O espetáculo estreia-se a 27 de abril, em Coimbra, no Teatro Académico de Gil Vicente, no âmbito do festival Abril Dança Coimbra, tendo depois duas apresentações no festival Dias da Dança (DDD), no Porto (30 de abril e 01 de maio), contando ainda com datas em Paris, Plovdiv (Bulgária) e Aveiro, neste ano, e, em 2025, em Lisboa.
Ao longo da peça, cinco bailarinos assumem-se como espetros ou fantasmas, afirmando-se, dobrando realidades, passando de um gesto com referências ao vocabulário e técnicas do teatro ancestral japonês 'noh' para posteriormente se inspirarem em "danças urbanas e contemporâneas, mais afirmativas", disse à agência Lusa a coreógrafa.
"Todos [os bailarinos] questionam o corpo, se calhar em diferentes fases de aceitação de perceber que corpo é aquele, o que foi, como volta a remembrar um corpo já não é o que conhecia. Posteriormente, aceita a sua dimensão e então afirma-se e ocupa o espaço", conta Catarina Miranda.
A entrada de danças mais afirmativas e alegres, urbanas e contemporâneas, dizem também respeito aos próprios "vocabulários" dos bailarinos em palco, explicou.
O novo espetáculo de Catarina Miranda, co-apresentado pelo Abril Dança Coimbra e DDD, surge de um fascínio e interesse da coreógrafa em estudar "como culturas diferentes criam sistemas de tradução que evocam a relação com o desconhecido, com a morte, com o sagrado".
Foi no seguimento desse estudo, que surgiu o interesse pelo teatro 'noh', caracterizado "pela técnica essencial do gesto, a manipulação do objeto, uma temporalidade elástica", aclarou a coreógrafa, que esteve no Japão para melhor compreender este teatro ancestral, cujo formato se mantém muito próximo do original.
No âmbito do curso, conheceu a peça de teatro 'noh' Atsumori, que tem como protagonista o fantasma de uma criança guerreira que volta à terra para se vingar da sua própria morte, mas que descobre que quem o matou, ficou "tão chocado que se converteu em monge budista e passou a rezar por ele", disse.
No seu espetáculo, Catarina Miranda não se propõe a trabalhar aquela peça, mas parte de uma inspiração em torno daquela condição de fantasma, "da transparência, de se viver na sombra, da incomunicabilidade com os vivos".
"É sobre a condição de se ser um espetro. Em palco, há memórias de construção social de quando se era vivo, construção de repetição, de gestos", afirmou, salientando que, numa dimensão sonora, o espetáculo é acompanhado por sons de faíscas, palmas, sinos, sussurros e chamamentos.
Para além de convocar o passado e o presente, o espetáculo, sobretudo na sua proposta cenográfica, propõe também linguagens futuristas, com um "chão e teto luminosos", acrescentou.
Com produção da Material Diversos, o espetáculo é interpretado por Cacá Otto Reuss, Joãozinho da Costa, Lewis Seivwright, Maria Antunes e Mélanie Ferreira.
O desenho de luz é de Joana Mário e Leticia Skrycky e a composição sonora de Lechuga Zafiro.
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