Jornalista cria 'Louisville' sobre racismo e violência nos EUA

O jornalista Pedro Sousa Pereira edita este mês o álbum "Louisville", com o fotojornalista Mário Cruz e vários músicos portugueses, que é "um manifesto" sobre a arte na prevenção do crime, a partir da realidade social norte-americana.

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Lusa
17/11/2022 13:51 ‧ 17/11/2022 por Lusa

Cultura

Pedro Sousa Pereira

"O 'Louisville' está num campo que se pode chamar de um manifesto, um panfleto e uma tomada de posição, sobretudo contra o racismo e contra a violência gratuita, contra a posse de armas nas mãos de civis", explicou o jornalista em declarações à Lusa.

Com selo da editora Tradisom, "Louisville" consiste num vinil com nove temas de músicos portugueses, acompanhado de textos e ilustrações de Pedro Sousa Pereira e fotografias do fotojornalista Mário Cruz.

Este é um trabalho artístico que nasceu da circunstância de Pedro Sousa Pereira e Mário Cruz terem estado em 2020 a acompanhar, para a agência Lusa, as eleições presidenciais nos Estados Unidos, que deram a vitória a Joe Biden.

Ao longo de um mês, os dois jornalistas fizeram reportagens em várias cidades sobre aquelas eleições, disputadas entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, recolheram testemunhos de muitos civis, cidadãos anónimos, que ajudam a contar a história política e social daquele país, naquele momento.

"Qualquer jornalista que faz uma reportagem de fundo, e com características mais profundas, tem sempre vontade de deixar uma marca ou aprofundar esse próprio tema. E é o que se trata. O jornalismo é uma coisa e 'Louisville' é outra coisa", disse.

A partir dessa experiência jornalística, e do material recolhido, Pedro Sousa Pereira convidou vários músicos e projetos portugueses, amigos de longa, para criarem temas originais e Mário Cruz para reinventar, artisticamente, algumas das imagens captadas nos Estados Unidos.

"O que eu lhes pedi foi para usarem os áudios e os ruídos que trouxemos da América e comporem temas originais que pudessem ilustrar e fazer sobressair os temas que estão latentes ao disco. Sem música, na minha ideia, este trabalho não fazia sentido nenhum. A música dá-lhe vida", explicou.

O álbum apresenta temas de Guilherme Lucas, Lödo, Óscar Pinho, Francisco Cerqueira, Thee Magnets, QRN Radio, O Imundo Decôro e The Cristal Cabinet.

"Tal como eu interpretei com desenhos e os músicos interpretaram com sons, ele [Mário Cruz] tentou fazer vincar o que lhe passa pela alma face aos assuntos, que são assuntos extremos, como a morte por armas de fogo e a violência latente", referiu Pedro Sousa Pereira.

"Louisville", que tem na capa um retrato de um jovem afro-americano em tronco nu, remete para uma das cidades percorridas pelos dois jornalistas no final de 2020, "uma cidade marcante", onde nasceu o pugilista Cassius Clay (Muhammad Ali) e onde a jovem afro-americana Breonna Taylor morreu, em março daquele ano, alvejada por agentes policiais.

"O disco não é uma denúncia de que 'vejam as coisas más que existem', antes pelo contrário. Existem coisas más e as pessoas conseguem resolvê-las através do desporto ou da arte e isso é marcante", assinalou.

As receitas de vendas de "Louisville" revertem na íntegra para o projeto "Jail Guitar Doors", fundado nos Estados Unidos pelo músico Wayne Kramer, dos MC5, de integração social de reclusos norte-americanos pela música.

"Louisville" será apresentado no dia 26 no Passos Manuel, no Porto, no âmbito do festival Porto/Post/Doc, e em dezembro em Lisboa, no espaço Narrativa, dedicado à Fotografia e ao Fotojornalismo.

Leia Também: Protesto alerta para violência obstétrica e situações de racismo

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