Este ano, a Casa de Portugal em Macau, para quem todos os anos o artista cria o cartaz do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, decidiu reunir e apresentar os trabalhos de Victor Marreiros em livro e numa exposição, integrados na programação de Junho - Mês de Portugal no território.
Sempre com o tema do 10 de Junho como pano de fundo, a composição foi evoluindo ao longo dos anos, do mar e da cruz de Cristo para as preocupações da comunidade, as de Portugal e do mundo, disse à Lusa.
"As cores também falam e o mar, para mim, é a terceira cor portuguesa, para além do verde e o vermelho, porque sem o mar eu não existia e talvez a maior parte dos portugueses não estariam em Macau. Por isso, eu relaciono sempre o mar com a portugalidade. É a nossa existência do povo português", considerou.
O primeiro cartaz data de 1990, ainda Victor Marreiros era funcionário do Instituto Cultural de Macau e os temas iniciais eram "mais o mar, mais a cruz de Cristo" e depois o poeta Luís Vaz de Camões.
"Eu também achei que devia fazer um intercalar para não aparecer sempre o Camões. Ninguém me pediu, mas eu comecei a fazer, às vezes era o Camões, outras a comunidade portuguesa", contou.
"Com o decorrer dos anos, a liberdade que eu ganhei, a experiência que eu ganhei e também tornei-me mais sensível, cada vez tinha mais o Victor no cartaz, sempre respeitando os cartazes, sempre respeitando os temas... e assim surge a covid-19, a guerra da Ucrânia, ou as preocupações do residente de Macau, nomeadamente, o acréscimo das câmaras [de segurança] e a proibição do cigarro, que tocava a mim diretamente. Tudo isso aparece no cartaz, consoante as oportunidades", acrescentou.
Sobre os temas relacionados com Portugal e o mundo, Victor Marreiros lembra o papel da RTP Internacional, que o acompanha nas horas noturnas de trabalho.
"No ano passado, confesso que o tema [do cartaz] era só os acontecimentos em Portugal. Porque como português, mesmo longe, sentia-me agredido, porque as notícias que vinham pelo telejornal eram demais. Então, tomei a liberdade de pegar num caderno, quando ouvia o telejornal e apontar os temas que iriam ser um dos quadradinhos dos meus cartazes", explicou, numa referência às várias polémicas no país.
"Foi um ano de escrever o que acontecia em Portugal, ou com os portugueses. É assim que começam as 'variedades' dos meus cartazes. Alguns, faço numa noite, outros ao longo do ano", mas sempre a respeitar o tema, os clientes, os objetivos e as características funcionais do cartaz.
Manifestando-se grato "por ter a oportunidade de continuar a fazer" estas composições, o artista sublinhou que a inspiração pode surgir de "uma conversa, da preocupação dos residentes [de Macau] e alguns acontecimentos" e "desaguar num papel A4 ou numa tela", nos cartazes ou em outros trabalhos que cria.
"Isto é uma pequena parte da minha vida profissional, gráfica, mas uma parte muito importante", destacou, citando vários trabalhos, como tantos outros cartazes ou livros, tantos que muitas vezes tem que pedir a companheira, Grace, para confirmar se aqueles trabalhos são seus. "Porque eu não me lembro", adianta.
Victor Marreiros define a sua profissão como designer, mas a forma de vida que escolheu "é de artista".
Sem nunca ter feito uma exposição individual em Portugal, Victor Marreiros conta várias participações em diferentes coletivas, como no Japão, em 1999, ou em Taiwan, no ano passado. Esta é a quarta vez que expõe na Casa Garden da Fundação Oriente em Macau.
"A vida é doce para comigo, muito obrigado", concluiu.
O livro 'Victor Hugo Marreiros 10.6' é lançado no sábado e a exposição está patente até 22 de julho.
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