Segundo Ico Costa, a queixa-crime foi apresentada contra desconhecidos, "por difamação agravada e por falsidade de identidade digital".
Na segunda-feira foi divulgada, através da rede social Instagram, uma carta aberta assinada por uma alegada vítima de violência durante um relacionamento com o realizador Ico Costa, há cerca de quatro anos.
Na denúncia pública, a mulher faz referências a agressões verbais, físicas e psicológicas, "estratégias de intimidação, de chantagem emocional e de vitimização" por parte de Ico Costa, descrito como um "abusador em série" e com um "historial de agressões machistas".
A mulher, de 28 anos, diz ter conhecimento de "pelo menos [outras] seis vítimas" e que as agressões aconteceram "pelo menos ao longo de dez anos".
No seu caso, diz ainda que tentou apresentar, mas não chegou a concretizar, uma queixa-crime contra o realizador: "A própria polícia só me levantou dificuldades, argumentando que não o ia conseguir levar avante por já não apresentar sinais visíveis de agressão física".
Na terça-feira, em declarações à Lusa, o realizador descredibilizou os relatos, dizendo que a denúncia é falsa e que desconhece quem são as alegadas vítimas.
"É uma denúncia falsa, feita por parte de uma pessoa que nunca conheci. Essa pessoa não existe. [...] Sou contra qualquer tipo de cancelamento e as vítimas têm que existir e neste momento não existem", disse o realizador.
Num 'email' enviado à agência Lusa, a denunciante disse que tem receio de se expor além do que já disse na carta pública.
"Dizer-se, como tenho lido, que estou a usar um pseudónimo faz parte de uma estratégia instituída no pensamento mais profundo da cultura portuguesa, que é a desacreditação da vítima, o apagar do rosto e da impressão digital de uma pessoa que não se consegue fazer ver por mais exposta que se coloque. Se falamos por 'email', é porque não existimos e somos um pseudónimo. Se damos a cara é porque temos cara de quem gosta de apanhar", afirmou.
Em comunicado divulgado hoje, o realizador afirma que condena "visceralmente a violência doméstica" e que já teve "uma relação de longo prazo pautada por amizade e amor, mas que também teve, muito lamentavelmente, momentos de conflito e toxicidade; assunto esse que foi resolvido entre as partes há mais de dez anos".
Na sequência da denúncia partilhada nas redes sociais, o festival de cinema IndieLisboa, previsto para maio, decidiu retirar da programação o filme "Balane 3", de Ico Costa, e um outro projeto que o realizador produz, ainda por concluir.
"A situação exige integridade e responsabilidade social, princípios que regem o nosso código de conduta. Somos profundamente sensíveis a denúncias de violência e temos consciência de que o contexto social e legal da violência de género é, muitas vezes, revitimizante na forma como trata quem denuncia", escreveu a direção do IndieLisboa, em comunicado na terça-feira.
Embora este caso diga respeito a uma denúncia de alegada violência doméstica, a produtora de cinema Terratreme Filmes, que trabalhou com Ico Costa em vários filmes, afirmou, em nota de imprensa, que nunca recebeu "quaisquer queixas de maus tratos, no modo de violência física ou psicológica" em relação ao realizador.
Contactada hoje pela Lusa, a associação MUTIM - Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento confirmou que recebeu a carta aberta da denúncia numa mensagem por correio eletrónico, endereçada ao festival dinamarquês de documentário CPH:DOX, onde o filme "Balane 3" foi exibido em março.
"O pedido lançado por este 'email' apelava a que outras vítimas se apresentassem e a que os festivais de cinema deixassem de programar os filmes de Ico Costa", explicou Mariana Liz, da direção da MUTIM.
A associação refuta a informação de que estaria a organizar "um encontro de alegadas vítimas do realizador em questão" e adiantou que não recebeu outras denúncias em relação a este caso.
Mariana Liz explicou ainda que a MUTIM já tem recebido "partilhas que, não identificando agressores, relatam situações de violência, assédio e abuso" e que, por falta de meios, direciona essas denúncias "para os canais oficiais".
"A MUTIM não prevê neste momento acionar nenhum mecanismo em relação a este caso, nem considera que tal lhe tenha sido solicitado", ressalvou.
Leia Também: APR convoca "reunião extraordinária" sobre caso de "sócio" Ico Costa