O evento, organizado pelo SOS Racismo, tem como tema central 'Memória contra o colonialismo -- do silêncio à reparação', com vários filmes a refletirem o passado colonial português, no seu legado de violência, e as lutas de libertação dos países das ex-colónias.
"É com bastante alegria, e às vezes algum espanto, termos sido capazes de, por um lado, já ter feito 10 edições e, por outro, perceber que existe um público que todos os anos vai [ver os filmes]. É uma iniciativa que todos os anos enche salas e desperta a curiosidade de pessoas, não só de ativistas", destaca à Lusa Joana Alves dos Santos, da organização.
A mudança "boa" para o Cinema Batalha, que já estava planeada para 2022, permite albergar numa mesma casa todas as sessões, de entrada gratuita, e fazer coincidir esta reflexão sobre racismo com os 50 anos do 25 de Abril de 1974, "que não é só a democracia portuguesa mas também as lutas de libertação" e como também nesses países africanos se "contribuiu para a democracia portuguesa".
"Não só conhecemos pouco a realidade da guerra como o contributo de pensadores e ativistas africanos para a democracia. (...) A diversidade na sociedade portuguesa, ou como ela é muitas vezes menosprezada, faz parte desse processo. [Queremos] tornar visíveis alguns contributos de fora do modelo português e branco. Já vai haver suficientes celebrações com outros enfoques, este é o nosso", define Joana Alves dos Santos.
Entre os destaques dos filmes programados, nota para a sessão de abertura, pelas 21:15 de sexta-feira, com dois filmes de Sarah Maldoror (1929-2020), a 'curta' 'Monangambé' e a 'longa' 'Sambizanga', ambos casos ligados à luta anticolonial angolana.
"Já há muitos anos que andamos atrás destes filmes. Ainda não tinha sido possível. Foi interessante, porque aconteceu agora, que preparamos e trabalhamos numa celebração do 25 de Abril. (...) Conseguimos cruzar isso, também, com a exposição 'Resistência Visual Generalizada', que completa a informação do que foram esses movimentos", acrescenta Joana Alves dos Santos.
"[A exposição] Reflete a publicação de livros de fotografia por fotógrafos internacionalistas e pelos próprios movimentos de libertação, entre os anos 1960 e 1980, no contexto da luta anti-colonial em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Essas publicações raras documentam os processos de descolonização desde o início da luta armada até aos primeiros anos de independência", pode ler-se na apresentação do festival.
A programação inclui ainda obras como 'Nayola', de José Miguel Ribeiro, dedicada ao público mais jovem, mas também 'Mueda, Memória e Massacre', de Ruy Guerra, a apresentar no sábado, e 'Daughter of the dust', da norte-americana Julie Dash, ainda na sexta-feira.
A jornalista e ativista Diana Andringa conta com dois filmes em exibição: 'Tarrafal -- Memórias do campo da morte lenta' (2010), no sábado pelas 17:15, e 'Guiné-Bissau: Da memória ao futuro' (2019), no domingo à mesma hora.
A publicação dedicada, Caderno MICAR, conta ainda com uma entrevista com a jornalista e realizadora, assim como outros textos de pensadores e ativistas, numa 10.ª edição que fecha com 'Prism', de Na Van Dienderen, Éléonore Yaméogo e Rosine Mbakam.
Produzido em 2021, "é um filme sobre filmes, e sobre como a representação fotográfica e cinematográfica também tem este viés racista", encerrando a MICAR "com uma reflexão sobre o próprio cinema".
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