'A LUAR e a Operação Diana' é o quarto de cinco livros com que o historiador pretende registar o papel do combatente pela liberdade e antifascista Hermínio da Palma Inácio, nomeadamente as ações que desenvolveu para "libertar Portugal do regime ditatorial de Salazar".
A quarta obra, que será lançada no sábado na Fundação Mário Soares e Maria Barroso, tem ainda o propósito de "honrar a memória do resistente e futuro jornalista Francisco Seruca Salgado", falecido em 2007, membro das denominadas "forças armadas" da Liga de Unidade e Ação Revolucionária (LUAR), e que teve um papel "nevrálgico" nesta Operação Diana.
Em entrevista à agência Lusa, Luís Vaz recordou que, em setembro de 1967, quando se deu esta operação -- que consistiu no confisco de armas do quartel de Évora por elementos da LUAR - Palma Inácio encontrava-se preso em França e aguardava a decisão de um tribunal de Paris sobre o pedido de extradição feito pelo governo português às autoridades francesas.
Antes, Palma Inácio participara em outras ações contra Salazar, nomeadamente o célebre desvio de um avião da TAP para a distribuição de 100.000 panfletos contra a ditadura, em 1961, e o assalto à dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz.
Luís Vaz explica que esta ação em Évora pretendeu ir mais além do que reunir armas, nomeadamente "sensibilizar os juízes franceses que iriam decidir sobre o pedido de extradição de Palma Inácio, sobre a causa da resistência dos portugueses contra a ditadura, mas ao mesmo tempo, afirmar perante a opinião pública, que a LUAR continuaria a resistir contra todos os muros de silêncio e ceticismo, afirmando a sua existência pela continuação da ação e, pela ação, uniria todos aqueles que desejavam participar na luta revolucionária que libertaria o povo português.
"A recusa da extradição constituiria uma pesada derrota política, nacional e internacional, para o regime salazarista que iria fazer jurisprudência, não só em França, como noutros países, para outros pedidos de extradição", disse.
Sobre o papel de Francisco Seruca Salgado, então aspirante miliciano no quartel de Évora, Luís Vaz disse que "fazia parte de um grupo de jovens de Faro que já tinham tido uma experiência política aquando da candidatura de Humberto Delgado a Presidente da República, em 1958.
No dia do golpe, encontrava-se a prestar serviço militar e de oficial de dia. Juntaram-se nesse dia e atuaram quando o quartel estava à responsabilidade do futuro jornalista.
Levaram as armas e deixaram o quartel, depois de escreverem nas paredes da unidade militar 'A LUAR vencerá'.
Para Luís Vaz, que conta ainda escrever um quinto livro sobre o papel do líder da LUAR na oposição da Salazar, "a sociedade nunca será justa com Palma Inácio porque os seus detratores continuam a recusar-se a encontrar luz, preferindo continuar a viver no mundo de trevas".
"As instituições políticas deveriam lembrá-lo como alguém que viveu parte da sua vida para assegurar a democracia no país", prosseguiu.
E arrisca fazer uma analogia os tempos anteriores à liberdade de Abril com a pandemia de covid-19: "Os portugueses têm resistido a um inimigo invisível, também perigoso. Não tem censura, mas limpa-nos da memória a lucidez para criar, não tem polícias que reprimem, mas tem repressão e isolamento, é antissocial, porque mata a beleza da amizade e questiona a relação humana".
"Trata-se de um inimigo cobarde, mas que tem a virtude de fazer ver às cidadãs e cidadãos a importância que foi o 25 de Abril, que derrubou a ditadura institucionalizando o regime democrático que, com todas as imperfeições, desenvolveu o país do atraso em que se encontrava, criando, nomeadamente, um Serviço Nacional de Saúde (SNS) que respondeu eficientemente à moléstia do tempo", disse.
O autor confessa que gostaria de ver a história de Palma Inácio, que faleceu em julho de 2009, ser objeto de um filme ou série televisiva. E garante que matéria não falta, a qual alimentou, para já, quatro livros, editados pela Âncora Editora.
A apresentação do livro estará a cargo de João Barroso Soares e do coronel Vasco Lourenço.
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