Rusesabagina, 67 anos, foi gerente do Hotel Thousand Hills, onde alojou mais de mil tutsis e hutus moderados, para os salvar dos hutus extremistas durante o genocídio de 1994, acontecimentos que inspiraram o filme "Hotel Ruanda", que lhe trouxe o reconhecimento mundial.
O antigo hoteleiro está a ser julgado pelo seu alegado apoio à Frente de Libertação Nacional (FLN), um grupo rebelde acusado de ataques em 2018 e 2019, que provocaram nove mortos no país da África Oriental, sendo alvo de várias acusações, incluindo a de terrorismo.
"Ele está a ser julgado por isso. Não tem nada a ver com o filme. Não tem nada a ver com seu estatuto de celebridade", disse o Presidente Paul Kagame numa entrevista à televisão nacional ruandesa.
Segundo o chefe de Estado, Paul Rusesabagina merece "ser julgado com justiça" e será "julgado da forma mais justa possível", estando agendada para dia 20 a leitura do veredicto.
Paul Kagame, no poder desde 1994, rejeitou ainda as alegações de que Kigali usou o `software´ de vigilância israelita Pegasus, depois de uma investigação da imprensa internacional ter revelado que mais de 3.500 ruandeses - incluindo a filha de Rusesabagina - estavam a ser espiados por este sistema.
"À questão de se saber se espiamos com esta ferramenta, a resposta é não", disse o Presidente ruandês, ao admitir que, como "qualquer outro país do mundo, o Ruanda recolhe informações" através de várias formas.
Rusesabagina, que recebeu a Medalha da Liberdade em 2005 atribuída pelos Estados Unidos, rejeita as acusações, alegando que está a ser vítima de um julgamento-espetáculo por motivos políticos, uma vez que é um oponente ao Presidente Kagame.
Negou sempre qualquer envolvimento nos ataques de 2018 e 2019, apesar de ser um dos fundadores do Movimento Ruandês pela Mudança Democrática (MRCD), grupo de oposição do qual a FLN é considerada o braço armado.
Vivia exilado desde 1996 nos Estados Unidos e na Bélgica, países dos quais adquiriu a nacionalidade, tendo sido preso em agosto de 2020 no Ruanda.
O genocídio no Ruanda teve início em 07 de abril de 1994, após o assassinato, no dia anterior, dos presidentes do país, Juvénal Habyarimana (hutu), e do Burundi, Cyprien Ntaryamira (hutu), quando o avião em que viajavam foi abatido sobre Kigali.
A violência resultou na morte de cerca de 800.000 tutsis e hutus moderados em cerca de 100 dias, um dos piores assassinatos étnicos da história recente.
Leia Também: Advogado belga do gestor que inspirou 'Hotel Ruanda' deportado do país