"A reabertura não significará a retoma do setor. As medidas apresentadas terão um impacto financeiro muito significativo nos espaços e promotores independentes; acarretam grandes despesas, seja na aquisição de materiais de proteção seja na contratação de pessoal, e levam a uma redução de receitas, uma vez que em muitos casos as regras de limitação de audiências tornam financeiramente e, por vezes, fisicamente, inviável qualquer apresentação, sendo ainda previsível a dificuldade de captação de público em contexto de pandemia", refere a Associação dos Profissionais das Artes Cénicas, num comunicado divulgado na quarta-feira à noite na rede social Facebook.
A tomada de posição daquela associação surge após uma "rápida análise" às propostas do Ministério da Cultura para os procedimentos a adotar em teatros, salas de espetáculos e espetáculos ao ar livre na reabertura, prevista para 01 de junho, enviadas a várias estruturas do setor da Cultura nos últimos dias.
A Plateia recorda as dificuldades que as estruturas enfrentam e "a paralisação do setor nos últimos meses", e considera "fundamental que sejam mobilizados recursos financeiros para novas medidas de emergência e recuperação para as estruturas e trabalhadores do setor".
"Além disso, paralelamente, terá de ser criada uma linha de financiamento especificamente destinada ao cumprimento das regras de abertura de espaços e de retoma das atividades (compra de equipamentos e materiais, contratação de equipas extra necessárias, etc.), sem a qual a situação financeira de qualquer estrutura, seja financiada pela publicamente ou não, é incomportável", refere.
A Plateia mostra-se ainda preocupada com a proposta do Governo que significa que "os intérpretes não tenham de usar Equipamentos de Proteção Individual em cena (espetáculos e alguns ensaios) e de que haja alguma flexibilidade no que diz respeito às distâncias a manter em prol de uma atuação ou prestação artística de qualidade".
"Parece-nos que se está a dizer que estes trabalhadores não têm de ter a mesma proteção que a restante população. Esta exceção coloca-nos muitas dúvidas quanto aos direitos à segurança e saúde no trabalho. Consideramos que se deveria, pelo contrário, recomendar um esforço de adaptação, sempre que possível, das performances e dos espaços de cena às regras gerais e já conhecidas de proteção face ao vírus", defende.
Também em reação às propostas do Ministério da Cultura para os procedimentos a adotar em teatros, salas de espetáculos e espetáculos ao ar livre na reabertura, o Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA-STE) alertou hoje para o risco de fecho de salas e de atividades, com perda de receitas de bilheteira, considerando necessário o acesso gratuito a testes de rastreio à covid-19 para os profissionais de espetáculos.
O sindicato recorda que esta possível reabertura do setor acarreta grandes responsabilidades para as estruturas que tenham atividades agendadas e para quem gere os espaços que venham a abrir portas, quer se trate de estabelecimentos públicos (nacionais e municipais) ou de privados.
Para o CENA-STE, a abertura de salas a partir de 01 de junho não aponta para a resolução dos problemas financeiros e laborais imediatos e urgentes nem de médio prazo dos trabalhadores. É mais "um encargo para as estruturas artísticas e locais de trabalho e não uma solução".
Em relação à reabertura das salas de espetáculos, também a Artemrede deixou, na segunda-feira, um alerta. Para a estrutura, que agrega 16 municípios, as propostas do Governo "inviabilizarão a programação cultural em vários pontos do país", além de que são "omissas em questões relevantes para a segurança e confiança das equipas técnicas, artísticas e público".
No fim de semana, também o Movimento Pelos Profissionais do Palco considerou "inviável" a proposta do Ministério da Cultura para a abertura dos teatros em 01 de junho, lamentando que não tivesse sido dado conhecimento da proposta às companhias independentes e às produtoras.
O Governo aprovou em 30 de abril, em Conselho de Ministros, o "Plano de Desconfinamento", que previa a reabertura de livrarias, bibliotecas e arquivos a 04 de maio, seguindo-se museus, palácios, galerias e monumentos, em 18 de maio.
Cinemas, teatros, auditórios e salas de espetáculos podem abrir em 01 de junho, "com lugares marcados, lotação reduzida e distanciamento físico". Estas decisões serão "reavaliadas a cada 15 dias".