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Músico Jonas quer recuperar tradição oitocentista do fado batido

O músico e coreógrafo Jonas pretende recuperar a tradição oitocentista do fado batido e edita no próximo ano um álbum, intitulado "Maçã de Adão", que visa dar continuidade ao projeto "Bate Fado", desenvolvido com Patrick Lander.

Músico Jonas quer recuperar tradição oitocentista do fado batido
Notícias ao Minuto

14:51 - 05/12/23 por Lusa

Cultura Música

Em declarações à agência Lusa, Jonas afirmou o seu ensejo de resgatar o fado batido, que foi praticado em Portugal no século XIX, e que consistia em ritmicamente seguir o compasso da melodia fadista, batendo um dos pés ou os dois ao mesmo tempo, possivelmente com uma coreografia.

"Nós enquanto país temos esta história misteriosa que o fado teve uma dança, como o flamenco tem, o samba, o kuduro ou o funk, todas as músicas urbanas têm uma dança, à exceção do fado, que misteriosamente desapareceu, ninguém sabe muito bem porquê, não há muitos estudos sobre isto", disse Jonas reivindicando o seu "pioneirismo", já que "Bate Fado" foi o primeiro projeto que reacendeu "o ato de bater o fado".

"O fado perdeu a dança e a percussão, ficaram só as guitarras e a voz", declarou, referindo que "o fado de 1800 era muito mais aguerrido, muito mais festivo, com padrões".

O coreógrafo realçou: "Essa coisa do preto e muito estático é uma coisa mais recente".

Para Jonas "deixou de fazer sentido fazer fado sem o fado batido", que passou a ser a sua "missão".

O álbum "Maçã de Adão" é editado na sequência de "São Jorge" (2021), o seu primeiro álbum em nome próprio.

Referindo-se a "Maçã de Adão", Jonas afirmou à Lusa que é "um projeto muito pessoal, intimista e biográfico", pois é ele o autor das letras, havendo apenas "dois ou três fados tradicionais".

"O 'Maçã de Adão' tem uma coisa muito diferente do 'S. Jorge', pois é um álbum que convida à dança, através das influências, que eu como fadista acho que o fado tem dentro, que são latino-americanas, afro-brasileiras, ibéricas, árabes, e tudo isto neste álbum é mais exposto", disse.

"Quando comecei a fazer o álbum, não era tão urgente, mas depois comecei a perceber que a multiculturalidade que existe em Portugal e na nossa cultura. Não é uma ameaça à cultura portuguesa, mas sim uma riqueza", disse o criador de "Lisboa, montra de recuerdos", enfatizando que "é um abraço a toda a mundividência que o fado tem dentro", e que ele próprio, como artista, tem.

"Este álbum tem isso tudo dentro, até a própria origem do fado, se vem dos brasileiros, dos árabes, eu acho que todos estão certos, pois eu acho que o fado é uma música de viagem, de barco", argumentou.

A acompanhá-lo, no álbum, estão os músicos Acácio Barbosa e Bernardo Romão, na guitarra portuguesa, Tiago Valentim, na viola, e Yami Aloelela, na viola baixo, uma opção por um quarteto, o formato com que gosta de cantar, "até pelo diálogo entre as duas guitarras, 1.ª e 2.ª voz", como era comum na década de 1960, e ainda os "batedores de fados", Lancer Patrick e Lewis Sizright.

Um dos temas do alinhamento, que será o primeiro single do álbum, intitula-se "Mouraria, Moirama", de certa forma uma homenagem a parte da sua família que é originária deste bairro lisboeta.

Sobre si, Jonas afirmou: "Não me imagino um agente da cultura portuguesa, enquanto com estas características que nós a vemos, mas sim um agente do mundo que a cultura portuguesa tem dentro", e "tratar com essa multiculturalidade da melhor forma, com curiosidade em vez de medo, com interesse em vez de afastamento".

Jonas, de 37 anos, com um percurso artístico multidisciplinar, disse que o seu "principal caminho foi sempre o fado", que, profissionalmente, começou a cantar em Londres.

O fado era "uma música que se ouvia muito em casa, apesar de se dizer isso era vergonhoso, nós tínhamos vergonha na escola".

O músico teve contacto com a música sacra, tendo frequentado coros de igreja e de música gospel.

Atualmente, além de fadista desenvolve a sua atividade profissional como coreógrafo e bailarino.

Em 2002 matriculou-se na escola de artes Chapitô, em Lisboa. Em 2005, antes de terminar o curso, fez parte do elenco do musical "A Canção de Lisboa", de Filipe La Féria, levado a cena no Teatro Politeama. No ano seguinte partiu para Londres onde frequentou o National Centre for Circus Arts e desenvolveu a sua formação em dança.

Na capital britânica iniciou o seu percurso como fadista profissional, tendo feito parte do elenco d'O Fado Restaurant, além de participar em vários eventos na cidade. Regressou a Portugal em 2007.

Em 2010, entrou na Escola Superior de Dança, em Lisboa, e no ano seguinte tem a sua primeira experiência discográfica com "Fado Mutante", assinado pelo grupo Rosa Negra, que recebeu em 2012 o Prémio Carlos Paredes/Câmara de Vila Franca de Xira.

Em 2015 fundou a Sinistra, uma casa de fados no centro de Sintra, nos arredores de Lisboa. Em 2021, lançou "São Jorge", o seu primeiro álbum como cantautor.

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