Em declarações à agência Lusa sobre a programação para 2025, apresentada hoje, em Lisboa, o diretor artístico do TNDM, Pedro Penim, disse que esta assenta em "dois grandes pilares": a presença em Lisboa no Teatro Variedades e nos Jardins do antigo Hospital Miguel Bombarda, no âmbito de protocolos com a autarquia local e com a Largo Residências, respetivamente, enquanto o edifício-sede no Rossio continuar em obras.
O Variedades, no Parque Mayer, será para espetáculos que se "demorem mais" e que, de alguma forma, possam "emular aquilo que são produções de média/grande escala", tal como aconteceria na Sala Garrett. Segundo Penim, os objetivos que a autarquia definiu para este teatro recém-recuperado servem "que nem uma luva para esta programação, que é bastante diversa, bastante eclética".
No caso dos Jardins do Bombarda, a aproximação está relacionada com aquilo que, normalmente, seria levado a cena na Sala Estúdio, e que "muitas vezes aponta" para "um caminho mais experimental", disse Penim à Lusa.
Aqui, no antigo hospital, a programação do D. Maria II será apresentada na futura Sala Estúdio Valentim de Barros, também em obras, sala de homanagem ao artista que marcou palcos europeus de dança na década de 1930, e viveu encarcerado mais de quatro décadas no hospital psiquiátrico, por causa da homossexualidade assumida. Esta sala abrirá com a apresentação, de 08 a 18 de maio, da peça "As Castro", de Raquel Castro.
"Depois da experiência muito determinante e eficaz na relação com todo o território" através da Odisseia Nacional, iniciada em 2023 quando o edifício do TNDM encerrou para obras, no ano passado "tornou-se imperativo voltar a Lisboa" sem "perder esse contacto com o resto do território, porque faz parte da missão do teatro que é nacional" e não é, "nem nunca foi, só de Lisboa", argumentou Pedro Penim.
"É minha intenção que esta ideia se possa institucionalizar, que deixe de ser excecional" - esta ideia de levar programação a todo o país -, "e que passe a fazer parte do pensamento integrado da direção artística", sublinhou o diretor do TNDM.
Desafiado pela Lusa a destacar espetáculos da programação do próximo ano, Pedro Penim não hesitou em citar "Reparations, Baby!", de Marco Mendonça, que aborda a questão do pagamento de reparações pelos crimes do colonialismo cometidos por Portugal, a apresentar no Teatro Variedades de 09 a 27 de julho.
Penim referiu igualmente o regresso de Cristina Carvalhal às coproduções com o D. Maria II, com "O nariz de Cleópatra, pois claro!", a partir de um texto escrito por Augusto Abelaira nos anos 1960, que considera de "uma atualidade incrível e uma dimensão política muito assinalável". A peça também estará no Variedades, de 13 de setembro a 05 de outubro.
A estreia de três espetáculos, no âmbito da participação do D. Maria II no projeto internacional STAGES (Sustainable Theatre Alliance for a Green Environmental Shift) constitui outro dos destaques do diretor artístico do Nacional D. Maria II.
São eles: "As mulheres que celebram as Tesmofórias", uma criação da ativista, artista e DJ transgénero portuguesa Odete, em torno de um texto clássico de Aristófanes, de 11 a 15 de junho no Variedades; "Itinerário: Geologia de um regresso a casa" (título ainda provisório), de Rogério Nuno Costa, nos Jardins do Bombarda, de 29 de outubro a 02 de novembro; e "Rito de transição", com texto e direção de Ritó Natálio, artista e investigador, lésbica não-binárie, a estrear-se em 03 de dezembro, na Sala Estúdio Valentim de Barros.
"Corre, bebé!", espetáculo da Gaya de Medeiros e de Ary Zara, vencedor da 7.ª edição da Bolsa Amélia Rey-Colaço, é outra escolha de Pedro penim, e estará em cena de 20 a 29 de junho, na sala Estúdio Valentim de Barros.
Uma das novidades da programação para 2025 consiste num projeto criado para o digital, com estreia 'online' pelo realizador Jorge Jácome, que vai pensar a relação do teatro com a tecnologia. O projeto será lançado em setembro, no Variedades, no formato de instalação.
Em dezembro, e no âmbito desta parceria com a NTT Data, estrear-se-á uma criação de âmbito teatral que ao longo de seis meses vai mobilizar equipas transdisciplinares com vista à criação de "uma sinergia criativa e tecnológica, que permita a expansão do espetáculo ao vivo para territórios ainda por explorar". De acordo com Pedro Penim, "a relação entre a inteligência artificial e a reação teatral" terá lugar nesta criação.
No conjunto, a programação para 2025, segundo Pedro Penim, tenta ainda, "de alguma forma, testar este terreno menos conhecido do Teatro Nacional D. Maria II", de múltiplas expressões e múltiplos palcos pelo país, estabelecendo-se como "um prólogo para 2026 e para aquilo que se irá passar no teatro quando pudermos finalmente reabrir o edifício do Rossio".
No total, a programação contempla 25 espetáculos - nove produções próprias e mais 16 coproduções -, 15 dos quais em estreia.
Três espetáculos estarão em digressão internacional - "Casa Portuguesa", por exemplo, irá a Santiago de Compostela, em junho - e haverá seis projetos de participação, o lançamento de oito novas edições do TNDM, três ações de formação e sessões de poesia, entre outras ações.
A programação integral para 2025 pode ser consultada a partir de hoje no 'site' do Teatro Nacional D. Maria II.
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