David Diop, escritor de origem senegalesa, foi anunciado na quarta-feira como o vencedor do Prémio Booker Internaconal 2021, com o seu segundo romance, 'At Night All Blood Is Black', tendo-se tornado, assim, o primeiro escritor francês a receber esta distinção.
Em comunicado, a Relógio D'Água fez hoje saber que vai publicar 'At Night All Blood Is Black' (tradução inglesa do título original 'Frère d'âme') no final do mês de junho, traduzido para português por Miguel Serras Pereira.
Nomeado para dez dos mais importantes prémios franceses, o livro venceu o Prix Goncourt des Lycéens, assim como o Prix Ahmadou Korouma na Suíça e o Premio Strega Europeo em Itália.
O romance narra um episódio iniciado nas trincheiras francesas durante a Primeira Guerra Mundial, quando um grupo de soldados senegaleses combatia pela França.
O capitão Armand dirige um ataque contra o inimigo alemão. Entre os soldados que avançam, estão dois atiradores senegaleses, Alfa Ndiaye e Mademba Diop, mas mal sai da trincheira, Mademba é mortalmente atingido diante de Alfa, seu amigo de infância e mais do que irmão, segundo a sinopse.
Alfa fica sozinho no caos de um grande massacre e a sua razão perturba-se: Ele, até há pouco um camponês africano, vai espalhar a morte nesta terra para ele desconhecida. Desligado de tudo, e até de si próprio, espalha violência e semeia o medo, a tal ponto que amedronta os próprios camaradas. A sua evacuação para a retaguarda é o começo da recordação do seu passado africano, que se transforma numa resistência à primeira grande carnificina da época moderna, acrescenta a editora.
De acordo com David Diop, esta obra foi inspirada na história do seu avô.
Reagindo à atribuição do prémio, o escritor garantiu estar a viver 'um sonho feito realidade', alegria que partilhou com a tradutora Anna Moschovakis.
O prémio Booker Internacional tem um valor pecuniário de 50 mil libras (58 mil euros) que é distribuído em partes iguais entre o autor e a tradutora.
A presidente do júri, Lucy Hughes-Hallett, sublinhou o "poder aterrador" da obra premiada, e a sua "visão obscura e brilhante".
O júri desta edição do prémio foi composto pela historiadora Lucy Hughes-Hallett, que presidiu, pela jornalista Aida Edemariam, pelo escritor Neel Mukherjee, pela professora de História da Escravatura Olivette Otele e pelo poeta e tradutor George Szirtes.
Duas das obras finalistas já estão publicadas em Portugal: 'Um Terrível Verdor', de Benjamín Labatut (lançado pela Elsinore, em janeiro do ano passado), e 'A Guerra dos Pobres', de Éric Vuillard (editado pela Dom Quixote, em março de 2020).
Os restantes finalistas que ficaram para trás na corrida ao prémio foram 'The Dangers of Smoking in Bed', da argentina Mariana Enríquez, 'The Employees', da dinamarquesa Olga Ravn, e 'In Memory of Memory', da russa Maria Stepanova.
No ano passado, o livro vencedor foi 'The Discomfort of Evening', de Marieke Lucas Rijneveld, dos Países Baixos, com tradução de Michele Hutchison, entretanto editado em Portugal pela D. Quixote, com o título 'O Desassossego da Noite'.
Nascido em Paris, em 1966, David Diop cresceu no Senegal, sendo atualmente professor de literatura na Universidade de Pau, em França. Em 2012 publicou '1889, l'Attraction universelle'. A edição original francesa de 'Frère d'âme' foi publicada pelas Éditions du Seuil, em agosto de 2018.
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