Óscar para Chloé Zhao é recebido com silêncio e censura na China
O sucesso da realizadora chinesa Chloé Zhao, na cerimónia dos Óscares, está a ser recebido com silêncio e até mesmo casos de censura no seu país, devido a declarações feitas há oito anos.
© Getty Images
Cultura Chloe Zhao
A realizadora Chloé Zhao tornou-se hoje a primeira mulher asiática e a segunda mulher a conquistar um Óscar de melhor realização, com "Nomadland - Sobreviver na América", na 93.ª edição dos prémios da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas, dos Estados Unidos.
O filme Nomadland recebeu três óscares, o de melhor filme, melhor realização e melhor atriz.
No entanto, na China, onde Zhao nasceu, o feito histórico não foi alardeado.
A imprensa estatal não comemorou. A televisão estatal CCTV e a agência noticiosa oficial Xinhua, os dois principais órgãos estatais, nem sequer divulgaram a vitória de Zhao.
Foi censurada uma mensagem a anunciar a conquista do prémio, pela revista de cinema Watch Movies, que tem mais de 14 milhões de seguidores na rede social Weibo, o equivalente ao Twitter na China.
O 'hashtag' "Chloé Zhao ganha o Óscar de melhor diretora" também foi censurado na plataforma, com os internautas a receber a mensagem "de acordo com as leis, regulamentos e políticas relevantes, a página não foi encontrada".
Porém, as notícias sobre a sua vitória foram rapidamente difundidas na Internet chinesa, com internautas a celebrar a vitória de Zhao.
Muitos apontaram o discurso de aceitação, no qual Zhao citou um verso de um poema escrito no século XIII que, como muitas outras crianças chinesas, Zhao memorizou quando era criança, e que se traduz assim: "As pessoas nascem boas".
Zhao foi vítima de ataques em março, quando ganhou um Globo de Ouro de melhor realização, devido a um comentário feito há oito anos.
Numa entrevista, em 2013, a cineasta disse que, na China, "há mentiras por todo o lado", referindo-se ao sistema político.
O comentário foi recuperado nas redes sociais chinesas, com internautas nacionalistas a acusarem Zhao de trair o seu país, acusando-a de ter "duas caras" e de ter saído da China devido à riqueza do pai, o antigo diretor de uma empresa estatal chinesa.
A imprensa, a televisão e as redes sociais chinesas são rigidamente controladas pelo Partido Comunista Chinês, partido único no poder, seja diretamente ou por meio de autocensura.
Críticas podem frequentemente resultar em pedidos de boicote a artistas ou marcas, o que tem implicações onerosas para várias multinacionais estrangeiras.
No mês passado, a marca de vestuário sueca H&M reportou prejuízo nas vendas, devido a um boicote por parte dos consumidores chineses, meses depois de a empresa ter suspendido a utilização de algodão da região autónoma de Xinjiang, no extremo oeste da China, devido à alegada utilização de trabalho forçado no setor.
Em 2019, um comentário na rede social Twitter feito pelo diretor-geral dos Houston Rockets, Daryl Morey, a manifestar apoio ao movimento pró-democracia em Hong Kong, levou a CCTV a suspender a transmissão de jogos da liga de basquetebol norte-americana.
Para a NBA, este boicote significou perdas superiores a 300 milhões de dólares (253 milhões de euros), sendo que o país asiático é o mercado mais importante e lucrativo fora dos Estados Unidos.
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