"A edição deste ano irá homenagear José Saramago, ao mesmo tempo que assinala os 30 anos da queda do Muro de Berlim, e os direitos humanos, temas que eram muito caros a José Saramago", explicou à agência Lusa a presidente da Arte Via - Cooperativa Artística e Editorial, Ana Filomena Amaral.
A organizadora recordou que o prémio Nobel português foi "o primeiro intelectual a insurgir-se contra a construção de muros nas favelas, aquando da realização do Mundial de Futebol no Brasil".
É com o enfoque nos direitos humanos e nos muros que ainda existem que o festival desafiou a estarem presentes vários escritores estrangeiros de países onde a existência de muros ainda é uma realidade, nomeadamente de Caxemira ou do Sahara Ocidental.
"Trouxemos mulheres, porque são elas que sofrem mais com desrespeito pelos direitos humanos", explicou Ana Filomena Amaral.
O FLII - Palavras de Fogo, que decorre entre 14 e 17 de junho, "pretende envolver todos os agentes de desenvolvimento de todos os concelhos participantes, todos os talentos locais, em todas as ações a realizar em simultâneo", refere uma nota de imprensa.
Conta com cerca de 30 escritores convidados: destacam-se os portugueses Afonso Cruz, Gonçalo M. Tavares, Inês Fonseca Santos, Filipa Leal, Ana Paula Arnaut, Pedro Chagas Freitas, Danuta, Patrícia Portela, Joel Neto, Eunice Lourenço, Leonor Menezes, João Rasteiro, Edgar Valles, José Alberto Carvalho, Ricardo Mota, Mário Zambujal, Fernando Aguiar e Ana Filomena Amaral.
Presenças garantidas são dos estrangeiros André de Toledo Sader, Andréa del Fuego, Ana Miranda e Júlio Silveira (Brasil), Julia Wong (Perú), Asiya Zahoor (Caxemira), Jan Carson (Irlanda do Norte), Zahra El Hasnaoui Ahmed (Sahara Ocidental,) Maya Abu Alhayat (Palestina), Eun Hee-Kyung (Coreia), Karla Suarez (Cuba) e Hélder Beja (Macau).
Com o tema transversal "A arte e a cultura como reanimadores de uma região e de um povo", este festival, que se dedica ainda a Sophia de Mello Breyner Andresen e Jorge de Sena, congrega os municípios de Ansião, Alvaiázere, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, Arganil, Penela, Tábua e a Fundação ADFP de Miranda do Corvo, no distrito de Coimbra, e a Câmara de S. Pedro do Sul, no distrito de Viseu.
Organizado pela Arte-Via Cooperativa, sediada na Lousã, no distrito de Coimbra, o evento conta com a participação "crucial" das bibliotecas municipais e redes de bibliotecas escolares, explica o Município de Alvaiázere, um dos municípios envolvidos, em nota de imprensa.
Da programação fazem parte "ações de formação, concursos, palestras, 'workshops', leituras, feiras do livro, espetáculos, multimédia, performances, instalações, exposições, para e com todos os públicos de todas as faixas etárias".
"Trata-se de um evento intermunicipal, daí o seu caráter inovador, que decorrerá em 12 concelhos da região afetados pelos fogos e pretende levar os livros e os escritores aos sítios mais inusitados e imprevisíveis, como fábricas, campos, praias, igrejas, mercados, romarias locais, onde as pessoas trabalham, convivem, ou seja, os livros vão ao encontro dos públicos porque também eles têm saudades", refere o Município de Alvaiázere no comunicado.
Segundo a nota, o conceito deste festival é o de "uma realização sinérgica, catalisando os recursos dos municípios e outras instituições integrantes do consórcio, rentabilizando e potenciando o melhor que cada um possui, num esforço conjunto de superar as adversidades e, em nome da palavra regeneradora, onde houver pessoas haverá livros".
Os livros "estarão nos sítios mais inesperadas, à mão de quem os quiser ler", os escritores portugueses e estrangeiros "irão aos locais mais surpreendentes, os livros e as palavras farão novamente renascer a cor por entre o negrume", lê-se no comunicado.
Nesta edição será atribuído o prémio literário FLII - Palavras de Fogo com o valor de 7.500 euros, para originais de autores até os 35 anos, assumido pelo Ministério da Cultura, através da Direção Regional de Cultura do Centro, e durante o mês de junho haverá uma residência literária.
A Presidência da República é o patrono do evento e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), Delegação Regional da Cultura, RBE e a Fundação José Saramago parceiros associados.