25 estreias marcam última temporada de Tiago Rodrigues no D. Maria II
Perto de 30 trinta estreias constam da programação da temporada 2021-2022 do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, a última gizada por Tiago Rodrigues como diretor artístico.
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Cultura Teatro D. Maria II
"Fazemos mudanças" é o 'slogan' da nova programação, numa temporada que "não é de balanço, nem de conclusão", porque quando começou a ser "imaginada, com muita antecedência, em plena pandemia, era sobretudo uma temporada para celebrar o reencontro e a liberdade de se poder estar juntos de novo" ainda que com "algumas condicionantes", disse Tiago Rodrigues, em entrevista à agência Lusa.
Uma temporada que já "não foi tanto" desenhada a "lápis e borracha" como as anteriores, mas que "ainda se espera que comece com algumas limitações", no quadro da pandemia de covid-19, e que termine "numa assembleia humana plena, que é ver um espetáculo numa sala de teatro".
Vinte e cinco estreias, 15 das quais estreias absolutas e 10 estreias nacionais, constam dos espetáculos anunciados hoje, que "poderão ainda sofrer pequenas alterações" e em que não estão contabilizados espetáculos dos festivais Internacional de Marionetas e Forças Animadas (FIMFA) nem da edição de 2022 do Festival de Almada.
"Andy", a primeira aventura no universo dramatúrgico do realizador norte-americano Gus van Sant, integrado na bienal BoCA, com uma equipa toda portuguesa foi um dos espetáculos destacados pelo ainda diretor do D. Maria II.
Além desta proposta "muito forte" sobre o início do percurso artístico de Andy Warhol, que, em 23 de setembro, abre a programação na sala Garrett, e que "vai correr a Europa" depois de passar por Faro em 16 de outubro, Tiago Rodrigues destacou ainda o espetáculo "Silêncio", que, na sala Estúdio, coabitará com "Andy" na abertura do novo ano.
De Cédric Orain e Guilherme Gomes, do Teatro da Cidade, "Silêncio" corporiza um projeto que "começou" há três anos, quando o D. Maria II foi convidado para ir a Yokohama, numa troca de conhecimentos entre jovens artistas portugueses e japoneses.
Ao contrário de temporadas anteriores, e também devido às limitações impostas pelo novo coronavírus, o Teatro Nacional D. Maria II não abrirá a nova temporada com o já habitual fim de semana de iniciativas gratuitas e abertas a todo o público.
"Pranto de Maria Parda", uma criação a partir do texto homónimo de Gil Vicente prevista estrear na temporada passada e que em outubro subirá ao palco da sala Estúdio, numa criação de Miguel Fragata, com interpretação de Cirial Bossuet e música de Capicua e Chullage, foi outra das peças realçadas por Tiago Rodrigues. "Sem menosprezo para todas as outras", enfatizou.
Uma "dupla estreia", foi como a definiu, por se tratar do primeiro trabalho de um novo projeto, intitulado "Próxima Cena". Pensado para se estrear em Tondela, "Pranto de Maria Parda" estrear-se-á em Lisboa e fará depois digressões noutras localidades.
"Próxima Cena" é um projeto que, todos os anos, criará um espetáculo pensado para se estrear fora do D. Maria II, para "correr o país em zonas de baixa densidade populacional", onde "há uma maior escassez de oferta cultural e teatral", e que depois será apresentado ao público lisboeta e a escolas.
A ideia "é levar grandes textos" da literatura portuguesa a locais onde o D. Maria II "nunca esteve em 175 anos de existência", explicou, exemplificando com "Os Lusíadas" que, pela mão de António Fonseca, estarão na edição de 2022, assinalando os 450 anos da primeira edição do maior poema épico de língua portuguesa.
A chegada, pela primeira vez, de textos originais de criadores portugueses à sala Garrett é, segundo Tiago Rodrigues, "uma marca particular" nesta temporada, e, para si próprio, "uma grande alegria".
É o caso de "Juventude Inquieta", que o Teatro do Vestido e Joana Craveiro estrearão, em outubro.
