Os autores Mafalda Brito e Rui Pedro Lourenço, da Barca do Inferno, explicaram à agência Lusa que decidiram fazer um pedido de 'crowdfunding', de 4.000 euros, para concluir o livro "Maria Lamas, Amor, Paz e Liberdade".
A editora, fundada em 2012 em Leiria, tem-se dedicado a publicar livros ilustrados sobre património cultural e artistas portugueses, com apoio institucional de museus e municípios e que depois são distribuídos para diferentes públicos, em particular crianças e jovens.
No entanto, para a produção do livro informativo e biográfico sobre Maria Lamas, a editora estava a contar com um apoio institucional "que não correu como o esperado" e que "não era o suficiente" para a publicação, pelo que optou por fazer uma angariação de verbas, contou Mafalda Brito.
"Maria Lamas, Amor, Paz e Liberdade" tem texto de Mafalda Brito e ilustração de Rui Pedro Lourenço e "não é um estudo exaustivo da vida e obra da Maria Lamas. Pretende dar a conhecê-la a um público alargado", contou a escritora.
No livro, são recordados momentos chave da vida de Maria Lamas, a infância, o trabalho enquanto "jornalista num mundo de homens", a luta pelos direitos das mulheres, o exílio, a detenção pela PIDE, a produção do livro "As mulheres do meu país".
Maria Lamas, que morreu aos 90 anos em 1983, é ainda hoje um exemplo na luta pela igualdade, afirmou Rui Pedro Lourenço: "Ela, a dada altura, descobriu que a vida dela seria mesmo para se pôr ao serviço dos outros, dos mais fracos, das mulheres e das crianças principalmente".
O livro deverá ser publicado em abril, mas é um acaso coincidir com os 50 anos do 25 de Abril de 1974, porque o projeto editorial estava feito há algum tempo e aguardava financiamento.
A Barca do Inferno é um pequeno projeto editorial no qual Mafalda Brito e Rui Pedro Lourenço assumem todas as vertentes, como a escrita, a ilustração, a paginação, o contacto com livrarias, com o público e a divulgação, pelo que reconhecem que esta área é difícil.
"O mercado é muito pequeno, porque há muitas pessoas a fazer livros, há poucas vendas, as livrarias por vezes não dão o devido tratamento aos livros, fazem um bocadinho o jogo dos grupos [editoriais] que lhes entregam os livros", afirmaram ambos.
A editora lançou-se com a adaptação de "O homem da gaita", letra de uma música de José Afonso, com desenho de Rui Pedro Lourenço, que vai na segunda edição e que teve também uma ajuda financeira no modelo 'crowdfunding'.
Desde 2012, os dois autores já publicaram vários livros de ficção e informativos, com destaque para a coleção "Artistas portugueses do século XX", com livros ilustrados sobre autores como Maria Keil, Helena Almeida e Júlio Pomar.
"Fazer um livro, principalmente um livro ilustrado, é muito caro. O trabalho de pesquisa e o trabalho da gráfica se fosse pago com as vendas, não tínhamos hipótese nenhuma de sobreviver", disse Mafalda Brito.
Assim, o facto de municípios e museus apoiarem ou adquirirem exemplares e oferecerem a crianças "permite que os livros cheguem às pessoas e isso também nos interessa. Não queríamos fazer livros para tê-los aqui em casa, interessa-nos que eles circulem e que cheguem às pessoas", explicou.
Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas nasceu no dia 6 de outubro de 1893 em Torres Novas. Em 2023 assinalaram-se os 130 anos do nascimento daquela que é considerada uma das mulheres mais combativas e marcantes do século XX português.
Escritora, jornalista, investigadora, ativista, Maria Lamas deixou ainda um retrato sobre a condição das mulheres portuguesas nos anos 1940, com texto e fotografias, intitulado "As Mulheres do meu País", publicado entre 1948 e 1950, em fascículos para fugir à censura do Estado Novo.
Atualmente, e pela primeira vez em Portugal, as fotografias de Maria Lamas feitas para aquele livro foram expostas publicamente, numa mostra que está patente até maio na Fundação Calouste Gulbekian, em Lisboa, que hoje acolhe o colóquio "Sempre mais alto: a criatividade de Maria Lamas", para abordar as dimensões jornalística, literária e das lutas pelos direitos cívicos e das mulheres, que a escritora e pedagoga assumiu.
Leia Também: Lídia Jorge e Inês Castel-Branco participam na Feira do Livro de Bogotá