Artistas lusófonos "bem recebidos" em feira de arte dedicada a África

Obras de artistas lusófonos como Malangatana, Shikani, Francisco Vidal, António Olé, José Chambel ou Reinata Sadimba estão presentes na feira AKAA, Also Known As Africa, que acolhe até hoje, em Paris, galerias dedicadas às diferentes faces da arte africana.

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Lusa
14/11/2021 11:44 ‧ 14/11/2021 por Lusa

Cultura

Paris

 

"A presença dos artistas lusófonos é sempre muito bem recebida. Eles estão presentes desde a nossa primeira edição. Estes artistas têm lugar em França, há cada vez mais um desejo de descoberta", afirmou Victoria Mann, fundadora da feira Also Known As Africa (AKAA), em declarações à agência Lusa.

Esta feira reúne até domingo no Carreau du Temple, no 3.º bairro de Paris, 40 galerias de arte que representam cerca de 140 artistas, entre eles mais de 20 de origem lusófona. Das galerias que decidiram marcar presença nesta sexta edição do evento, há quatro com cariz lusófono: a galeria Perve, a galeria Movart, a galeria This is not a White Cube e ainda a Krystel Ann Art.

Uma aposta importante destes galeristas que fazem face a um atraso no investimento no mundo das artes lusófonas, face aos universos francófono e anglófono.

"Começa a haver uma presença importante, mas há um espaço desigual. O espaço francófono e anglófono, desde há muito que do ponto de vista académico e político, existe uma agenda na promoção destes artistas e um investimento. No espaço lusófono, existe uma grande carência, o investimento é pouco e são as estruturas que vêm a este tipo e feiras que acabam por ir rasgando caminho", disse Graça Rodrigues, diretora artística da galeria This is not a White Cube, com espaços em Lisboa e Luanda.

Esta galeria trouxe até Paris obras da artista angolana radicada em Londres, Alida Rodrigues, do artistas angolano Luís Damião, que está atualmente em França a realizar uma residência artística, e Francisco Vidal, artista luso-angolano, que expõe obras da sua série sobre flores de algodão, incluindo uma instalação de pinturas sobre flores de algodão.

O desconhecimento dos artistas lusófonos é ainda um problema, mesmo para os artistas mais célebres, segundo Carlos Cabral Nunes, diretor artístico da galeria Perve.

"O problema da lusofonia e dos artistas de referência de língua portuguesa, com exceção do Brasil, é que, para nós são figuras conhecidas, mas internacionalmente são desconhecidos", indicou o curador.

Para a AKAA, a Perve escolheu três gerações de artistas lusófonos, com obras do artista angolano Malangatana e do artista moçambicano Shikani, mas também da artista moçambicana Reinata Sadimba e do artista cabo-verdiano Tchalé Figueira. 

A Perve organiza ainda a primeira retrospetiva internacional do fotógrafo são-tomense José Chambel, apresentando junto do seu acervo de mais de 30 anos, uma nova série de estúdio.

"A obra dele foi produzida ao longo dos últimos 30 anos e, agora, desenvolveu uma série chamada 'O Ministro', que é como uma conclusão e que toca uma série de temas. Desde logo são fotografias distintas, porque são fotografias de estúdio, encenadas. O ministro aparece com uma gravata, que é uma corrente, uma canga, e isso leva-nos a pensar na nova escravatura contemporânea, o aprisionamento dos povos em África por via desta figura do ministro ou o ministro ser também escravo de alguma coisa", explicou Carlos Cabral Nunes.

Esta exposição, numa área reservada da feira, foi acompanhada por uma performance do artista, que fotografou os visitantes presos pela canga, entregando as suas obras em formato físico ou digital, através de NFT, a moeda digital do mundo da arte.

Esta feira assinala ainda o regresso físico destas galerias ao contacto físico com os seus clientes, após um ano que, devido à pandemia, limitou o contacto com o estrangeiro. 

"O mercado francês é maior do que o mercado português e achamos que é importante dar a conhecer estes artistas em França. Adoramos Paris porque atualmente é um sítio com menos burocracias como Londres, devido ao Brexit, temos aqui muitos clientes e contactos. Para conhecer os nossos artistas, estas feiras são muito importantes", indicou Janire Bilbao, fundadora e diretora da Movart.

Até Paris, esta galeria trouxe obras do artista são-tomense Kwame Sousa, do artista moçambicano Mário Macilau, do artista angolano António Olé e ainda da artista angola Keyezua, com uma série de fotografias que representam as mulheres africanas, The Great Mamaaan.

Já a galeria Krystel Ann Art, sediada em Cascais, marcou presença na feira com Letícia Barreto, artista plástica e professora de arte brasileira que reside em Portugal.

A feira vai agora começar a abrir os seus horizontes não só a artistas africanos, mas todos os artistas com ligações a África, uma oportunidade para as diásporas lusófonas e para os artistas brasileiros também participarem nas próximas edições deste evento.

"Agora o que nos interessa não é a geografia do artista, é o seu laço ao continente, que pode ser construída de formas muito diferentes. Pode ser uma laço identitário e cultural, mas pode ser também um lugar de herança e memória", concluiu Victoria Mann.

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