Do "amor" por Offspring à missa de Franz Ferdinand... A 1.ª noite de SBSR
Arrancou a 27.ª edição do festival Super Bock Super Rock, no seu regresso ao Meco, depois de um hiato causado pela pandemia da Covid-19 e, em 2022, pelo risco de incêndio florestal.
© Francisco Cabrita / World Academy
Cultura Super Bock Super Rock
Mais uma semana, mais um festival de verão... desta feita, arrancou a 27.ª edição do festival Super Bock Super Rock, na Herdade do Cabeço da Flauta, no Meco.
Foi o regresso absoluto ao tradicional palco deste já histórico festival, que, em 2022, se viu obrigado a acontecer na zona do Parque das Nações, devido ao risco de incêndio nesta herdade da margem sul. Antes disso, viveu-se o hiato festivaleiro, pela mesma razão que pôs estas grandes festas de música, no verão, em pausa: a pandemia da Covid-19.
Offspring, Franz Ferdinand e The Legendary Tigerman ficaram encarregados de abrir o palco principal do festival, que fechou com um DJ set de James Murphy.
Offspring
Desde muito cedo começaram a avistar-se, pelos quatro cantos do festival, camisolas alusivas à banda mais aguardada da noite, dando (talvez) algumas pistas para o que se avizinhava mais pela noite dentro. Falamos dos norte-americanos Offspring, que mostraram, desde os primeiros acordes, que este era um "amor" e uma "paixão"... recíprocos.
A banda encabeçada por Dexter Holland foi capaz de reunir, em torno do Palco Super Bock, uma multidão mais robusta do que até então se tinha formado - fruto, também, do adiamento do concerto da irlandesa Róisín Murphy, no Palco Somersby, inicialmente também marcado para as 22h45.
Algo que levou, até, aquela tida como uma das bandas pioneiras do 'punk' rock internacional a dizer, em jeito de brincadeira, que a Herdade do Cabeço da Flauta tinha recebido, esta quinta-feira, um novo número "recorde" de visitantes. "1.378.004 pessoas estão aqui hoje", brincaram.
Durante pouco mais de uma hora de concerto, e sempre com 'prego a fundo' e com as sonoridades imponentes pelas quais são reconhecidos, houve tempo para entoarem alguns dos seus 'hits' mais populares - desde 'Pretty Fly (for a White Guy)', passando por 'Come Out and Play' e 'Self Esteem'-, e ainda para colocarem em destaque o seu mais recente álbum, 'Let the Bad Times Roll', lançado em 2021. Mas, também, para uma homenagem aos compatriotas Ramones, com uma reinterpretação da inconfundível 'Blitzkrieg Bop'.
Todos eles momentos que foram bem recebidos pelo público presente, composto por elementos das diferentes gerações e que levaram os cabeças de cartaz desta primeira noite de festival a reconhecer o "tipo de amor especial" que sentem por parte do público português. "É tão bom estar de volta a Portugal", acrescentaram, garantindo estar "deslumbrados" com a receção que tiveram - e com a coordenação que dizem ter notado entre as dezenas de milhares de "vozes" presentes no Meco.
Ao concerto dos norte-americanos seguiu-se o DJ set do produtor musical James Murphy, que fechou o programa previsto para o Palco Super Bock esta quinta-feira.
Franz Ferdinand
À medida que o sol se punha, e que as pessoas iam acabando o seu breve jantar, os escoceses Franz Ferdinand começavam aquele que seria um dos momentos altos da primeira noite do 27.º SBSR.
No público, havia quem estivesse mais preocupado com carregar as baterias do seu telemóvel ou a máquina do tabaco aquecido, mas à medida que a guitarra de Alex Kapranos se ia fazendo ouvir, as atenções iam-se virando para o palco principal, onde se empoleirava o quarteto que tinha já maravilhado o público português o ano passado, no Campo Pequeno. Ouviram-se 'The Dark of the Matinée' e 'No You Girls' para aquecer os motores, mas foi só em 'Do You Want To' que os presentes mais vibraram.
O 'frontman' dos escoceses, um homem nascido para liderar sobre os palcos, tal é a naturalidade com que o faz, saudou ainda Offspring, cabeças-de-cartaz deste dia, com quem disseram ser um "orgulho" partilhar o cartaz.
