No pedido enviado à Direção Geral do Património Cultural (DGPC), no dia 14 de dezembro, os signatários pedem que aquele conjunto seja classificado como património cultural de interesse nacional, salientando o seu valor patrimonial e arquitetónico.
"O Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular é um ícone e elemento identificador da cidade, além de um símbolo de uma época e o resultado do talento, esforço e dedicação de arquitetos e escultores que marcaram a história e a paisagem da cidade", salientam as associações em comunicado.
Caracterizando a praça Mouzinho de Albuquerque, vulgarmente conhecida como Rotunda da Boavista, como uma das praças mais emblemáticas da cidade, os signatários referem que o momento foi pensado para esta praça em 1908 na sequência do plano de comemorações da vitória portuguesa na Guerra Peninsular, tendo sido inserido numa dinâmica que tornava esta zona num novo centro financeiro e comercial do Porto.
"De elevada grandiosidade artística, o monumento foi projetado e iniciado pelo arquiteto José Marques da Silva e pelo escultor Alves de Sousa e concluído em 1952 pelos arquitetos Maria José Marques da Silva e David Moreira da Silva e pelos escultores Henrique Moreira e Sousa Caldas", acrescentam.
Do jardim histórico envolvente, "um dos jardins românticos oitocentistas do Porto", os signatários indicam que foi desenhado inicialmente (c. 1900) pelo jardineiro paisagista Jerónimo Monteiro da Costa, também autor do jardim do Carregal, tendo sofreu algumas transformações nos anos 1950 e 2004, quando foi intervencionado pelo arquiteto Siza Vieira após ter sido abandonado o projeto de travessia da praça pelo metro.
Acrescentam ainda que "este jardim foi decisivo para a organização da malha urbana da Boavista, além de possuir uma grande variedade de espécies arbóreas com décadas de vida".
No pedido de classificação, a que a Lusa teve acesso, os signatários indicam que está prevista a perfuração de um túnel sob a base do monumento para construção da linha rosa do Metro do Porto.
O pedido de classificação foi subscrito pela Árvore - Cooperativa de Actividades Artísticas CRL, a Associação Cultural e de Estudos Regionais (ACER), a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, a AJH - Associação Portuguesa dos Jardins Históricos, a Campo Aberto - associação de defesa do ambiente, o Clube Unesco da Cidade do Porto e o Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro - Grupo Ecológico (NDMALO-GE).
Em setembro, quatro destas associações tinham denunciado as "mutilações" ambientais previstas com a extensão da rede de metro, contestando a destruição de três jardins no centro do Porto e o abate de mais de 500 sobreiros em Vila Nova de Gaia.
Segundo o Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução (RECAPE), de fevereiro de 2020, está previsto o "abate/transplante das árvores ao longo da rua de Júlio Dinis, no passeio Poente" e, na Boavista, ao longo do passeio Leste da avenida de França.
O relatório menciona ainda que será "impossível evitar a interferência" da obra com o monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, situado no jardim da rotunda da Boavista.
A nova Linha Rosa do Metro do Porto é formada por quatro estações e cerca de três quilómetros de via, ligando S. Bento/Praça da Liberdade à Casa da Música, servindo o Hospital de Santo António, o Pavilhão Rosa Mota, o Centro Materno-Infantil, a Praça de Galiza e as faculdades do polo do Campo Alegre.
A linha Rosa está a ser contestada por vários grupos ambientalistas do Porto que pedem que a APA chumbe o RECAPE, obrigando a Metro a alterar a execução do projeto prevista para o local. Foi ainda lançada uma petição que conta com pouco mais de 1.100 assinaturas.
No dia 17 de dezembro, a Metro do Porto informou ter adjudicado a construção da nova Linha Rosa, que se materializará após validação do Tribunal de Contas.