Lisboa anuncia "apoio imediato" de 200 mil euros ao setor fadista

A Câmara de Lisboa vai abrir candidaturas a um programa de "apoio imediato", no valor de 200 mil euros, às casas de fado da cidade e aos seus artistas, que "se encontram numa situação desprotegida", anunciou hoje o município.

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© Global Imagens

Lusa
17/04/2020 16:56 ‧ 17/04/2020 por Lusa

Cultura

Covid-19

Para a autarquia, este apoio financeiro justifica-se, por se tratar de "espaços emblemáticos da cidade, na sua maioria casas históricas, em funcionamento há largas décadas, espaços vivos de aprendizagem, transmissão e fruição cultural do fado e da guitarra portuguesa".

O valor deste "apoio imediato", cujo processo de candidatura abre na próxima segunda-feira, junta-se ao apoio extraordinário, no valor global de 1,25 milhões de euros, "anunciados na quarta-feira pela edilidade, destinado aos agentes culturais e para garantir a subsistência de trabalhadores independentes e entidades culturais e criativas".

A edilidade anunciou também, que em parceria com a RTP, está a preparar um documentário sobre as casa de fado, a ser gravado em dez "casas emblemáticas" da cidade, entre as quais A Parreirinha de Alfama, O Faia e Senhor Vinho.

A Severa, Adega Machado, Café Luso, Casa de Linhares, Clube de Fado, Maria da Mouraria e Mesa de Frades são as outras casas indicadas hoje pela câmara.

Numa iniciativa que a autarquia define como "Fique em Casa... de Fados", este documentário terá "os episódios individuais" transmitidos 'online', nas redes sociais da Câmara Municipal de Lisboa e do Museu do Fado, enquanto "o documentário será transmitido pela RTP".

"O financiamento [deste filme] é da responsabilidade da autarquia", sublinha a câmara.

Simultaneamente, o Museu do Fado está a desenvolver uma "programação com todos os artistas dos elencos artísticos de todas as casas de fado", que a câmara descreve como "Fados da Casa".

Segundo a autarquia é "uma programação de conversas e fado, filmada em ambiente controlado" e que também será transmitida pelas redes sociais da Câmara Municipal de Lisboa, da Empresa Municipal de Gestão dos Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) e do próprio museu.

"Ao longo deste ciclo, intérpretes e músicos são convidados a partilhar memórias e conhecimentos sobre a história do Fado, a selecionar peças emblemáticas do acervo do museu [e] a homenagear as suas referências artísticas", lê-se no comunicado camarário.

A câmara promete ainda trabalhar "um programa específico para relançar o setor no médio prazo", em colaboração com a Associação de Turismo de Lisboa, para apoiar "a recuperação das casas de fado e a manutenção da vitalidade de uma instituição e referência cultural que faz parte e preserva a memória da própria cidade".

Casas de fado e fadistas tinham já manifestado à agência Lusa várias dificuldades que enfrenta, no contexto das medidas restritas impostas no combate à pandemia de Covid-19.

A precariedade laboral dos intérpretes do fado, cantores e instrumentistas, que marca a sua relação com as casas de fado, e a dependência do turismo desta expressão têm exposto a fragilidade do setor, de acordo com empresários e artistas.

Pedro Ramos, proprietário d'O Faia, no Bairro Alto, disse à Lusa que o setor "estava numa boa fase", mas que a retoma "só começará a sério em março do próximo ano".

A opinião foi partilhada por outros empresários, como o guitarrista Paulo Valentim, da histórica A Parreirinha d'Alfama, e o poeta José Luís Gordo, d'O Senhor Vinho, na Lapa.

"Vamos tentar recorrer aos apoios da banca para manter a casa, com prejuízos, até ao final do ano, esperando que, dependo do evoluir da situação do coronavírus, possa timidamente surgir algum turismo e, a partir de março [de 2021], temos de acreditar numa retoma", disse Pedro Ramos.

O fadista António Rocha, que canta há mais de 60 anos, já distinguido com um Prémio Amália, disse à Lusa que "nunca se assistiu a algo assim, uma paragem total. Resta ver como se vai recuperar".

"Muitos fadistas estão literalmente sem qualquer rendimento, pois muitos são precários, não havendo casas de fado abertas. Não cantam, e logo não ganham", alertou a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF).

A fadista Luísa Rocha, do elenco da casa Fado em Si, em Alfama, afirmou-se preocupada, e disse à Lusa estar a ponderar encontrar uma segunda fonte de rendimento.

"No meu caso, somos dois, pois eu o meu marido [Guilherme Banza], que é guitarrista, trabalhamos na mesma casa de fados e estamos os dois parados", disse Luísa Rocha já com dois álbuns editados, "Uma Noite de Amor" (2011) e "Fado Veneno" (2015).

Na ocasião, à Lusa, todos os empresários apelaram a "mais apoios" do Estado e realçaram o papel "único e característico" das casas de fado na indústria turística. "Ninguém vem de facto a Lisboa sem ir uma noite aos fados, e nós somos um cartaz da cultura e língua portuguesas", realçou Paulo Valentim.

 

 

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