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Álbum sobre Saramago publicado amanhã. Guterres destaca ética do escritor

O secretário-geral da ONU, António Guterres, defende, no prefácio à obra 'Saramago. Os seus Nomes. Um Álbum Biográfico', que chega às livrarias na quinta-feira, a importância de "revisitar a consciência ética presente na obra" do escritor, porque "mantém acuidade".

Álbum sobre Saramago publicado amanhã. Guterres destaca ética do escritor
Notícias ao Minuto

16:21 - 13/04/22 por Nuno Lopes

Cultura Prefácio

O álbum, uma edição de Alejandro García Schnetzer e Ricardo Viel, é profusamente ilustrado com fotos do autor de 'Memorial do Convento', é apresentado como uma "autobiografia", na medida em que são utilizados textos de Saramago sobre diversos temas, de lugares a personalidades, leituras e citações.

Logo a abrir, a explicação do apelido pelo Nobel da Literatura: "O saramago é uma planta. Nos tempos da minha infância e antes, as pessoas da minha aldeia, em épocas de crises, comiam saramagos".

Na opinião do ex-primeiro-ministro português, "é importante continuar a revisitar a consciência ética presente na obra de José Saramago". "Essa consciência mantém, hoje, a sua acuidade, tanto na condenação da exclusão e das desigualdades como na importante mensagem sobre a necessidade de reivindicarmos o dever de defender e fazer cumprir os direitos que a todos e cada um são conferidos".

Guterres salienta que "o contributo de José Saramago [1922-2010] para a afirmação do valor universal da língua portuguesa perdurará muito para além do seu centenário" do nascimento, que se cumpre este ano, e aponta que a sua obra "continuará no futuro a questionar-nos a desinquietar-nos e a compelir-nos a tentar seguir aquilo que sempre logrou fazer com inigualável mestria: observar detalhadamente a realidade a partir de uma ampla mundividência".

Na introdução, Alejandro García Schnetzer e Ricardo Viel afirmam, por seu lado, que, neste álbum, procuraram "estabelecer um diálogo entre a voz de Saramago e um repertório fotográfico e documental amplo, expoente do tempo, da memória e dos espaços que lhe foram próprios".

Assim, dividiram a obra "em quatro secções inter-relacionadas", seguindo "uma cadência temática e temporal que não é estrita, semelhante à ideia que o autor tinha da História "onde tudo acontece simultaneamente, tudo o que aconteceu está a acontecer'".

O álbum inclui um míni autobiografia, na qual Saramago fala dos pais, da sua vinda, em 1924, da aldeia de Azinhaga, na margem esquerda do rio Almonda, para Lisboa.

Recorda que. no liceu que frequentou. foi tesoureiro da respetiva Associação Académica. Recorda igualmente o amigo que lhe comprava os livros escolares até poder ele adquirir os livros que entendia.

Saído do liceu, trabalhou como serralheiro mecânico, e casou-se, em 1944, com Ilda Reis. Entrou, entretanto, para a função pública, num "organismo de Segurança Social".

Em 1947, quando nasceu a sua única filha, Violante, Saramago publicou o seu primeiro livro que intitulou 'A Viúva', "mas que, por conveniências editoriais", saiu com o título 'Terra do Pecado'.

Tentou ainda dois outros romances, mas decidiu abandonar o projeto literário que retomou em 1966, quando publicou 'Os Poemas Possíveis'.

Tinha, entretanto, ficado desempregado, em 1949, "por motivos políticos" e foi trabalhar para uma empresa metalúrgica.

No final da década de 1950, trabalhava na editorial Estúdios Cor, recorda. Fez várias traduções, tendo ainda sido, por pouco tempo, crítico literário. Voltou a editar títulos seus no início da década de 1970.

Em 1970, divorciou-se de Ilda Reis e iniciou "uma relação de conveniência com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega", escreveu.

Trabalhou posteriormente no Diário de Lisboa, onde coordenou o Suplemento Cultural e foi editorialista. Em 1975 entrou como diretor-adjunto no Diário de Notícias.

Saramago retomou o trabalho literário em 1980 e, em 1998, recebeu o Nobel da Literatura, sendo até hoje o único escritor de Língua portuguesa distinguido pela Academia Sueca.

O álbum refere lugares, como a aldeia natal de Saramago, Azinhaga, no distrito de Santarém, e a zona do Chiado em Lisboa, a ilha espanhola de Lanzarote, onde viveu e morreu, Cuba, Brasil, Chiapas, Praga, Pisa ou Paris, entre outros.

Outra secção do álbum, "leituras/sentidos", inclui vários nomes, desde escritores -- Eça de Queirós, Aquilino Ribeiro, Mia Couto, Sophia de Mello Breyner Andresen, Federico García Lorca, Gonçalo M. Tavares, entre outros -, a cineastas, como Fellini, músicos, como Maria João Pires e Carlos Paredes, ou arquitetos, como Álvaro Siza, e artistas plásticos, como Amadeo de Sousa-Cardoso, ou bailarinos, como María Pagés, e personagens da banda desenhada, como Astérix e Mafalda.

Outra secção, "escritas/criações", inclui personagens suas, como Leonor, de "Terra do Pecado', a família Mau-Tempo, de 'Levantado do Chão', ou de outros autores, caso de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, e personalidades, como o ex-Presidente do Chile, Salvador Allende, o ex-primeiro-ministro português Vasco Gonçalves.

Nesta secção, também se encontram momentos, como quando recebeu o Nobel, em Estocolmo. Na sua opinião o Nobel devia ter sido atribuído em conjunto a si e ao brasileiro Jorge Amado.

Sobre esta distinção o autor de 'Cerco a Lisboa' escreveu: "Senti que através de mim a língua portuguesa falada em toda a lusofonia foi distinguida". O escritor confessou que, quando soube que tinha sido distinguido, sentiu "uma solidão agressiva".

Recordou igualmente pessoas que se cruzaram consigo, como o seu professor Varinho, que o ensinou na escola do Largo do Leão, em Lisboa, numa galeria de mais de 200 personalidades ou eventos.

Na página relativa a Pilar del Rio, companheira do escritor desde o final dos anos de 1980, sua viúva e presidente da Fundação José Saramago, figura a imagem do erro na agenda onde marcou o seu primeiro encontro: o nome 'Pilar de los Rios', por duas vezes emendado para 'Pilar del Rio'.

Sobre este álbum, os editores escrevem, citando Saramago: "Numa passagem do 'Ensaio sobre a Cegueira' lê-se: 'Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos'. Perguntado sobre o significado desta frase José Saramago respondeu: 'O que precisamos é de procurar dar um nome a essa coisa: talvez, simplesmente, lhe possamos chamar humanidade' Este livro convoca essa procura".

'Saramago. Os seus Nomes. Um Álbum Biográfico' foi publicado no final de março, em Espanha, e chega na quinta-feira ao mercado livreiro português.

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