Em declarações à agência Lusa, o escritor disse que o "ponto de união" entre os diversos contos é a sua "dedicação, amor e interesse por cada uma das personagens".
"Alguns dos contos tiveram como ponto de partida notícias, mas outros nasceram de outras fontes: memórias, conversas ouvidas num supermercado, imagens isoladas, pedaços de livros alheios. Na sua maioria, decorrem em ambientes suburbanos, embora quase nunca especificados ou sem que essa especificação seja muito relevante, à exceção de um ou outro caso", disse.
O ponto de partida para este volume de contos foi o convite de Germano Oliveira, do semanário Expresso, para escrever um conto, semanalmente, para a edição 'online' do jornal.
"Portanto, teriam de ser narrativas curtas e que, de algum modo, estivessem próximas de um registo realista, embora aquilo que, num sentido restrito, se entende por 'realismo', uma representação literariamente convencional da realidade (e sobre isto poderiam escrever-se vários tratados), diga muito pouco sobre a substância de cada um destes contos", declarou o escritor.
Ou seja, explicou Vieira Amaral: "Isto para dizer que a realidade tal como a procuro retratar inclui as perceções peculiares de cada personagem, perceções condicionadas pelo momento que vivem, pelo estado psicológico, pelo local em que se encontram".
"Como os contos têm, por essa razão, tons diversos - do cómico ao trágico, do evocativo/memorialístico ao intimista - haverá também influências diversas, mas não necessariamente de autores conhecidos pelas narrativas curtas", esclareceu.
Os subúrbios de Lisboa voltam a ser cenário das suas narrativas, o que o autor referiu como "natural", já que as suas personagens habitam os espaços geográficos que conhece melhor.
"Não é uma regra que me imponho, até porque, em muitos dos contos os lugares não são especificados. Mas aceito que a atmosfera de quase todos seja suburbana, sem que isso esteja lá de um modo explícito. Para mim, que me interessam mais os ambientes do que a identificação explícita dos lugares, se o leitor sentir isso, será um triunfo da sugestão", declarou à Lusa.
Vários contos são protagonizados por mulheres porque, segundo o autor, "na maior parte dos casos, as experiências" que lhes atribui "não poderiam ser transferidas para personagens masculinas".
"E o inverso também é verdade. Como sou antiquado, acredito que, em muitas dimensões da vida, homens e mulheres, por razões culturais, mas não só, vivem as suas experiências de um modo fundamentalmente diferente", acrescentou.
Bruno Vieira Amaral acredita que "cada indivíduo vive as suas experiências de um modo fundamentalmente diferente, ainda que haja em todos ressonâncias da nossa humanidade partilhada".
Citando o conto que dá título ao livro, 'Uma Ida ao Motel', afirmou: "Pouco importa se a história de levar uma cunhada que é cantora de música popular para um motel aconteceu comigo, com um amigo, se ouvi alguém contá-la nos transportes públicos ou se a li num jornal. O que importa é que, ao ler o conto, o leitor acredite que aconteceu àquela personagem".
Bruno Vieira Amaral estreou-se literariamente em 2013, com o romance 'As Primeiras Coisas', o que lhe valeu uma distinção como "Uma das Dez Novas Vozes da Europa".
Seguiu-se-lhe 'Hoje Estarás Comigo no Paraíso' (2017) que recebeu o Prémio Tabula Rasa e foi 2.º classificado no Prémio Oceanos em 2018, ano em que publicou 'Manobras de Guerrilha', que reuniu vários textos dispersos seus.