Em 2017, João Morais, que durante 30 anos tocou em bandas com influências Punk Rock, decidiu abraçar um novo projeto musical, a solo, ao qual chamou 'O Gajo’. Nesta entrevista ao Notícias ao Minuto assume que queria, acima de tudo, renovar a sua música pois sentia que a motivação não estava num nível que o deixasse feliz.
Apaixonou-se pela World Music e pela Viola Campaniça e o resultado foi surpreendente. O álbum ‘Longe do Chão’ ergueu-se pelo caminho do sucesso.
A “liberdade criativa” que este novo género musical lhe deu levou-o a criar, já em 2019, ‘As 4 Estações d’O Gajo’. Um disco quadripartido em quatro EP’s, lançados ao longo do ano e dedicados a quatro estações de comboio de Lisboa: Rossio, Santa Apolónia, Cais do Sodré e Alcântara-Terra.
Depois de lançados os primeiros três EP’s, o ‘Gajo’ prepara-se agora para lançar o quarto, ‘Alcântara-Terra’, numa sessão dupla, às 19h00 e às 22h00, no dia 7 de dezembro, no Clube Ferroviário, em Santa Apolónia, Lisboa. Em antevisão, o artista conversou com o Notícias ao Minuto sobre tudo isto e muito mais.
No início do próximo mês apresenta ao vivo, no Clube Ferroviário o seu último EP 'Alcântara-Terra' da coleção 'As 4 Estações d'O Gajo'. Como vai ser esse concerto?
O concerto de dia 7 de dezembro é a apresentação ao vivo do EP ‘Alcântara-Terra’, mas é acima de tudo uma celebração da coleção ‘As 4 Estações do GAJO’. É a última paragem de uma grande viagem que iniciei no arranque deste ano. A ideia será fazer um apanhado dos quatro EPs da coleção e trazer para o palco os convidados que participaram nesta aventura.
Quem são e porque é que foram estes os escolhidos por si para participar nestes trabalhos?
O GAJO é um projeto a solo que sempre imaginei cruzar com outros músicos/artistas e como sou fã do trabalho de cada um dos convidados deste disco, decidi dar o passo e avançar com os convites. No caso do José Anjos, os seus textos estremecem-nos e renovaram o meu interesse pela poesia. No caso da Joana Guerra, o seu violoncelo e a sua voz transportam-nos para uma outra dimensão e nos concertos que vi dela ao vivo, adorei essa viagem. O Carlos Barretto dispensa apresentações e pode-se dizer que concretizei um objetivo que nunca pensei possível, poder estar perto daquele contrabaixo foi uma experiência muito significante e que me deixou agradecido por 30 anos de trabalho. Por fim, o Karlos Rotsen e o seu jazz criolo, made in Martinica, que também adorei ver ao vivo e de quem me tornei fã. Para além destes convidados tenho trabalhado com o João Sousa na percussão para algumas apresentações ao vivo e ele é uma excelente pulsação para tudo o resto. No conjunto, são cinco seres humanos excecionais e, acima de tudo, muito generosos por terem aceitado o meu convite. Sou um felizardo!
Como é que surgiu esta ideia, que tem apresentado ao longo de 2019, de fazer um conjunto de EPs com o nome de estações ferroviárias da cidade de Lisboa?
O primeiro disco de 2017 era inspirado na cidade de Lisboa. Desta vez quis iniciar uma viagem que partisse desta cidade para o mundo e uma estação de comboios serve para isso mesmo. Quando mais tarde surge o conceito das quatro estações (inspirado na obra prima da música clássica ‘As 4 estações’, de Vivaldi, pensei em fazer quatro EPs lançando um em cada uma das estações do ano e cada um com o nome de uma estação de comboios de Lisboa, de onde se pode partir desta cidade para o mundo. No final haveria uma caixa para os quatro EPs e assim também teríamos uma peça física interessante para quem ainda goste de comprar o formato físico. Tenho que fazer um especial agradecimento à editora Rastilho Records que já tinha editado o primeiro disco e que aceitou em 2019 este novo desafio.
