Após o fogo, Rita Martins, que vive em Barril de Alva, Arganil, ouviu histórias de trauma, de perda e de dor, quando falava com quem tinha enfrentado os grandes incêndios de outubro de 2017. Chegou a escrevê-las num blogue e num jornal local, mas, este ano, decidiu que era necessário recentrar a narrativa, encontrar algo de positivo no pós-incêndio e, a partir das histórias, dar um contributo para restituir-se um pouco a fé na espécie humana.
Foi com esse intuito que escreveu o livro 'Histórias do Fogo', onde reúne 15 relatos de 17 pessoas que enfrentaram as chamas a 15 de outubro de 2017.
"Quis dar uma nova perspetiva, um novo olhar para o incêndio. Não o quero romantizar. O choque da perda e do trauma está lá, em cada uma das histórias, mas não me pretendia focar apenas nessa parcela do acontecimento. São histórias de pessoas que escolheram as Beiras para viver, para ficar ou para aqui vir parar. São histórias de pessoas de gestos generosos incríveis, que, naquele dia, não arredaram pé, que salvaram os bens delas e os que não eram delas, que salvaram o património comum. Esta resiliência no âmago de cada um permitiu a reconstrução que estamos a assistir", disse à agência Lusa a habitante de Barril de Alva, de 43 anos.
Com histórias de Arganil, Oliveira do Hospital, Santa Comba Dão e Tábua, no livro fala-se de pessoas que reconstruíram a sua vida por meios próprios, de quem ficou para trás para salvar uma aldeia ou de quem decidiu arregaçar as mangas no pós-incêndio para garantir que a ajuda chegava a todos.
"São relatos que mostram que somos seres extraordinários, capazes dos atos mais impensáveis", conta Rita Martins, que se mudou para Barril de Alva em 2015 e que perdeu a casa que estava a acabar de construir, no incêndio de 2017.
Durante o processo de entrevistas, que decorreu este ano, Rita notou que houve "uma enorme recetividade" para com o projeto.
"As pessoas ficaram agradecidas e tocadas por haver uma perspetiva mais positiva. Havia essa necessidade, mas uma necessidade silenciosa", constatou.
Apesar de notar que "uma reconstrução positiva já arrancou no território", no livro estão também presentes relatos de "pessoas que perderam amor à terra ou que estão sem força para cultivar".
"Há uma miscelânea de sentimentos e não quis esconder isso no manto do fogo, porque queria que o livro tivesse também uma voz crítica e as pessoas pudessem ter a possibilidade de a exteriorizar", acrescentou.
O livro é lançado no dia 20, no Barril de Alva, em Arganil, às 14:30, sendo posteriormente apresentado em Oliveira do Hospital (25), Tábua (26) e Arganil (30).
Até dezembro, deverá haver sessões de apresentação em Lisboa, Porto e Coimbra, informou.