"É bom que, nestes momentos tão inesperados e tão perigosos para todos, tenhamos a literatura", disse o escritor de origem peruana, autor de 'A Guerra do Fim do Mundo'.
Nos países onde há liberdade e democracia, há a tentação de considerar a literatura uma distração como outras, sem ter em conta a dimensão vital que encerra, acrescentou.
"Basta porém que a liberdade se restrinja ou desapareça, para que a literatura se converta numa arma de combate, num modo de resistir ao poder, que desconfia dela e establece sistemas de censura", afirmou o escritor, na intervenção que fez hoje, na capital alemã, na sessão oficial de abertura do Festival Internacional de Literatura de Berlim (ilb).
Desde os tempos mais antigos, "criamos histórias que [nos ajudam] a expressar os nossos medos", disse Vargas Llosa. "É uma maneira de nos opormos às insuficiências da vida, contra as quais haverá sempre motivos de protesto".
O autor de "A Tia Júlia e o Escrevedor" tem no livro "Tempos Duros", a sua mais recente obra de ficção.
Trata-se de "um 'thriller' histórico e político, ambientado na Guatemala, em 1954", quando um golpe militar, com apoio dos Estados Unidos, provocou a queda do Governo reformista, segundo a Quetzal, que edita o romance este mês em Portugal.
O ilb abriu hoje a 20.ª edição, sob os temas do racismo e da descolonização.
Da parte portuguesa, o festival conta com as participações da poeta e professora Ana Luísa Amaral e do ilustrador André Letria.
Ana Luísa Amaral vai apresentar, no sábado, um trabalho sobre Emily Dickinson, "uma das poetas norte-americanas mais importantes do século XIX". No domingo, estará na noite de poesia, ao lado de autores como Homero Aridjis, do México, Forrest Gander, dos Estados Unidos, Jacek Dehnel, da Polónia, e Moon Chung-hee, da Coreia do Sul.
André Letria participa no programa de literatura infantojuvenil, com sessões dedicadas aos seus livros "A Guerra" e "Se Eu Fosse um Livro", editados na Alemanha pela Midas Collection.
O ilb estreia, nesta edição, várias iniciativas virtuais. Segundo a página oficial, "algumas conversas com autores foram pré-gravadas" e vários eventos "serão transmitidos em 'streaming'".
Mario Vargas Llosa, além do discurso de abertura, participará, na quinta-feira, numa conversa com o presidente da República da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e num encontro com a vencedora do Nobel da literatura de 2018, a escritora polaca Olga Tockarzuk.
O ilb decorre no Silent Green Kulturquartier, em Berlim, até 19 de setembro.