Parte da programação oficial do evento, uma ação promovida por professores e jovens chamada "Rolezinho Literário", reuniu dezenas de participantes que passaram por pontos históricos, museus e ateliês, numa caminhada em que a poesia se fez notar em alto e bom som e foi declamada com o auxílio de um megafone.
Durante mais de duas horas, os versos misturaram-se ao batuque das ladeiras de Salvador, cidade conhecida por ser a terra natal de Jorge Amado e Castro Alves, e pelo ritmo inconfundível dos toques e batuques dos terreiros do candomblé e dos tambores do Olodum.
Em entrevista à Lusa, Gal Meirelles, idealizadora do Rolezinho Literário, contou que organiza círculos de leitura em espaço públicos da cidade de Salvador desde 2018.
"Desde o ano passado, começámos essa proposta de fazer círculos de leitura nos espaços da cidade de Salvador. Este ano fomos convidados, eu e o poeta Denisson Palumbo, para fazer o rolezinho em homenagem a Castro Alves inserido na programação da Flipelô", disse.
Questionada sobre a importância de Castro Alves, escritor homenageado nesta edição da festa literária de Salvador, Gal Meirelles disse que o autor foi o maior poeta da Bahia e deixou, no século XIX, todo um legado útil até hoje para a literatura brasileira.
"Castro Alves foi o poeta do povo. Era um poeta do povo e foi quem reivindicou a praça para o povo. Nada melhor do que fazer com que este poeta seja lido e discutido no espaço da rua", afirmou.
"Não poderíamos deixar de trazer a poesia abolicionista de Castro Alves porque ele ficou conhecido, sobretudo, como poeta abolicionista, para o espaço do Pelourinho que foi construído por escravos, por mãos de escravos", acrescentou.
Lidiane Sacramento de Sousa, de 21 anos, acompanhou todo o percurso e contou que tinha interesse em conhecer a obra do poeta homenageado pela Flipelô.
"Decidi participar porque foi uma oportunidade de passear pelo Pelourinho e conhecer um pouco mais a obra de Castro Alves. Na minha escola, não tive a oportunidade de conhecer a obra deste escritor baiano mais a fundo", contou.
"Quando surgiu esta oportunidade pela Flipelô eu fiquei apaixonada e, por isto, decidi vir e estou aqui. Estou amando", completou.
Outra pessoa que participou da caminhada foi Priscila Soares Paiva de Campos Moreira, de 38 anos.
"Fiquei a saber pela programação da Flipelô e achei interessante a proposta de sair para as ruas. Eu adoro poesia. Conheço pouco da obra do Castro Alves. Achei bem interessante [o evento] não ser num café ou num teatro, mas nas ruas", concluiu.
Entre os convidados da 3.ª edição da Flipelô, cujos debates e mesas literárias começaram na última quinta-feira, destaca-se o escritor português Bruno Vieira Amaral, vencedor do Prémio José Saramago e do Prémio Oceanos (2.º lugar em 2018), com "As Primeiras Coisas" (2013) e "Hoje Estarás Comigo no Paraíso" (2017).
Participaram também o escritor alemão Max Annas, o colombiano Rómulo Bustos Aguirre, a mexicana María Vázquez Valdez, os brasileiros Ricardo Linhares e Eliane Potiguara, professora indígena, e a autora nigeriana Oyinkan Braithwaite.
O histórico autor de contos, romancista e jornalista brasileiro Ignacio de Loyola Brandão, autor de "Zero", que a censura da ditadura brasileira proibiu, foi outro dos protagonistas da festa literária de Salvador.
Além das mesas de debate, o público acompanha conversas com jovens, lançamentos de livros, saraus e 'batalhas' de poesia, além de uma programação virada para o público infantil.
Exposições, apresentações teatrais e um evento chamado a "Rota Gastronómica Amados Sabores", com o tema "Amado Recôncavo", e pratos inspirados no livro "A Cozinha Praiana da Bahia", de Guilherme Radel estão a ser vendidos a preços mais baixos.
A 3.ª edição da Flipelô termina no domingo.