"Maioria dos meus fãs esteve destroçada e encontrou casa na minha música"

O músico britânico James Arthur é o convidado desta terça-feira do Vozes ao Minuto.

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© James Arthur

Daniela Filipe
03/10/2023 09:30 ‧ 03/10/2023 por Daniela Filipe

Cultura

James Arthur

Venceu o The X Factor em 2012 e, apesar de a viagem não ter sido fácil, está prestes a lançar o seu quinto álbum. Falamos de James Arthur, o vozeirão por detrás de temas como 'Say You Won't Let Go', 'Naked', e até mesmo 'Impossible', originalmente da cantora e compositora Shontelle.

O artista britânico, de 35 anos, esteve em solo português, onde marcou presença na gala dos Globos de Ouro, que decorreu no passado domingo, quase como um prefácio do que está para vir quando subir ao palco do Festival Authentica, no Altice Forum Braga, a 9 de dezembro.

Antes, o Notícias ao Minuto teve a oportunidade de se sentar à conversa com o fenómeno internacional, conhecido pela abertura no que toca à sua batalha com a saúde mental ao longo dos anos – o que o levou, inclusivamente, a explorar o tema no documentário 'James Arthur: Out of Our Minds', lançado pela BBC Three, em 2022.

A saúde mental é, também, um dos fios condutores da obra do compositor que, a 26 de janeiro de 2024, apresentará o álbum 'Bitter Sweet Love'. Nas palavras de James Arthur, o amor é, neste trabalho, um "fio de esperança", ainda que "os diferentes tons" – incluindo a dor – também façam parte.

Faço música para toda a gente, mas acho que uma grande parte dos meus fãs são pessoas que já estiveram destroçadas de alguma forma, e que encontraram uma casa em algumas das minhas canções

No ‘trailer’ do seu novo álbum ‘Bitter Sweet Love’, mencionou que tudo o que já criou teve origem em dor. Este trabalho é sobre essa dor, ou é uma mudança para o amor?

É ambas as coisas. Acho que o amor traz um certo nível de dor. Este álbum acabou por ser quase um álbum para corações partidos, que tem canções de amor e de desgosto. Todos os diferentes tons do amor estão neste álbum. Nunca planeei que assim fosse mas, quando comecei a escrever para o novo projeto, acho que quis voltar à faceta do cantor-compositor, e fazer as canções cruas e emocionais com as quais as pessoas se relacionam muito. O desgosto é algo que me chega naturalmente. Acho que a diferença com este álbum é que estava a gerir-me pelo amor como fio de esperança.

Tem abordado bastante a saúde mental ao longo da sua carreira, principalmente entre homens jovens; também trata essa questão neste álbum?

Sim, acho que uso sempre a minha experiência na saúde mental; é algo a que consigo aceder naturalmente. Para ser honesto, acho que toda a minha identidade enquanto artista foi construída no facto de ser alguém que veio de um lar desfeito. Faço música para toda a gente, mas acho que uma grande parte dos meus fãs são pessoas que já estiveram destroçadas de alguma forma, e que encontraram uma casa em algumas das minhas canções. Sinto que essa é a minha marca e adoro servir os interesses do meu público.

Quando penso no amor agora, e quando preciso de encontrar esse sentimento ao cantar sobre o amor, tenho a minha filha na minha mente e no meu coração

Foi pai há relativamente pouco tempo; há algum tema dedicado à sua filha neste novo trabalho?

Escrevi uma canção chamada ‘Heartbeat’, que não está no álbum, mas que poderá vir a fazer parte de uma edição deluxe. Não escrevi uma canção diretamente sobre a minha filha neste álbum, porque já escrevi algumas especificamente para ela. Mas, quando penso no amor agora, e quando preciso de encontrar esse sentimento ao cantar sobre o amor, tenho a minha filha na minha mente e no meu coração. Ela é, definitivamente, uma inspiração para tudo o que faço agora.