Há mais de 20 anos que os Franz Ferdinand fazem furor em palcos internacionais, principalmente com os primeiros dois singles da sua carreira, 'Darts of Pleasure' e 'Take me Out'. São, sem sombra de dúvida - e quem já os viu ao vivo sabe que assim é - os dois grandes 'hits' da banda, que perdeu o membro fundador Paul Thomson em 2021, mas que não parece ter perdido, ainda assim, a qualidade. Alex Kapranos é, aliás, o único membro fundador que se mantém na banda, diga-se de passagem.
No Meco, cantaram e encantaram, com uma energia invejável, uma juventude pouco comum para um Kapranos de 51 anos e a arte de captar um público que não hesitou em mover o corpo ao som dos seus temas mais conhecidos.
The Legendary Tigerman
A abrir o palco principal deste concerto em plena Natureza esteve Paulo Furtado, mais conhecido como The Legendary Tigerman, que trouxe consigo uma panóplia de convidados do mundo do Rock and Roll, nacional e internacional, para dar as habituais cartadas da sua já longa carreira.
O sol radiante que fazia ainda sobre a Herdade do Cabeço da Flauta não coincidia, propriamente, com o estilo 'rockeiro' e pesado de Furtado, que começou morno, trazendo a palco figuras como Sarah Rebecca, "vinda diretamente de Paris", Best Youth, Delilah Paz e os Sean Riley & The Slowriders.
"Isto está a começar devagarinho mas já... coiso. Vocês estão bonitos", ironizava Furtado, percebendo que o público parecia não estar a responder da forma pretendida à montra de convidados que foi trazendo a palco, e que poucas emoções levantavam em quem se ia juntando ao palco principal do SBSR, isto apesar da grande qualidade com que eram executados os diferentes temas musicais.
Para piorar a situação, com Sean Riley & The Slowriders em palco para o ajudar a cantar 'Bright Lights, Big City', um problema técnico deixou a banda desamparada em palco. "Se parece que estou a fazer conversa para encher chouriços, é porque estou mesmo. Vou ser honesto, grande m****, ninguém quer que isto aconteça, mas aconteceu."
Só quando se ouviram os primórdios de 'Fix of Rock n Roll' - do álbum 'Misfit', de 2017 - é que o público começou a aquecer, elevando o ritmo da dança conjunta com 'Motorcycle Boy e 'The Saddest Thing to Say'.
The Legendary Tigerman conta já largos anos de carreira e uma presença em palco imponente, com um estilo muito próprio, aprimorado no deserto de Joshua Tree, nos Estados Unidos, onde o menino se fez homem. No Meco, um ano após brilhar na estreia do festival Kalorama, em Lisboa, conseguiu elevar ânimos inicialmente apagados com 'These Boots are Made for Walking' - com a ajuda de Kate, dos Best Youth - e, para fechar, 'Twenty First Century Rock and Roll'.
Um olhar para fora do palco principal
Mas não foram apenas os artistas que subiram ao palco principal do Super Bock Super Rock que fizeram as delícias dos festivaleiros que, esta quinta-feira, se deslocaram ao Meco para mais uma noite de (boa) música.
No Palco LG, o destaque foi para a música portuguesa. O ‘punk’ rock dos Tara Perdida, uma das maiores bandas portuguesas do género, começava já a abrir as hostilidades para as centenas de festivaleiros que, a partir das 18 horas, começavam a reunir-se no recinto, já em espírito de muita animação (e de cerveja na mão). Até, porque, por essa altura, o calor ainda fazia sentir-se intensamente, constatação que foi até feita pela própria banda. "Está uma ganda brasa", afirmaram, antes de pedirem ao público por incentivo para dar o 'pontapé de saída' para esta que é já a 27.ª edição do festival.
Também David Santos - mais conhecido como Noiserv - subiu a este palco, já um pouco mais tarde, e 12 anos depois da sua estreia no Meco. O "homem-orquestra", como é também intitulado, teve a oportunidade de mostrar aos presentes alguns exemplares da sua 'arte instrumental'.
No Palco Pull&Bear, 070 Shake e Black Country, New Road abriram caminho para o espetáculo de Father John Misty - ícone do indie rock que, como é sabido, tem sido uma presença regular no nosso país, e que desta vez apresentou o álbum 'Chloë and the Next 20th Century'. Já ao Palco Somersby subiram Róisín Murphy, Lx-90 e 2ManyDjs.
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