"Porque, apesar de a sala principal daquele teatro ter "um lado simbólico a que não se consegue escapar", Tiago Rodrigues considera "mais interessante colocá-la ao serviço das aventuras" da programação.
A partir de "uma obra enorme" da literatura portuguesa contemporânea, "A cidade das flores" (1959), de Augusto Abelaira, a nova criação da companhia que tem direção artística de Joana Craveiro, estará em cena "como uma espécie de sublinhar" o "trabalho absolutamente de referência" que o coletivo tem desenvolvido nas últimas décadas de "continuar a interpelar a história recente" de Portugal, sustentou.
"O inesquecível professor", um texto, encenação e cenografia de Pedro Gil que dirigirá seis estagiários do D. Maria II, recém-licenciados da Escola Superior de Teatro e Cinema, num elenco onde está também Mário Coelho, vencedor da última edição do Prémio Revelação do D. Maria, a estrear em novembro, foi outra das peças que Tiago Rodrigues evidenciou.
Também o coletivo Aurora Negra se estreará na sala Garrett, em junho de 2022, com "Cosmos". Cleo Tavares, Isabel Zuaa e Nádia Yracema levam a peça à sala principal daquela instituição onde, também nesta temporada, voltarão a apresentar "Aurora Negra", com que venceram a 2.ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço e que estrearam na sala Estúdio.
Espetáculos que, para Tiago Rodrigues, reiteram a abertura que a sala Garrett tem mostrado "sempre" para a "diversidade e pluralidade" de públicos e a "pluralidade de temas e de artistas que os abordam".
"Não podem ser sempre os mesmos a contar as histórias" e, num teatro nacional, "tem de haver o cuidado, não apenas das histórias que se contam, mas à diversidade de quem as conta".
No que respeita a companhias portuguesas de referência que representarão no palco principal do teatro, o responsável pela direção artística destacou criações de O Bando e do Teatro Meridional, num regresso ao teatro após "sete ou oito anos" de ausência.
"Paraíso", "um espetáculo muitíssimo aguardado" de novo em coprodução com o D. Maria II, é a criação com que a companhia dirigida por João Brites encerra, em fevereiro de 2022, a trilogia em torno de "Divina Comédia", de Dante.
Um mês antes, o Meridional já terá apresentado "Ilhas". Integrado no projeto "Províncias" daquela companhia dirigida por Miguel Seabra e Natália Luiza, o projeto versa sobre os Açores e tem estreia em dezembro, no Teatro Micaelense, seguindo depois para Angra do Heroísmo.
"O silêncio e o medo", um texto e encenação do francês Davis Geselson baseado na vida da cantora Nina Simone, e "As bacantes", de Marlene Monteiro Freitas, são também espetáculos que Tiago Rodrigues realça na programação da nova temporada, por terem sido as únicas peças que o teatro tinha "nas entrelinhas da pandemia" sem ter conseguido apresentar até agora.
Tiago Rodrigues mencionou ainda a realização de um festival -- "Feminist futures" - direcionado para temáticas feministas, mas também com preocupações ecológicas, que chega a Lisboa depois de um festival "gémeo" em Amiens.
"Catarina e a beleza de matar fascistas", em julho de 2022, e "O cerejal", em dezembro, são duas criações de Tiago Rodrigues que também fazem parte da nova temporada.
No D. Maria II, "O cerejal" apresentar-se-á "numa versão de sala, com algumas alterações, que depois seguirá em digressão pela Europa".
Protagonizado por Isabelle Huppert, este espetáculo a partir da obra de Tchekhov, tem ainda interpretações de Isabel Abreu e de Helder Gonçalves e Manuela Azevedo, dos Clã, e abriu a edição deste ano do Festival de Avignon, do qual Tiago Rodrigues será o próximo diretor, sucedendo a Olivier Py.
Questionado pela Lusa sobre o que a chegada desta peça ao D. Maria representa para si - apesar de a apresentação em Lisboa estar já projetada quando da estreia em França -, Tiago Rodrigues respondeu: "Teve essa dimensão simbólica no Festival de Avignon" e "terá aqui, certamente, um sabor melancólico de despedida, mas, ao mesmo tempo, de celebração daquilo que foram os meus tempos" no teatro.
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