Sendo assim, qual foi a música que gostou mais de escrever para ‘Bitter Sweet Love’?

A canção que mais gostei de escrever foi ‘Sleepwalking’, porque acho que foi uma das primeiras ideias em que comecei a trabalhar na guitarra e, claro, a cantar. Há uma parte que estava a cantar – era antes do refrão, nem sequer era o gancho ou um verso – que estava sempre a repetir e fez-me sentir muito bem. Senti-me novamente o rapaz que começou por querer fazer música. Por isso, pensei, ‘vou seguir este sentimento, e compor uma canção à volta desta parte’. ‘Sleepwalking’ é como uma versão antiga de mim, que é muito autêntica. É a minha canção preferida.

Voltará a Portugal em dezembro; é diferente atuar aqui e atuar no Reino Unido, por exemplo?

Acho que depende. Muitos dos espetáculos que fiz em Portugal foram em festivais, e não necessariamente só com os meus fãs. Claro que o público de festivais está ali para passar um bom bocado, e já reparei que, quando estou a tocar uma balada, a não ser que me conheça, tenho de trabalhar um bocadinho mais para o envolver. Mas, no geral, as minhas experiências em Portugal têm sido fantásticas, principalmente nos meus próprios espetáculos. Por isso, espero que muitos dos meus fãs vão ao Festival Authentica.

Agora, estou mais velho e mais sábio, e sei exatamente quem sou. Portanto, a música é muito mais refinada

Cresceu bastante em termos profissionais e pessoais desde o The X Factor. Passados 11 anos, como é que se define enquanto artista? A música é algo de que precisa para funcionar, ou é, agora, apenas um trabalho?

Acho que é ambos. Penso que a música é sempre a melhor forma de terapia para mim, por mais cliché que possa soar – aposto que já ouviu isto de muitos artistas. Mas acho que sou o mesmo artista que sempre fui. Tal como disse, penso que a música que faço serve para auxiliar as pessoas a sentir alguma coisa, para chorar, talvez, ou para as ajudar a ultrapassar uma fase difícil. A diferença é que, agora, estou mais velho e mais sábio, e sei exatamente quem sou. Portanto, a música é muito mais refinada, diria.

Tenho controlo, tenho experiência, não faço concessões na minha visão artística, e talvez o tenha feito no passado. Por isso, a arte está muito mais aperfeiçoada, na minha opinião. Desde o The X Factor, tenho tido tantos altos e baixos; tem sido de loucos. Já o tive e já o perdi tantas vezes que, agora, sinto-me apenas agradecido por ter uma legião de fãs que continua a apoiar-me, e só quero corresponder às expectativas de quem acredita em mim.

Já vi canções minhas tornarem-se parte da banda sonora da vida das pessoas e a terem um grande significado para elas – quero mais disso. Quero continuar a compor essas canções que são a banda sonora da vida das pessoas

Além da saúde mental, também tem sido muito aberto quanto às dificuldades que sentiu depois do The X Factor; como é que lida com a pressão da fama atualmente?

A pressão que sinto nunca é de ninguém mais do que de mim próprio. Eu coloco essa pressão em mim mesmo. Provavelmente, poderia ficar sentado em casa a olhar para os números do passado e ficar feliz com isso; de certeza que há pessoas por aí que o fariam.

Mas sinto que o meu propósito é fazer música e continuar a tentar ser melhor, pelo que meto muita pressão em mim mesmo. Já vi canções minhas tornarem-se parte da banda sonora da vida das pessoas e a terem um grande significado para elas – quero mais disso. Quero continuar a compor essas canções que são a banda sonora da vida das pessoas. Para isso, tenho de continuar a trabalhar arduamente. Até ter algumas dessas músicas, acho que não relaxarei.

Leia Também: "Compus uma música de gratidão ao meu dador, custa-me imenso cantá-la"

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