João Cutileiro: Diretora de Cultura do Alentejo lembra "artista notável"
O escultor João Cutileiro, que morreu hoje, foi "um artista notável, representado nos cinco continentes", e "um dos mais relevantes do século XX" em Portugal, destacou hoje a diretora regional de Cultura do Alentejo.
© Paulo Jorge Magalhães / Global Imagens
Cultura João Cutileiro
"Era um artista notável e um mais relevantes do século XX português, com uma obra fantástica e em todo o mundo, porque ele está representado nos cinco continentes", disse à agência Lusa Ana Paula Amendoeira, que lamentou a morte do escultor.
João Cutileiro (1937-2021), que estava internado num hospital de Lisboa com graves problemas respiratórios, morreu hoje, aos 83 anos, revelou Ana Paula Amendoeira, esta manhã, em declarações à Lusa.
Segundo a diretora regional de Cultura, João Cutileiro "não foi só um excelente escultor, mas foi também um artista empenhado e preocupado em provocar e desafiar os paradigmas instalados, quer na arte, quer na sociedade".
"Foi sempre uma pessoa empenhada com a qualidade e a harmonia de vida das pessoas" no país, acrescentou.
Exemplo das "mudanças disruptivas" que introduziu "desde logo na escultura pública" é a obra D. Sebastião, dos anos 70 do século passado, que o escultor doou à cidade de Lagos, no distrito de Faro.
Trata-se de "uma peça icónica porque, de facto, marca um momento de rutura com essa tradição escultória da arte pública do país", durante o Estado Novo, argumentou, frisando que o artista "dessacralizou o espaço público e teve a coragem de 'rasgar' essas ideias feitas".
"A tradição de escultura pública teve, com ele, uma rutura revolucionária, porque o João Cutileiro mudou completamente aquilo que era a escultura e a arte pública que se fazia em Portugal, até então", acrescentou.
O escultor, que "fez a sua formação em Inglaterra, mas, depois, radicou-se em Portugal, nos anos 70", era "uma pessoa com um trabalho obsessivo", ou seja, "produziu muitíssimo, em quantidade e em qualidade e em diversos suportes, não apenas a pedra", evocou Ana Paula Amendoeira.
"Deixa-nos um legado muito rico. E deixa-nos mesmo porque legou as suas obras a todos os portugueses", através da doação "de parte significativa do seu espólio" ao Estado português, através da Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlen), anunciada em 2016 e formalizada em dezembro de 2018, quando recebeu a Medalha de Mérito Cultural, em Évora.
No âmbito da doação, a DRCAlen estabeleceu uma parceria para a gestão do acervo do artista com a Câmara e a Universidade de Évora, encontrando-se estas três entidades "a trabalhar em conjunto" neste processo, notou.
"Já fizemos várias coisas e já organizámos diversas exposições" do escultor, disse Ana Paula Amendoeira, aludindo ao projeto "A Pedra Não Espera. Maquetas e escultura para o espaço urbano", que esteve patente no Museu de Évora, em 2018, e incluiu um documentário, assim como a uma mostra de homenagem ao fotógrafo Robert Mapplethorpe, que pode ser visitada, sob marcação, em S. Bento de Castris, na mesma cidade alentejana.
Para este ano, revelou, está prevista a realização da exposição de obras do artista no Museu do Côa, em Vila Nova de Foz Côa, no distrito da Guarda.
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