Para celebrar o centenário do eclipse solar que comprovou a Teoria da Relatividade Geral, formulada pelo cientista Albert Einstein, a cidade brasileira de Sobral, cujo céu foi palco daquele fenómeno natural, organizou uma ópera, em conjunto com São Tomé e Príncipe.
"O município de Sobral, juntamente com instituições científicas nacionais, universidades e instituições governamentais, têm preparado ao longo do ano de 2018 e 2019 um conjunto de iniciativas, (como) uma ópera internacional, que irá ser transmitida por um televisão dinamarquesa, com uma apresentação em tempo real de um grupo de estudantes de Sobral e da ilha do Príncipe", afirmou à agência Lusa o secretário da Educação de Sobral, Herbert Lima.
Com o tema "Gravidade", a ópera abordará os 100 anos do eclipse, sendo que os alunos dos países envolvidos têm realizado videoconferências de forma a escreverem juntos a história principal da ópera, segundo a página da internet do munípio de Sobral.
O objetivo principal da iniciativa internacional é despertar nos estudantes o interesse pela ciência, através da música.
O secretário da Educação acrescentou que as celebrações do centenário do eclipse solar contarão ainda com "seminários, lançamento de livros, exposições fotográficas, um monumento em tamanho real em homenagem ao cientista que é o protagonista desse evento, Albert Einstein, e a criação de um novo monumento na cidade que remete para o evento físico da luz".
Realizar-se-á também uma conferência internacional, com cientistas provenientes da Europa, dos EUA, e de países da América Latina, como Chile e Argentina.
Mas é preciso recuar um século para se ter noção do que implicou aquele eclipse e da importância que teve no panorama científico mundial do século XX, nomeadamente no ramo da física.
Pouco antes das 09:00 da manhã do dia 29 de maio de 1919, cientistas norte-americanos, brasileiros e ingleses aguardavam em Sobral, no estado do Ceará, que o sol fosse encoberto pela Lua, para assim verificarem se a massa dos corpos em causa deformaria o espaço próximo deles, de modo que um raio luminoso fosse desviado por essa deformação, tal como tinha previsto o físico alemão Einstein, em 1915.
Os eclipses solares totais forneciam as condições perfeitas para testar se essa previsão de Einstein fazia, ou não, sentido.
A par de Sobral, também a ilha do Príncipe, na costa ocidental da África, conferia condições privilegiadas para a observação do fenómeno natural, sendo que também para lá foi enviada uma comitiva britânica com a finalidade de observar e documentar o evento.
No entanto, a experiência em Príncipe não foi tão bem-sucedida como em Sobral, devido às condições meteorológicas que impediram uma nítida observação dos astros.
Mas se a comunidade científica no local já estava preparada para o fenómeno que iria presenciar, o mesmo não aconteceu com os habitantes de Sobral, que apesar de terem sido avisados acerca do que representaria o eclipse, assustaram-se com a escuridão que se abateu sobre aquela região, durante cerca de cinco minutos.
A presença de cientistas em Sobral naquela época "gerou na população um certo clamor pela espera desse eclipse. Jornais na época anunciaram que os padres faziam intervenções em missas, porque a população passou a acreditar que o mundo acabaria por conta do dia que se tornaria noite", detalhou Herbert Lima, baseando-se em registos daquele período.
No momento em que a lua cobriu o Sol, câmaras fotográficas incorporadas em telescópios registaram a posição das estrelas e concluíram que Einstein estava certo, pois a luz fez realmente uma curvatura.
Sobral ganhou assim fama internacional por ter sido o palco da comprovação da Teoria da Relatividade, o que levou aquele município a construir o Museu do Eclipse, uma infraestrutura que permitiria acolher os registos da época em que o eclipse ocorreu.
O museu "foi inaugurado em maio de 1999, no dia em que se comemoraram os 80 anos do eclipse. Associado a ele foi criado também um observatório público, onde as pessoas podiam ter acesso a observações astronómicas com um telescópio de qualidade, para observarem eventos no céu, aqui na cidade de Sobral", disse à Lusa Emerson de Almeida, membro da direção do Museu do Eclipse.
De acordo com a prefeitura de Sobral, o museu em causa passará por um processo de modernização, nomeadamente dos seus equipamentos, neste ano em que se celebra o centenário do eclipse.
"Obviamente que a presença do Museu [nas comemorações] faz um vínculo com Príncipe, como um evento muito importante para o conhecimento que o ser humano tem do universo. (...) Sentimo-nos muito orgulhosos de estarmos vinculados à ilha, assim como ao povo de Príncipe, e a todos aqueles que colaboraram com esse evento e com esse esforço humano de descobrir cada vez mais sobre o universo em que vivemos", concluiu Emerson de Almeida.