A realizadora Arminda Deusdado afirmou que o documentário pretende "dar a conhecer a comunidade galega que fez uma coisa única, que é um património da humanidade".
Devido à escassez de mão de obra, o Douro dependeu, durante séculos, da atração de populações de regiões vizinhas para o trabalho nas vinhas. Muitos vieram da Galiza.
"Foi muito interessante conhecer estas histórias e perceber que há uma ligação muito forte no vinho do Porto com a Galiza (...). Toda uma dinâmica de pedreiros que fizeram esta paisagem com o 'know-how' que era pá e picareta, pés no chão e a dormirem nos cardanhos", adiantou a realizadora.
Os cardanhos destinavam-se ao alojamento dos trabalhadores temporários das quintas.
E foram muitos os galegos que se deslocaram para o Douro durante quase dois séculos, até ao início do século XX, para ajudar a construir os socalcos e os muros de xisto e a plantar as vinhas que caracterizam o território que há 20 anos foi classificado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO.
Depois da devastação causada pela filoxera nas vinhas, também as plantações de novas vinhas foram realizadas por galegos.
"Foram eles que fizeram isto, com mãos, com picaretas e pouco mais", frisou Arminda Deusdado.
A realizadora explicou que o documentário segue as histórias de quem "esteve cá, famílias que têm uma estrutura desde essa época e que construíram a paisagem".
"E depois fomos ver o que ainda resistia dessa época, desse tempo, e fomos à Galiza ver quem era, estes homens, como é que eles vieram para cá, eles passaram pelo Minho, vieram depois para o Douro, vinham a pé, vinham de barco e fomos ver qual era a parecença da paisagem entre o Douro e a Galiza. É idêntica, mas não tem a dimensão que tem esta, porque são hectares e hectares a perder de vista", referiu.
Nesta produção, galegos fazem reconstituições históricas do que era a vida nos cardanhos.
Depois da antestreia hoje, no Peso da Régua, distrito de Vila Real, o filme documental 'Galegos D'ouro' tem estreia marcada para quarta-feira, na RTP2.
Trata-se de uma coprodução da RTP e TV Galicia, com o apoio da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e que está inserida nas comemorações dos 20 anos do Alto Douro Vinhateiro (ADV) Património Mundial da UNESCO.
"O Douro é uma construção de muita gente, sobretudo dos durienses, mas de muita gente que aqui trabalhou, de muita gente que trabalhou de modo muito duro, muito forte na construção desta paisagem, que é natural, mas tem uma intervenção humana brutal" afirmou António Cunha, presidente da CCDR-N.
O responsável acrescentou que os vizinhos espanhóis tiveram em determinadas épocas, um "grande peso" nessa construção.
A antestreia aconteceu depois da conferência "Para que serve um sítio Património Mundial?", a primeira de um ciclo de conferências promovidas pela CCDR-N, incluídas nas comemorações do ADV e que hoje assinalou também as comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.
Para assinalar as duas décadas de património mundial, a CCDR-N lançou um programa de comemorações que inclui cerca de 100 iniciativas, começou a 14 de dezembro de 2021 e se prolonga durante um ano, até 14 de dezembro de 2022. Até ao final do ano realizar-se-ão sete conferências que abordarão temas como a demografia, alterações climáticas ou turismo sustentável.
"Comemorar é celebrar o percurso que foi feito, mas deve ser sobretudo projetar o futuro, planear o futuro para os próximos anos. Hoje temos ainda melhores condições para o planear face à experiência que temos destes 20 anos e à consolidação desta ideia", afirmou António Cunha.
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