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Agustina é "a maior escritora que Portugal já teve"

O poeta e ensaísta Arnaldo Saraiva disse à Lusa que Agustina Bessa-Luís, que morreu hoje aos 96 anos, ocupa "o espaço da maior escritora que Portugal já teve" na memória do país.

Agustina é "a maior escritora que Portugal já teve"
Notícias ao Minuto

21:27 - 03/06/19 por Lusa

Cultura Óbito

"Tivemos algumas escritoras importantes no século XX, de Florbela Espanca a Sophia de Mello Breyner Andresen e Maria Velho da Costa, mas de longe a maior figura feminina da literatura portuguesa será sempre Agustina", explicou.

O ensaísta, poeta e crítico, que fundou o Centro de Estudos Pessoanos e é um especialista na obra de Eugénio de Andrade, lembra uma "escritora muito produtiva, que só em romances deixou cerca de quatro dezenas de obras e também inúmeras crónicas".

O legado de Agustina também se vê em "livros infantis, teatro, contos, com um selo de qualidade invulgar em todas essas obras", trabalho de "uma escritora absolutamente excecional".

Apesar de, no campo internacional, não ser "mais conhecida", como no "Brasil, onde é pouco conhecida" e onde Saraiva tentou, "desde 1965", ajudar a revelar, esta é uma "personalidade humana invulgar, uma mulher sábia, bem portuguesa e bem ligada às coisas portuguesas".

Destacada "conhecedora de espaços rurais e urbanos, sobretudo no Norte", Arnaldo Saraiva conheceu uma mulher "atenta às relações humanas e laços sociais", que procurou "entender algumas figuras da cultura portuguesa, de Santo António a Florbela Espanca e [Maria Helena] Vieira da Silva".

No lado pessoal, salta à memória "a companheira fabulosa para viagens ou para conversas risonhas, sobre isto e aquilo", além da "excelente cozinheira" que fazia "doces maravilhosos".

Uma mulher "muito irreverente" e, ao mesmo tempo, "extremamente séria e intensa", tem na sua carreira "páginas incríveis, de escrita exaltante, envolvente, profunda e densa", recorda o ensaísta.

Deixa uma obra que será "cada vez mais objeto de estudo, análise, referência e citações", por ser "muito rica e complexa, que fala muito de nós mesmos, mesmo quando parece falar do homem universal".

Arnaldo Saraiva reforça que "faz bem ler Agustina, mesmo quando alguns dos seus livros parecem ter alguns obstáculos", até porque nos leva "para mundos que são afinal os mundos do desconhecido, os mundos enigmáticos que queremos perceber, e que nos ajudam a perceber".

"Encontramos ali, talvez, o que possamos definir como a alma portuguesa, se é que isso existe. É um espaço muito nosso", remata.

Nascida em 1922 em Vila Meã, Amarante, a escritora Agustina Bessa-Luís morreu hoje, aos 96 anos, no Porto, disse à Lusa fonte da família.

Destacou-se em 1954, com a publicação do romance "A Sibila", que lhe valeu os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz, sendo galardoada em 2004 com os Prémiso Camões e Vergílio Ferreira.

Recebeu igualmente o Grande Prémio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, em 1983, pela obra "Os Meninos de Ouro", e em 2001, por "O Princípio da Incerteza I - Joia de Família".

Foi distinguida pela totalidade da sua obra com o Prémio Adelaide Ristori, do Centro Cultural Italiano de Roma, em 1975, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2015.

Foi condecorada como Grande Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada, de Portugal, em 1981, elevada a Grã-Cruz em 2006, e com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, de França, em 1989, tendo recebido a Medalha de Honra da Cidade do Porto, em 1988.

Questionada sobre o que escrevia, a autora disse, num encontro na Póvoa de Varzim: "É uma confissão espontânea que coloco no papel".

A cerimónia fúnebre da escritora Agustina Bessa-Luís decorrerá na terça-feira, na Sé Catedral do Porto, seguindo depois para o cemitério do Peso da Régua, Vila Real, onde será sepultada "na intimidade da família", revelou hoje o Círculo Literário Agustina Bessa-Luís.

O Governo decretou um dia de luto nacional, na terça-feira, pela morte da escritora.

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