Adeptos do Slam, nome dado às disputas de poesia falada que começaram na década de 1980, apresentaram-se numa tenda aberta com 'slammers' do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa, e também na Casa de Cultura de Paraty, cidade localizada no estado brasileiro do Rio de Janeiro.
Em entrevista à agência Lusa, Raquel Lima explicou que estar na Flip foi uma oportunidade de mostrar o que é o Slam para um público mais amplo.
"Estar na Flip foi uma oportunidade de tirar o Slam deste registo mais à margem, mais da periferia e trazer para um contexto mais conservador", disse a também investigadora do Programa de Pós-Colonialismos e Cidadania Global do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
"A Flip sendo uma festa literária com tantos anos, sempre construída a volta de um cânone sobre o que é literatura, abriu espaço e nós entramos aqui com o uma abordagem mais dissidente e mais subversiva sobre o que é poesia", acrescentou.
Já Edyoung Lennon avaliou que a incorporação das batalhas poéticas no evento literário mais importante do Brasil veio dar uma contribuição.
"A Flip, nas pesquisas que eu fiz, sempre foi uma feira muito elitista. O Slam veio quebrar alguma coisa aqui e construir uma coisa nova, um novo conceito, porque é uma mistura de tudo, de literatura periférica, da escrita clássica, da escrita urbana. Acho que isto contribui porque enriquece a cultura", salientou o 'rapper', poeta e 'slamer' cabo-verdiano, elemento da banda de hip hop Detroit Kabuvernianu.
Lennon lembrou que, embora ainda seja considerado um tipo de arte alternativa, as batalhas de poesia falada conquistaram espaços em todo o mundo.
"Já se criaram redes para 'slammers' ao redor do mundo (...) A narrativa do Slam é muito interessante porque fala de um contexto global. Apesar de falar muito sobre a narrativa negra", afirmou o artista cabo-verdiano.
A portuguesa Raquel Lima também destacou que, embora o grande público não tenha muito contacto com o Slam, já existem redes de artistas dentro dos países de língua portuguesa, que colaboram para a expansão desta arte.
"Há muitas redes [de 'slammers'] entre Brasil, Portugal, Moçambique, São Tomé e Princípe e Angola. Só na minha experiência de dez anos, conheci a Elisangela Rita, de Angola, o Patrick Neto e o Edyoung, de Cabo Verde (...). Não tenho qualquer dúvida de que o Slam é uma plataforma de união e de mobilidade dos artistas no espaço da Lusofonia."
Raquel Lima avaliou que o Slam também está a estreitar o contacto das pessoas com a poesia.
"Não é o escrito que determina o que é um poeta consagrado. Tu percebes que há uma coisa que passa pelo teu corpo, pela performance, pela voz e que também muda o próprio ambiente e o público", sublinhou.
"O Slam é um espaço participativo. O público vota, o público grita, ou seja, há [no Slam] uma mudança não só do que é o autor, mas também do que é o espectador (...) A oralidade é uma forma de ser, de fazer e de viver a poesia", concluiu.
A Flip, principal encontro literário no Brasil, é um evento anual que reúne escritores, músicos, investigadores, professores e intelectuais de diferentes áreas da cultura. A edição de 2019 terminará neste domingo.