Gulbenkian exibe trabalho de arquitetos que fez escândalo pela ousadia

O trabalho de arquitetos como Franco Albini e Carlo Scarpa, na origem do projeto expositivo do Museu Calouste Gulbenkian, há 50 anos, em Lisboa, "provocou escândalo na época, pela sua ousadia", recordou hoje o curador Dirk van den Heuvel.

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Lusa
07/11/2019 14:34 ‧ 07/11/2019 por Lusa

Cultura

Museu

Esculturas e quadros dispostos horizontalmente, pinturas antigas retiradas das suas luxuosas molduras, paredes divisórias translúcidas ou feitas em blocos de concreto, foram algumas das soluções expositivas inovadoras e radicais que foram usadas nos anos 1950 e 1960 e que surpreenderam os visitantes.

Estes designs inovadores podem ser vistos na exposição 'Art on Display/Formas de Expor - 1949-69', que é hoje inaugurada, às 18:30, pela Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e que foi alvo de uma visita guiada para jornalistas portugueses e estrangeiros, também com a curadora e diretora do museu, Penelope Curtis.

Questionado pela agência Lusa sobre o impacto que o design destes arquitetos teve no público, Dirk van den Heuvel disse: "Foi um escândalo naquela época. As pessoas estavam habituadas a uma museologia convencional, totalmente diferente".

"Estes arquitetos e designers eram ambiciosos e queriam mudar o mundo. Não queriam que a arte fosse apresentada nos museus como se fosse um lugar sagrado", acrescentou, sobre a necessidade que sentiram de mudar tudo no pós-guerra.

Já em Portugal, como recordou Penelope Curtis, a situação era diferente: "Não houve uma guerra e vivia-se em ditadura".

Para assinalar os 50 anos do Museu Calouste Gulbenkian, a exposição 'Art on Display - Formas de expor 1949-69' evoca também outros arquitetos e designers como Franca Helg, Lina Bo Bardi, Aldo van Eyck e Alison e Peter Smithson, que, nos anos de 1950/1960, desenvolveram soluções inovadoras em relação a padrões anteriores, vindos da primeira metade do século XX, contextualizando assim a definição do seu projeto original.

Dirk van den Heuvel - que fez uma pesquisa profunda com Penelope Curtis sobre esta matéria para a exposição, reunida num catálogo - também sublinhou que "estes arquitetos tinham a particularidade de desenhar exposições de arte, e tinham uma relação de grande proximidade com os artistas, de quem eram amigos pessoais em muitos casos".

Quando abriu as portas, em 1969, o Museu Calouste Gulbenkian resultava de um planeamento de uma década antes, e adotou um projeto de design que teve no arquiteto italiano Franco Albini (1905-1977) um dos principais mentores, refletindo as boas práticas da década de 1950.

Nesta exposição, segundo o museu, o projeto original é confrontado com as mais emblemáticas soluções expositivas adotadas em Itália, Reino Unido, Países Baixos e Brasil, nas duas décadas anteriores.

A exposição está patente na Galeria Principal, mas no interior da Coleção do Fundador foi criado um percurso que mostra fotografias e desenhos de como foram criadas originalmente as salas.

No percurso, é possível ver que algumas salas foram mais alteradas do que outras ao longo do tempo, e que Franco Albini deixou uma forte marca que ainda perdura, nomeadamente no desenho de montras em vidro onde foram sendo exibidas peças em cerâmica, vestuário tradicional, lacas.

"O museu chegou a ter plantas no percurso e bancos muito confortáveis que depois foram retirados ao longo do tempo", apontou Penelope Curtis.

A dupla de curadores da exposição, Penelope Curtis e Dirk van den Heuvel, identificou sete "estudos de caso" que correspondem a exposições permanentes de museus, ou a exposições temporárias que ficaram na história da "arte de expor" e, com base neles, foram criadas réplicas.

Com base nesses projetos originais, foram construídas réplicas, em tamanho real, de modo a evocar o vocabulário expositivo de cada um deles.

Estão também expostas cerca de oito dezenas de peças do Museu Calouste Gulbenkian, habitualmente nas reservas, que encontram equivalência nas obras que foram apresentadas originalmente em cada um destes projetos.

Esta exposição dará também a ver as diversas propostas pensadas para o Museu Gulbenkian, de modo a que o visitante possa estabelecer comparações entre os desenhos originais e as soluções concretizadas.

Os visitantes vão poder ver igualmente maquetes e documentos dos Arquivos da Fundação Gulbenkian de outras propostas para o museu que foram a concurso, com as respetivas soluções de design.

Fora do contexto original do Museu Gulbenkian, a exposição será apresentada no Het Nieuwe Instituut em Roterdão, na Holanda, em abril de 2020.

A Gulbenkian também inaugura hoje uma exposição que é a primeira dedicada a Robin Fior, um dos protagonistas da história do design britânico e português, tendo como ponto de partida o espólio doado recentemente à Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian.

 

 

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