Artistas mexicanos "não se metem muito em política"
Os artistas mexicanos "não se metem muito em política" e isso entristece Silvana Estrada, que atuou na primeira noite do Festival Músicas do Mundo (FFM), em Porto Covo.
© Mariano Regidor/Redferns
Cultura FMM
"O México não é um país onde os artistas sejam muito políticos", considera a artista de 26 anos, vencedora do Grammy Latino Revelação em 2022.
"Espero que isso mude", disse à Lusa, assumindo as "ganas" para que seja diferente, em entrevista antes do concerto de sábado à noite, num largo lotado de gente.
Silvana espera que os artistas se vão "envolvendo mais, formando opinião, tomando partido", seja ele qual for, porque o que é preciso é "aprender a discutir", num país onde "não existe a capacidade de discussão, respeitosa, ouvindo opiniões, dando contributos".
Até porque -- sublinha -- os artistas são "muito ouvidos" no México, país "amante da música" e onde "há muito amor e carinho pelas pessoas que cantam e compõem".
Para Silvana Estrada, a "luta" da sua geração é a violência de género "constante" contra as mulheres, a diversidade sexual, as identidades não reconhecidas.
"O grande mal da minha geração -- na verdade sempre foi assim -- é a violência de género. Esta é das coisas que, atualmente, está a assolar o meu país e é muito difícil, porque vai além das instituições, instaurou-se um pouco na forma de viver, da cultura mexicana", observa.
"A violência interiorizou-se de uma forma difícil de combater", frisa, concordando que a nova geração é "mais progressista", mas falta-lhe empenho político.
"O México está a passar por um momento super interessante", reconhece, assinalando que persistem "muitas coisas a melhorar".
Silvana Estrada já passou por Portugal, mas esta foi a primeira vez que veio acompanhada pelos seus músicos.
A artista confessou que sempre quis tocar no FMM, por ser um festival "aberto, com muita música, de muitos lugares" e "sem um género pelo meio, como um festival de rock, um festival de reggaeton, um festival de folk... é um pouco de tudo, porque o mundo é isso".
O conceito de músicas do mundo -- realça -- é "muito amplo" e, para ela, "é música com raiz, que se identifica e tem como intenção retomar a cultura, mas sem ter de ser um folclore supre específico, de um país em específico".
A diversidade cabe toda na Cidade do México, onde vive, mas de onde não retira a calma e o silêncio de que precisa, mas a inspiração dos "muito artistas" que por lá passam, nomeadamente mulheres cantautoras, desde Bj?rk a Regina Spektor, passando por Susana Baca.
Silvana sofreu muito durante a pandemia, mas desenvolveu depois "um amor muito forte pela solidão", tendo aprendido "a desfrutar" de estar sozinha -- o que não é fácil numa megalópole com quase nove milhões de habitantes.
As canções mais recentes, que escreveu durante a pandemia, nasceram da solidão como "um lugar luminoso", porque "a solidão sempre se vê a partir da tristeza, da melancolia", quando, afinal pode ser um lugar "lindo e esperançoso".
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