É uma homenagem a Lisboa?
O meu trabalho irá estar sempre relacionado com esta cidade onde nasci e cresci, mas a homenagem maior terá sido o primeiro disco. Neste caso quis descentralizar um pouco as referências e dar início a uma viagem com um destino ainda indeterminado. No design dos discos surge sempre um corvo que representa Lisboa.
Como é que tem sido o feedback?
Este projeto tem tido uma excelente aceitação. A abordagem mais contemporânea a uma viola de raiz tradicional portuguesa despertou e ainda desperta muita curiosidade. As músicas são instrumentais, mas têm histórias e narrativas que ajudam a criar uma aproximação ao público.
Em 2017 lançou o seu primeiro álbum como 'Gajo'. Como é que surgiu a ideia de associar influências punk rock à tradição e sonoridade da Viola Campaniça? Tem alguma ligação ao Alentejo?
Na realidade, quando abraço este projeto não tinha um plano definido. O Punk Rock tinha sido o que fiz durante 20 e tal anos e não procurava qualquer relação com a música tradicional portuguesa. Queria acima de tudo renovar a minha música pois sentia que a minha motivação não estava num nível que me deixasse feliz. Não sou alentejano (apesar de ter uma simpatia especial pela região) e, numa primeira fase, não sabia mesmo o que fazer. A música sempre foi a minha terapia e deixar de a fazer estaria sempre fora da equação por isso, alguma coisa tinha de nascer desta minha inquietação.
Como foi passar para a Viola Campaniça ao fim de três décadas de punk rock? A que se deveu esta mudança?
Depois de quase 30 anos a tocar guitarras elétricas vindas de outros países, senti que o som que fazia era demasiado universal e pouco personalizado. Tornei-me fã deWorld Music e o que caracteriza esse género é a sua geografia e, por isso, pensei que se pudesse tocar um instrumento português, o meu som seria mais facilmente relacionado com o meu país e com a minha realidade geográfica. Como já disse, não sou alentejano e foi por acaso que me cruzei com a Viola Campaniça, em Beja, num concerto que dei na altura com os GAZUA. Foi o Paulo Colaço que me apresentou a viola e foi o Marco Vieira que me facilitou o acesso a este instrumento. A partir daí orientei todas as minhas referências para o novo som que tinha nas mãos. O Punk Rock está mais presente na atitude com que encaro este projeto. Não segui tendências e moldei o som da forma mais honesta que me foi possível.
Sente falta do punk rock ou continua a tocar também este género de música?
Este projeto tem crescido com um nível de intensidade e exigência que não me deixa tempo para mais nada. Não consigo ainda sentir falta de alguma coisa pois não há espaço para isso. Talvez agora, com o fim desta aventura das ‘4 estações do GAJO’, eu consiga respirar e ter tempo para pensar noutras coisas, mas sinto que este projeto me completa perfeitamente a todos os níveis. Cabe de tudo aqui e sinto uma liberdade criativa que nunca tinha experimentado.
Há mais concertos agendados? Onde e quando é que os seus fãs o poderão ouvir?
Dia 7 de dezembro faço esta apresentação/festa no Ferroviário em Lisboa, depois vou ao Porto dia 12 acompanhar ao vivo o filme ‘The Kid’, do Charlie Chaplin. No dia 13 toco em Aveiro no Teatro Avenida. 2020 arranca com três apresentações logo em janeiro e o que posso para já dizer é que volto a tocar em Lisboa, mas acompanhado pelo piano do Karlos Rotsen. Entretanto, irei passar por Almada e pelo Algarve. Irei dando informações mais detalhadas através do meu site, da minha Newsletter (que pode ser subscrita no site) ou através das redes sociais. Obrigado a todos e vemo-nos por aí!
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