"O seu nome ficará profundamente fixado na história da literatura portuguesa, não só pelo singular percurso poético com que, a cada livro, nos foi surpreendendo, mas também pelo enorme entusiasmo com que sempre traduziu", refere Graça Fonseca, numa nota de pesar, na qual lamenta profundamente a morte do escritor, poeta e tradutor.
O poeta Manuel Resende nascido em 1948, no Porto, morreu hoje, em Lisboa, disse a editora do autor, Livros Cotovia, que o define como "um dos maiores poetas portugueses".
"Demonstrando que o trabalho de tradução é também uma arte por direito próprio, Manuel Resende foi um dos mais notáveis tradutores da língua portuguesa e um divulgador apaixonado da arte literária, oferecendo aos leitores de português um espaço mais rico e vasto", afirma na nota enviada à Lusa, a ministra da Cultura.
Para Graça Fonseca, a obra poética de Manuel Resende, "tão curta quanto intensa, é herdeira e próxima das tradições literárias surrealistas, mas a sua originalidade nunca se deixou limitar por movimentos e grupos".
"Os seus poemas demonstram um esforço de movimento e, também, de aprendizagem e abertura às influências porque, como o próprio dizia, 'Aceito todas as influências. Afirmo-me com o que recebo'", observa.
Segundo a governante, "esta admiração pela escrita dos outros, na 'procura de [se] exprimir e ser outro pela voz alheia' fez de Manuel Resende" um dos grandes tradutores do país, que "transpôs para a língua portuguesa autores de outras línguas e horizontes, como Brecht, Schnitzler, Kafka ou, mais recentemente, os '145 poemas' de Kaváfis, um trabalho de tradução extraordinário e um projeto de 15 anos de dedicação a esse gesto de partilha que é tornar-nos mais próximo o que outros escreveram".
Licenciado em Engenharia, que nunca exerceu, era apontado como um especialista em grego moderno, tendo sido uma das suas últimas traduções os poemas completos de Konstantínos Kaváfis.
Foi também tradutor de obras como 'O Capital', de Karl Marx, e 'A Caça ao Snark', de Lewis Carroll.
Trabalhou como jornalista durante seis anos, no Jornal de Notícias, e foi tradutor de instituições da União Europeia.
Literariamente estreou-se em 1983, com 'Natureza Morta com Desodorizante'.
Sobre este livro disse: "Dei-lhe esse título para não dizer coisa nenhuma. Foi o mais esquisito que consegui arranjar. Há naturezas-mortas com violinos, açucenas, frutas... A minha tem um desodorizante".
Na sua obra, destacam-se ainda 'Em Qualquer Lugar' (1998) e 'O Mundo Clamoroso, Ainda' (2004).