É muito simples descrever a história dos Arcade Fire em Portugal, uma história que foi contada esta sexta-feira ao longo de praticamente hora e meia no sábado à noite: um épico conto de fadas. Os Arcade Fire podem vir quase todos os anos, que não deixamos de nos encantar, de nos deixar levar pelas emoções do ‘indie rock’ mais significativo da última década e meia. Mesmo quando nos vemos cansados, ao fim de três dias de música, eis que os canadianos nos gritam: ‘Wake Up’. E nós fielmente obedecemos e cantamos, em coro, juntos e nostálgicos.
Quando a cortina fechou e o público do Kalorama partiu para outras andanças, ficamos certos que vimos um dos melhores concertos de todo o festival (não dizemos o melhor, pois muitos certamente apontarão para Florence + The Machine, justificadamente), e também um dos mais fantásticos e bem conseguidos espetáculos ao vivo de toda a época de festivais de verão. A relação de carinho e de fraternidade entre os portugueses e estes canadianos é reconhecida por Win Butler, o carismático (e, convém admitir, controverso).
“Desde que viemos pela primeira vez, dizemos a todas as bandas para virem tocar a Portugal. Vocês são o melhor público”. Pela voz de qualquer outro artista, aplaudimos, embora nos inclinemos logo para o lado para responder: “Ele diz isto a todos”. Mas para quem ainda recorda, ainda sonha e faz referência àquele histórico concerto em 2005 nas margens do Rio Coura, ao final da tarde, e todos os grandes concertos que daí se seguiram, sabe que as palavras saem mais genuínas.
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Win Butler, dos Arcade Fire© Hélio Carvalho/Notícias ao Minuto
O último espetáculo no palco Kalorama deste ano foi uma viagem por temas mais conhecidos da banda, como os mais antigos ‘Neighborhood #1 (Tunnels)’, ‘The Suburbs’, ou os mais recentes ‘Reflektor’, ‘Creature Comfort’ e a festa colorida de ‘Everything Now’, do álbum homónimo. Houve também espaço para músicas do trabalho mais recente, ‘WE’, como ‘The Lightning’, ‘Unconditional I (Lookout Kid)’ e ‘Age of Anxiety II (Rabbit Hole)’.
A despedida foi com a eterna ‘Wake Up’, o hino dos Arcade Fire, um hino do ‘indie rock’ deste século, uma experiência inesquecível para quem acompanha música ao vivo. O pó de três dias de música abateu, e finalmente viramo-nos de costas para o palco, de sorriso aberto e coração cheio.
Mas a festa não acabou por aqui. Ainda faltava perdemos a cabeça com Pabllo Vittar.
Não foram poucos os que ignoraram todo o festival só para estar na fila da frente para ver a ‘drag queen’ mais famosa do mundo (quem o diz é a Forbes, e não seremos nós a discordar). Quando acabou Arcade Fire, a casa ficou rapidamente cheia para assistir ao final de um festival com chave de ouro, com uma grande festa.
Pabllo Vittar© Hélio Carvalho/Notícias ao Minuto
Rodeada de bailarinos, Pabllo Vittar, nascida Phabullo Rodrigues da Silva, transformou o palco San Miguel numa positiva pista de dança, num espaço para todos dançarem sem preconceitos, para a comunidade queer simplesmente existir, divertida e bonita. O ‘playback’ exagerado (e por vezes mal feito) é bem desculpado, quando o espetáculo é tão bonito e deixa tanta gente feliz.
Foals apagam a luz com valente dose de rock e Dino D'Santiago abre-nos a porta de casa
Apesar do final do dia, muitos dirão porém que o melhor espetáculo que viram foi Foals. Aproveitando o pôr do sol, os Foals deixaram que a luz natural se apagasse, passando de um passagem por Lisboa agradável e interessante (embora já os tenhamos visto tantas vezes nos últimos anos), a uma grande ‘rockalhada’ que deu uma dose de adrenalina ao público para o resto do festival.
O palco secundário teve de longe o seu melhor dia pois, antes de Pabllo Vittar, houve ainda, os lendários The Hives e Dino D'Santiago. Liderados pelo imprevisível Randy Fitzsimmons - que, quando não atirava o microfone ao ar, tentava falar no português terrivelmente cómico - os suecos fizeram-nos saltar de cabeça para uma máquina do tempo, para a longínqua era em que a MTV era o único sítio onde conhecíamos novas bandas e onde assistimos, colados ao ecrã, ao videoclip de ‘Walk Idiot Walk’ e ‘Tick Tick Boom’.
Dino D'Santiago© Hélio Carvalho/Notícias ao Minuto
Finalmente, Dino D’Santiago cantou praticamente em casa, na "sua Lisboa", emocionado, naquele belo e inquieto crioulo que Dino representa tão bem e que usa para promover uma mensagem tão bonita e solidária. Pelo meio houve também a sua interpretação de 'Os Putos', de Carlos do Carmo, que criou uma das imagens mais fortes do Festival da Canção há uns anos.
O MEO Kalorama volta em 2024, com a terceira edição do festival a ficar marcada para os dias 29, 30 e 31 de agosto do próximo ano.
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