Contos inéditos de Albano da Rocha Pato editados 38 anos depois da morte

Um envelope esquecido numa gaveta, contendo contos manuscritos da autoria do jornalista de Coimbra Albano da Rocha Pato, resultou num pequeno livro, agora editado, disse hoje à agência Lusa Rui Pato, o médico e músico, filho do autor.

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Lusa
20/01/2020 23:22 ‧ 20/01/2020 por Lusa

Cultura

Albano da Rocha Pato

O livro, com prefácio do também jornalista Júlio Roldão, revela uma faceta desconhecida de Albano da Rocha Pato, que morreu em 1982, aos 59 anos. Inclui sete contos e foi editado pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, da qual o jornalista era o sócio número 102.

"A história tem alguma piada. Eu vivi a vida intensa de jornalista do meu pai, ele era um jornalista e fotojornalista compulsivo. Mas desconhecia que tinha escrito alguns contos, até que descobri, no fundo de uma gaveta, um envelope esquecido com manuscritos", contou Rui Pato.

O músico, um dos acompanhantes de Zeca Afonso, falou com a mãe, que também desconhecia a existência dos contos, mas que se lembrava que o pai "fazia contos, ou para serem publicados em jornais ou a pedido, para serem lidos" em estações de rádio.

"É um livro sem grandes pretensões do ponto de vista literário. Se o meu pai estivesse aqui e lhe perguntassem, certamente nem quereria, mas para materializar o seu trabalho enquanto jornalista é capaz de ter algum interesse, para mim tem o valor estimativo de ter qualquer coisa de material dele", adiantou Rui Pato.

O pequeno livro, intitulado "Uma Luz no Mar", acabou por avançar depois do médico ter dado conhecimento a amigos de textos e fotografias do pai e materializou-se quando a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto apareceu "espontaneamente" a demonstrar interesse "em ver os contos publicados", explicou.

No prefácio, Júlio Roldão lembra Albano da Rocha Pato como "um jornalista muito respeitado em Coimbra também por ser um assumido republicano e democrata que se opunha à ditadura salazarista".

Descreve-o como um jornalista "tão completo" que, em julho de 1950, reportou, com texto e fotografias, enquanto enviado do jornal O Primeiro de Janeiro, não só a participação do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) num festival de teatro clássico em Mainz (Alemanha), "mas também a reconstrução daquela cidade alemã muito destruída por bombardeamentos durante a II Grande Guerra".

"Albano da Rocha Pato era, realmente, um jornalista completo num tempo em que a profissão ainda não exigia, como exige hoje, uma múltipla capacidade de resposta, nomeadamente no domínio de várias técnicas - escrever, fotografar, filmar, paginar", escreve Júlio Roldão.

"Albano da Rocha Pato era também um jornalista que sonharia ser escritor. Um sonho, atrevo-me a dizer, muito sonhado por jornalistas", acrescenta.

Na conversa com a Lusa, Rui Pato lembrou, por outro lado, o espólio de 40 anos de fotografias que mantém do seu pai e que "dava para uma grande edição de fotografia de Coimbra".

"Ele andava sempre de máquina fotográfica, fotografou todas as inaugurações possíveis e imaginárias, desastres, incêndios, cheias, a Alta de Coimbra antes da destruição para serem construídas as faculdades", enfatizou.

Há fotografias de Salazar e Américo Tomás e de quando a rainha [de Inglaterra] Isabel II veio a Portugal, à Batalha e a Coimbra. Está tudo em negativo, era preciso passar para positivo e um livro de fotografia é caro, mas temos andado a pensar o que fazer", acrescentou Rui Pato.

O lançamento em Coimbra de 'Uma Luz no Mar' está agendado para terça-feira, às 18h30, na livraria Almedina Estádio, com apresentação a cargo de Abílio Hernandez.

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