Músicos afegãos apresentam-se hoje ao vivo no festival Iminente em Lisboa

O projeto Not Forbidden, que junta o músico português Rui Rebelo e músicos refugiados do Afeganistão, criado para que estes "consigam continuar aqui o que estavam a fazer lá", apresenta-se ao vivo hoje no festival Iminente, em Lisboa.

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25/09/2022 08:15 ‧ 25/09/2022 por Lusa

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Na génese deste projeto está a cooperativa cultural Largo Residências, de Lisboa, distinguida no ano passado com o prémio da Acesso Cultura na categoria de Acessibilidade Social.

Not Forbidden (não proibido, em português) é parte de um projeto maior daquela cooperativa: Residências Refúgio, em parceria com o Fórum Refúgio e a Fundação Aga Khan, "que se propõe acompanhar a inclusão de pessoas refugiadas através de mediação", explicou à agência Lusa Micaela Gomes, da Largo Residências.

"Da proximidade com as pessoas conseguimos conhecê-las melhor", disse Micaela Gomes, salientando que foi assim que perceberam que havia vários músicos entre os refugiados que acompanhavam.

Rui Rebelo, coordenador artístico de Not Forbidden, recordou que "o Afeganistão é o único sítio no mundo, neste momento, onde a música é proibida", e há em Portugal "dezenas de músicos refugiados que vieram de lá" e "estão aqui em condições que os refugiados estão, que são precárias e difíceis".

Depois de identificados alguns músicos afegãos, a equipa da Largo Residências, convidou Rui Rebelo para fazer uma "pequena residência" artística com eles, "podendo resultar ou não num concerto".

"O importante era o nosso convívio, a integração deles e perceber como é que esses músicos estavam cá. Foi 'super gratificante', porque começámos logo a tocar, começou logo a surgir música, começámos logo a comunicar, mesmo que verbalmente a comunicação não fosse fácil. Mesmo com intérprete, culturalmente as lógicas são diferentes, mas musicalmente havia sempre uma comunicação fantástica", contou à Lusa.

Em maio, Rui Rebelo e os músicos começaram a ensaiar, na Largo Residências, reunindo-se "mais ou menos uma vez por semana, para perceber o que saía dali".

"Houve músicos que vieram e não voltaram, outros vieram e ficaram, e fomos desenvolvendo terminologias de comunicação, fui tentando aprender com eles a música deles. E fizemos esta comunhão, destes dois universos, como a música é a linguagem universal e não precisa de verbo", partilhou.

No final de junho deram um concerto, inserido no "Bairro em Festa", iniciativa anual da Largo Residências, que "resultou muito bem e a Largo decidiu produzir isso em mais situações e eventos, surgindo depois o convite do Iminente".

Micaela contou que, com Not Forbidden, a ideia é "contribuir para a profissionalização deles [em Portugal] como músicos, cruzá-los com outros projetos, com outros músicos".

"O Rui tem aqui um papel muito importante, além de diretor artístico, porque acompanha musicalmente, disponibiliza o estúdio, os instrumentos. É importante o cruzamento com outros músicos, que depois os puxem para outros projetos, que eles consigam perceber onde podem gravar as músicas deles. O trabalho que estavam a fazer lá, conseguirem continuar aqui", disse.

Rui Rebelo considera "uma riqueza" para Portugal ter cá estes músicos, a grande maioria profissionais. E fala no projeto como "uma forma de eles não estarem marginalizados, porque senão é mesmo muito difícil". "Eles vivem com 150 euros por mês e uma cama", lamentou.

No concerto no Iminente, marcado para as 16:45 no palco Fábrica, vão atuar nove músicos (Rui Rebelo e oito refugiados afegãos), mas "há mais músicos envolvidos" no projeto.

"Estamos à espera de mais oportunidades para poder desenvolver isto, pagando qualquer coisa aos músicos, porque eles precisam mesmo. Estamos a tentar arranjar mais concertos e que eles conheçam outros músicos, que os possam solicitar para outros trabalhos", referiu Rui Rebelo.

Em palco há "uma junção de instrumentos e estilos musicais", embora os músicos vão apresentar ao Iminente "música tradicional afegã, como ela é tradicionalmente mas também na abertura que ela tem para receber outras coisas de fora".

"Depois há uma segunda parte do concerto que é mais de improvisação entre os músicos todos", adiantou.

Rui Rebelo salientou que, "apesar de serem instrumentos não europeus, são instrumentos musicais incríveis", que "têm uma musicalidade incrível e uma forma rítmica totalmente diferente e uma outra complexidade". "Nós só temos a aprender, e eles connosco. É sempre uma aprendizagem comum", disse.

Para que o projeto se desenvolva mais, é preciso que haja mais concertos que ajudem a suportar pelo menos as despesas de deslocação dos músicos para os ensaios.

"A ideia era podermos conseguir uma vez por semana um ensaio, mas para isso temos que ter dinheiro para lhes pagar a deslocação, eles vêm de Mem Martins, da Margem Sul, da Bobadela [para o centro de Lisboa], têm que trazer os instrumentos. A logística não é fácil, porque estamos a falar de pessoas que estão a viver com o mínimo dos mínimos. Todas estas despesas teriam que ser suportadas. Estamos a tentar perceber se conseguimos ter concertos que permitam pagar uma regularidade de ensaios. Estarmos uma vez por semana juntos seria o indicado", partilhou Rui Rebelo.

Quem estiver interessado em contratar este músicos pode "contactar a produção da Largo Residências", porque este é um projeto que "quanto mais concertos tiver, melhor se consegue sustentar esta atividade dos ensaios e dos encontros, a nível logístico".

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