a pessoa. Uma pessoa espontânea, muito impulsiva e distraída. Há livros que se nota em que ela tem uma urgência tal de poesia, que por vezes, a poesia a encontra sem uma folha e ela escreve num livro que está mais à mão", admitiu.
Nos livros e poemas que compõem a exposição, Martim Sousa Tavares contou que também foram encontrados "inéditos", que vão ser doados à Biblioteca Nacional para serem estudados e consolidados no espólio que já se encontra depositado naquela instituição.
De acordo com Martim Sousa Tavares, estando a obra de Sophia de Mello Breyner em "excelentes condições e ótima saúde", o Jardim Botânico do Porto, que se vai tornar no "Jardim de Sophia" ao longo deste ano, vai convocar artistas, sobretudo jovens, para trabalharem a partir da obra.
Em março, a exposição "Pour ma Sofie" vai passar, por isso, a estar instalada na Figueira da Foz, durante a Semana Arte Mulher e a programação do Centenário de Sophia de Mello Breyner, no Porto, vai dar lugar à música, teatro infantil, conto musical, ilustrações, exposições de pintura, dança e leituras encenadas.
"Estamos a tentar ser caleidoscópios nas nossas escolhas, tendo em conta que esta é uma grande celebração e lembrança de Sophia. Queremos que este seja um encontro de artistas com esta grande criadora, que é tão vasta que deixa terreno fértil, onde se podem semear e deixar crescer outras obras", acrescentou.