Sam Mendes chegou a confessar que precisava de um intervalo do "caos" que são os filmes do espião britânico James Bond e, para isso, atirou-se ao seu projeto (talvez) mais pessoal e mais cuidadosamente controlado: o drama de guerra ‘1917’, que chega esta quinta-feira aos cinemas portugueses.
A história segue dois soldados britânicos Schofield (George MacKay, de ‘Capitão Fantástico’) e Blake (Dean-Charles Chapman, ‘A Guerra dos Tronos’) encarregues de uma delicada e difícil missão: atravessar território inimigo para entregar uma mensagem que pode salvar a vida a 1600 soldados, incluindo o irmão de Blake.
Esta oitava longa-metragem de Sam Mendes – vencedor de um Óscar de Melhor Realizador por ‘Beleza Americana’ (1999) – tem a singular característica de ser filmado de forma a transmitir o efeito de plano-sequência, um único plano de câmara aparentemente contínuo, que aproxima o espetador da ação. Uma opção que, de resto, já tinha utilizado na sequência de abertura de ‘Spectre’ (2015), e que aqui utiliza em todo o filme.
A utilização deste formato, criado através da filmagem de pequenas sequências de até oito minutos que se interligam sem se notarem as costuras, cria uma atmosfera imersiva e quase sufocante. Conforme explicaram os atores por diversas vezes em entrevistas, todos os movimentos tiveram de ser detalhadamente coreografados, num período de ensaios que durou seis meses, antes do início da rodagem.
“Foi o trabalho mais entusiasmante da minha carreira”, disse o realizador britânico. O filme está nomeado para 10 Óscares da Academia de Hollywood, incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador.
As memórias do avô de ascendência portuguesa
Não há como passar ao largo da razão pela qual Sam Mendes decidiu explorar as dificuldades e heroísmos da Primeira Grande Guerra. Alfred H. Mendes, o seu falecido avô, filho de portugueses que tiveram de fugir da Madeira, fez-lhe vários relatos das suas experiências na Frente Ocidental.
“A primeira vez que eu entendi a ideia da guerra foi quando o meu avô me contou as suas experiências na Primeira Guerra Mundial. Este filme não é uma história sobre o meu avô, é antes sobre o seu espírito – o que estes homens passaram, os sacrifícios, a ideia de acreditar em alguma coisa maior do que eles mesmos”, afirmou Sam Mendes, durante a promoção de ‘1917’.
O seu avô tinha 19 anos de idade em 1917, altura em que se alistou no exército britânico. Como tinha uma estatura baixa (1,64 m), foi-lhe entregue a função de mensageiro. Tinha de passar mensagens de posto para posto, correndo o mais rápido possível pela orla das trincheiras sem ser visto pelo inimigo, situado do outro lado da “terra de ninguém”.
Foram as histórias contadas pelo avô, que chegou mesmo a escrever um livro de memórias, que impulsionaram Sam Mendes a pesquisar sobre a Primeira Guerra Mundial para fazer uma representação – ainda que estilizada – das dificuldades e da coragem sobrehumana requerida daqueles homens.