Antes de começar a ouvir jazz, Rodrigo Amado descobriu José Mário Branco, a partir de álbuns como 'Margem de Certa Maneira' ou 'Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades', e neles encontrou uma criatividade que viria também a descobrir depois no jazz.
"A minha aproximação ao jazz foi feita de forma tardia, só a partir dos 18 ou 19 anos. Para mim, ele representava uma certa criatividade musical. As coisas que o Zé Mário utilizava não ouvia nos discos de rock. Havia um grau de criatividade tão grande que era surpreendente. Por isso, talvez tenha sido das músicas que depois me empurrou para uma área mais criativa, como é o jazz", disse à agência Lusa o saxofonista.
Para Rodrigo Amado, para lá de toda a carga poética das canções de José Mário Branco, há uma forma de trabalhar as músicas naquele artista que não encontra noutros músicos da geração dele.
Apesar de se mover no jazz, Rodrigo Amado continuou a acompanhar a carreira de José Mário Branco e continuou "a ser sempre surpreendido por cada novo disco".
"Ele conseguia sempre surpreender e usar soluções diferentes das que já tinha testado. É uma figura inspiradora", vincou.
Para o disco 'A History of Nothing', de 2018, que compôs com Joe McPhee, Kent Kessler e Chris Corsano, Rodrigo Amado decidiu recorrer às palavras de José Mário Branco.
"O disco estava gravado e estava à procura de imagens e de um texto para dar consistência ao álbum e estava a ler uma entrevista do Zé Mário num jornal e senti logo uma ligação enorme, não só a mim, mas àquilo que pensava naquele período e àquilo que estava por trás desse novo álbum", disse.
"A única coisa que vislumbro é que é preciso começar tudo de novo, mais uma vez, e é preciso começar pelo que está perto, pelo que está em baixo, no chão. É um trabalho muito mais a partir das questões biológicas, animais, da sobrevivência, do medo, do prazer, das questões básicas", lê-se, no disco, a citação de José Mário Branco.