Investigador defende uma biografia de Ricardo Reis e Alberto Caeiro

O investigador Nuno Amado defende que uma biografia de Ricardo Reis deve ser feita "em simultâneo" com a de outro heterónimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro.

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Lusa
11/02/2020 10:34 ‧ 11/02/2020 por Lusa

Cultura

Fernando Pessoa

Amado apresenta e desenvolve este seu argumento na obra 'Os Anos da Vida de Ricardo Reis (1887-1936)', recentemente editada pela Imprensa Nacional.

O autor explica, numa nota prévia, que o livro "é uma versão condensada da tese de doutoramento", em Teoria da Literatura, que apresentou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em novembro de 2016.

Esta tese foi orientada por António Feijó, responsável científico de projetos de investigação sobre o Renascimento inglês e o Modernismo português, e pelo catedrático Miguel Tamen, atual diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Segundo o raciocínio de Nuno Amado, os dois heterónimos, Reis e Caeiro, correspondem, respetivamente ao lado de dentro e de fora de uma mesma personagem dual dividida em gente heterónima.

"Não há modo de apresentar uma descrição satisfatória de Ricardo Reis que dispense uma descrição satisfatória de Alberto Caeiro", escreve Amado na introdução da obra.

Argumenta o autor que esta "interdependência põe em causa" muito do que se afirma sobre "heteronímia pessoana" e cita Pessoa, que na sua "Tábua Bibliográfica", de 1928, escreveu que as individualidades dos heterónimos Caeiro, Reis e Álvaro de Campos "devem ser consideradas distintas da do autor delas".

Referindo que Caeiro "é um poeta da Natureza com predileção por uma linguagem simples" e Reis "um poeta de índole clássica", que se dirige a raparigas, "cujos nomes denunciam a influência de Horácio", já Álvaro de Campos é "um poeta moderno e um poeta das cidades, umas vezes futurista".

Este é um "género de catalogação vaga e abrangente [que] não diz nada acerca do conjunto que elas formam", atesta Nuno Amado, acrescentando que "raramente possibilita a caracterização da heteronímia enquanto um Todo orgânico".

O título 'Os Anos da Vida de Ricardo Reis (1887-1936)' resulta, por seu turno, "do esforço contrário de descrever o 'conjunto dramático' que as 'obras destes três poetas formam'", afirma Amado apoiando-se na 'Prosa Íntima e de Autoconhecimento', de Richard Zenith.

Nuno Amado sublinha que Fernando Pessoa "deixou dita muita coisa sobre a relação entre os diferentes heterónimos", mesmo que o poeta não tenha publicado as suas biografias como previra.

 

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