Após as eleições legislativas de março são várias as novas caras na Assembleia da República, nomeadamente de deputados até aos 35 anos, que vão participar pela primeira vez numa sessão solene do 25 de Abril de 1974.
Entre os estreantes está a deputada do PSD Eva Brás Pinho, 24 anos, que se define como "filha de Abril" e considera que a cerimónia no hemiciclo - que se realiza desde 1977 com as mais altas figuras do Estado, contando com discursos do Presidente da República, presidente da Assembleia da República e representantes de cada partido eleito - é "não só fundamental, mas também das sessões mais bonitas".
Eva Brás Pinho manifestou-se "muito honrada" por poder participar neste momento solene, mas alertou que poucos jovens têm esta oportunidade.
"A Assembleia da República deveria receber, enquanto representantes da sociedade civil, organizações de juventude, incluindo jovens, de forma formal, na celebração deste dia. Por outro lado, há múltiplas iniciativas que se podem - e devem - promover tendo em vista o envolvimento da minha geração na construção da democracia liberal e na tomada de decisões que impactarão de forma particular o nosso futuro a longo prazo. Os jovens devem estar nestas celebrações, não apenas como espetadores, mas como agentes ativos, com voz, no diálogo democrático sobre a memória de abril e o que representa", defendeu.
Quem já conhece os passos da cerimónia solene que assinala a Revolução dos Cravos no parlamento é o secretário-geral da Juventude Socialista, Miguel Costa Matos, 29 anos. O líder da JS considera que a data "merece um momento de comemoração solene, no qual se ouça a pluralidade das opiniões políticas", não abdicando do atual modelo de comemorações no parlamento.
"Todavia, devia somar-se formas de tornar este dia mais próximo dos jovens - a Assembleia devia promover, no Palácio e de forma descentralizada pelo país, novos formatos - do teatro à poesia, da informação à educação - que avivem a memória e empoderem a participação política", sugeriu.
Madalena Cordeiro, do Chega, tem 20 anos e é a deputada mais jovem do hemiciclo. A parlamentar considera que "passados 50 anos do 25 de Abril é difícil perceber" o que se celebra.
A jovem alerta para algumas das dificuldades das novas gerações, como os baixos salários -- "75% dos jovens em Portugal ganham menos de 950 euros" -, o facto de apenas "40% dos jovens serem proprietários" de uma habitação e o abandono das faculdades "por falta de condições económicas viáveis".
"Mais do que saber qual é o futuro das celebrações do 25 de Abril, precisamos de saber qual é o futuro de Portugal", sustenta.
Pela Iniciativa Liberal, Patrícia Gilvaz, 26 anos, salienta que "um modelo muito institucional como o que existe hoje é muito pouco apelativo, principalmente para os mais jovens" e defende que está na altura de pensar na "melhor estratégia para abrir a casa da democracia à sociedade civil, nestas datas comemorativas, mas não só".
A deputada sugere a realização de "concertos, debates e tertúlias, devida e amplamente divulgados" ou a descentralização das cerimónias solenes, à semelhança do que acontece com o 10 de Junho, dia de Portugal.
Salientando a importância do 25 de Abril mas também do 25 de Novembro de 1975, a deputada elogia o facto de o presidente do parlamento, José Pedro Aguiar-Branco, ter anunciado que vai descer a Avenida da Liberdade neste dia.
O líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo, 35 anos, considera que a atual sessão solene "é momento bastante relevante na vida democrática do país e do parlamento enquanto instituição, porque sem democracia, sem o 25 de Abril, não existiria a Assembleia da República", acrescentando que todos os dados indicam que é "das mais vistas".
O bloquista elogiou o conjunto de atividades que já são feitas entre o parlamento e as escolas, academia e museus, considerou que a Assembleia da República poderia estar mais vezes aberta ao público e mostrou-se favorável a que o parlamento "seja palco de momentos culturais", como concertos.
Pelo Livre, o deputado Paulo Muacho, 33 anos, será também um estreante nesta cerimónia, que define como "um momento importante, que se deve manter", acrescentando que as manifestações populares organizadas nesse dia são igualmente relevantes e essenciais para que se mantenha um espírito "de partilha, de intervenção e participação que a nossa democracia, 50 anos depois, precisa mais do que nunca".
No dia 25 de Abril, à semelhança de anos anteriores, o Palácio de São Bento estará aberto a visitas gratuitas das 15:30 às 19:00, contando com várias atividades, bem como a recém-inaugurada Casa do Parlamento - Centro Interpretativo.
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