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Projeto transpõe música "subexplorada" de José Afonso para violoncelos

Os músicos Pedro do Carmo, Lluïsa Paredes e a compositora Eva Aguilar desenvolveram o projeto 'Zeca Afonso - Estudos musicais para dois violoncelos', que transpôs as canções de José Afonso para dois violoncelos, inspirado no violoncelista Paulo Gaio Lima.

Projeto transpõe música "subexplorada" de José Afonso para violoncelos
Notícias ao Minuto

11:45 - 28/08/24 por Lusa

Cultura Música

"Esta ideia surgiu, na realidade, através do nosso antigo professor Paulo Gaio Lima (1961-2021), que foi um grande pedagogo, e era uma ideia que ele tinha de também usar Zeca Afonso, com os alunos, para aprender o instrumento, pois, para ele, Zeca Afonso e todo o tipo de música têm muito a dizer e a ensinar a nível expressivo, o que é que é a música, o que é que é ser musical", disse à Lusa Pedro do Carmo.

 

O músico realçou que para Gaio Lima, "Zeca Afonso tinha muitas mais valias no ensino da música" e a música popular devia "ser igualmente ensinada como é Bach ou Schubert, no ensino da música erudita ou de um instrumento como o violoncelo".

Paulo Gaio Lima considerava que "a música do Zeca era subexplorada", por estar conotado com o ativismo político.

"Na perspetiva do Paulo e o que ele nos dizia, era que o Zeca faz mais do que isso, era um experimental, era uma pessoa que experimentava imenso que descobriu imensas formas de expressão que ia buscar, ia beber a imensos sítios diferentes, e era um génio musical", enfatizou o violoncelista.

Pedro do Carmo concorda com o seu professor Gaio Lima, considerando também que "o génio criativo de Zeca Afonso é muito subexplorado", face ao seu ativismo político, "que não deixa de ser muito importante".

O violoncelista afirmou que sentiram a necessidade de olhar José Afonso "pelos olhos da sua música, e respeitar essa expressividade".

"Decidimos fazer isso para dois violoncelos, que é o nosso instrumento, o que sabemos melhor dominar, e tentámos, nos nossos arranjos, preservar essa expressividade do Zeca Afonso, em vez de adaptar o material [musical] ao instrumento, que é o que muitas pessoas fazem, e nós não quisemos fazer isso, quisemos ir à procura de um certo ruído ou de uma certa gestão do tempo que o Zeca Afonso usa, através do instrumento", afirmou.

"Sermos nós a ajustarmo-nos às preciosidades do Zeca Afonso e não ao contrário", enfatizou o músico.

'Era um Redondo Vocábulo', 'O Avô Cavernoso', 'Canção Vai e Vem' ou 'Agora', são alguns dos temas do repertório de José Afonso que adaptaram a dois violoncelos, assim como 'Venham Mais Cinco', que é interpretado a três violoncelos, com o qual fecham habitualmente os concertos, contando com a participação de Eva Aguilar.

Na quinta-feira, às 22:30, atuam em Odemira, e a 02 de setembro, pelas 17:30, na Biblioteca Nacional, em Lisboa. No dia seguinte, às 21:30, tocam na sala José Afonso da Casa da Cultura, em Setúbal.

Sobre o projeto, que inclui a edição próxima de um livro com as partituras dos temas e textos sobre José Afonso, o violoncelista disse: "Nós os três fomos estudando Zeca, ouvir, tentando reproduzir as pequenas nuances da sua voz, a pequena instrumentação, a dialógica, a guitarra, a guitarra/voz, tentámos reproduzir tudo isso de uma forma muito orgânica e fomos descobrindo também o Zeca musical, o que é que ele tenta explorar e o que não explora".

Os músicos pretendem gravar um álbum do projeto no próximo ano ou em 2026. A ideia de editar um livro com as partituras vai ao encontro da ideia de Paulo Gaio Lima, no sentido de "disseminar" junto dos estudantes a música do "genial Zeca Afonso", "na prática e no ensino do instrumento".

O projeto, com uma vertente académica, é posto em prática no âmbito do cinquentenário do 25 de Abril, tendo recebido um apoio de 10.000 euros da Direção-Geral das Artes, no âmbito da linha de financiamento "Arte pela Democracia".

"Nós não menosprezamos a componente política desta música, vai de mãos dadas, mas perceber todo o contexto histórico e social de cada canção tem uma influência na forma como vou interpretar", realçou à Lusa.

Conhecer o contexto em que José Afonso criou uma canção "enriquece" a forma como se interpreta, defendeu o violoncelista, que criticou o facto de a música popular portuguesa não ser tida em conta no ensino da música erudita e do instrumento.

Pedro do Carmo e Lluïsa Paredes encontraram-se nos Países Baixos, no decorrer de uma residência artística. Paulo Gaio Lima foi professor de Pedro do Carmo na Escola Superior de Música de Lisboa, e da catalã Lluïsa Paredes na Academia Nacional Superior de Orquestra, da Metropolitana, também na capital.

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