Carlos Avilez. O amigo que fez sempre a ponte entre o velho e o novo
O encenador João Mota lamentou hoje a morte do amigo Carlos Avilez, que conheceu quando começou a trabalhar no Teatro Nacional D. Maria II, no início da carreira, e que "conseguiu sempre fazer a ponte entre o velho e o novo".
© Facebook / Carlos Avilez
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"O Carlos Avilez para mim é mais que um colega, é um amigo, é o amigo Carlos", frisou o diretor do Teatro da Comuna, recordando que tinha 15 anos quando conheceu Carlos Avilez, com quem partilhou camarim no D. Maria II, na então companhia Rey Colaço-Robles Monteiro.
Recordando o percurso profissional de Carlos Avilez, que morreu hoje em Cascais, aos 88 anos, João Mota afirmou que conseguiu "sempre fazer a ponte entre o velho e o novo". "Todos passámos por lá, todos trabalhámos com ele", observou.
Lembrou ainda que Carlos Avilez foi seu professor de Matemática, nos anos de 1950. "Tinha uma escola, porque era preciso ganhar dinheiro por fora". Por isso criou também uma companhia designada por Sociedade Artística, na viragem para a década de 1960, para fazer digressões com os artistas do D. Maria II, que durante os meses de julho e agosto, quando o Nacional fechava portas, não recebiam salários.
"A companhia era ele, diretor e encenador da companhia; era eu, com 20, 21 anos, o José de Castro, o João Vasco, a Lígia Teles, o Luís Filipe... E íamos de terra em terra. Era um mês, mês e meio em grandes 'tournées'", recordou hoje João Mota.
Após sair da companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, Carlos Avilez "fez uma aventura na Guilherme Cossul", prosegiu o fundador da Comuna - Teatro de Pesquisa. Foi "uma coisa nova, de que alguns não gostaram, mas de que eu gostei muito".
E depois criou o Teatro Experimental de Cascais, "em que continuou a ser um inovador".
Não é por acaso que se chama experimental "porque ele experimentava mesmo", frisou.
Também "não é por acaso que passaram por lá a Maria do Céu Guerra, o Mário Viegas, o Carlos Paulo, o La Féria, o Santos Manuel, a Eunice Muñoz, a Amélia Rey Colaço, a Mirita Casimiro, a Carmen Dolores, a Alexandre Lencastre, a Lia Gama até o próprio Ruy de Carvalho, agora há pouco tempo", referiu João Mota sobre a companhia fundada por Carlos Avilez há mais de 50 anos.
Trabalhar com Carlos Avilez "deu essa grande amizade, fui sempre amigo do Carlos", prosseguiu o encenador, lamentando que, com o tempo, "as pessoas vão esquecendo", porque têm "memória curta", numa referência ao papel de Avilez, porque o "teatro é tão efémero quanto a vida".
Apesar de saber que Carlos Avilez tinha problemas cardíacos, não esperava a notícia que recebeu hoje e que é sempre "muito triste".
Carlos Vitor Machado, conhecido por Carlos Avilez, nasceu em 1935 e estreou-se profissionalmente como ator em 1956, na Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, onde permaneceu até 1963.
Dois anos depois, em 1965, fundou o Teatro Experimental de Cascais.
Com uma vida dedicada ao teatro, estreou no sábado a sua última encenação: "Electra", a partir da trilogia "Electra e os fantasmas", de Eugene O'Neill, que ficará em cena na Academia Artes do Estoril, no Monte Estoril, Cascais, até 17 de dezembro.
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