Essa sala de espetáculos do distrito de Aveiro revelou hoje a sua programação até dezembro e o cartaz também inclui uma exposição sobre os últimos 15 anos de atividade da casa, um espetáculo em que o crítico de cinema Mário Augusto comentará obras emblemáticas de bandas-sonoras interpretadas pela Orquestra Clássica de Espinho e ainda concertos do ciclo itinerante Misty Fest -- como o do trompetista britânico Matthew Halsall, o do pianista holandês JoepBeving e o da Nopo Orquestra, que junta Rão Kyao, como flautista, ao saxofonista norueguês Karl Seglem.
"Neste momento, as pessoas estão a precisar de olhar em frente, lembrando-se do que é a vida em comunidade e a fruição das artes. Há uma certa emergência em voltar a recuperar o tempo perdido e a cultura pode acelerar esse processo. Desempenha um papel fundamental, já que a cultura e as artes são, entre outras coisas, uma evasão", defende André Gomes, programador do auditório partilhado pela Academia e pela Escola Profissional de Música de Espinho.
Em declarações à Lusa, esse responsável admite "expectativa pelo fim das restrições [relativas à covid-19]" e espera que essas mudanças se concretizem até ao final do ano, mas realça que, apesar de quase dois anos de cortes na bilheteira, a programação de setembro a dezembro de 2021 aposta no nível de qualidade pré-pandemia.
"As escolhas são aquelas que tínhamos que fazer neste momento e não existem alterações -- estamos a assumir o peso da diminuição das receitas como um mal menor em prol de um bem maior. Os tempos assim o exigem", afirma.
O espetáculo de Cristina Branco com Mário Laginha envolve a Orquestra de Jazz de Espinho, para uma reinterpretação de música tradicional e da literatura que inspira a fadista, e o concerto do violoncelista, compositor e produtor argentino Sebastian Plano dará a conhecer obras dos discos "Verve", nomeado para um Grammy, e "Save me not", no qual André Gomes identifica "a busca pela pureza através da autossuficiência, num espaço de intimismo e beleza".
Já sobre Suso Sáiz, do cartaz específico do Misty Fest, o programador do Auditório de Espinho diz que tem merecido "rasgados elogios da imprensa especializada internacional" pela autoria de "música de recorte ambiental e 'new age' com pormenores tropicais e baleáricos". Adianta, aliás, que o artista "é um dos maiores tesouros da modernidade espanhola, um discreto gigante com uma discografia que se estende por quase quatro décadas e que nos últimos anos reencontrou lugar no presente graças à aliança com a editora de referência holandesa 'Music from Memory'".
Antes do final do ano, pelo mesmo palco passará igualmente um concerto em que a Orquestra Clássica de Espinho apresentará "uma obra do jovem Brahms e uma sinfonia madura de Schumann, escritas com pouco menos de 20 anos de diferença" e reveladoras dos talentos que ajudaram a estabelecer o cânone orquestral do século XIX.
Outra performance anunciada é a do Borealis Ensemble, em que Helena Marinho e António Carrilho irão explorar "Música Nova para Instrumentos Antigos", num contraste entre repertório histórico e criações contemporâneas, e seguir-se-ão quatro performances no âmbito do ciclo "Holograma", com que a Casa da Música do Porto desloca a sua programação até outras salas para envolver públicos sem práticas culturais numa fruição pedagógica de conteúdos eruditos.
"Slidin' Easy", por sua vez, dá título ao concerto em que a Orquestra de Jazz de Espinho voltará a estar em foco, então com a cantora austro-americana Sofija Knezevic e o trombonista britânico Elliot Mason. Ele destaca-se pela sua versatilidade, dado o à-vontade com que passa dos "projetos mais tradicionalistas do Jazz à improvisação com apuradas técnicas instrumentais, numa sofisticação de harmonia e criatividade ímpares"; ela foi apontada pelo New York Times como uma das vocalistas de jazz mais relevantes da atualidade, pelo seu "virtuosismo improvisacional e uma criatividade de tirar o fôlego".
A oferta do Auditório para 2021 completa-se com dois outros momentos: o concerto que comemora os 20 anos do duo constituído pelo violinista Nuno Soares e pelo pianista Youri Popov, e o espetáculo da cantora madrilena Travis Birds, que André Gomes descreve como "a nova obsessão coletiva dos que buscam música sem fronteiras, sem classificativos fáceis, visceral, autêntica e apaixonante".