O prémio anual consiste numa bolsa de viagem de seis mil euros e foi atribuído por um júri composto por Mónica Baldaque, que presidiu, por Luísa Távora e pelos arquitetos Andrea Soutinho, Carlos Prata e Teresa Fonseca.
A proposta de Weber intitula-se 'Do Benim ao Benim: Projetos Marginais, Arquiteturas Radicais' e foi classificada pela presidente do júri "como uma expedição, pelo elemento aventura e descobertas, neste caso de vestígios de uma arquitetura local, que, por obedecer a circunstâncias históricas, geográficas não deixa de estar inscrita num quadro global, e de constituir um contributo inspirador e científico para um reconhecimento de um povo com as suas características, leis e sabedorias".
"Há uma memória e conhecimentos que devem ser preservados, respeitados, e trazidos à luz de uma nova leitura perante novos cenários. Não é do etnográfico que falamos, que esse situa-se numa superficialidade decorativa. São muito mais profundas as raízes que aqui se procuram e interpretam. Penetrar nesse encantamento é um projeto notável de viajante/arquiteto", acrescentou a presidente do júri.
Na introdução da proposta, citada num comunicado da Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitetos, pode ler-se o seguinte: "Produto da liberdade, a arquitetura Agudá tem origem no retorno de escravizados libertos do Brasil rumo ao Golfo do Benim. (Re)estabelecidos em África, os Agudás organizam comunidades em torno de uma identidade brasileira inventada, materialmente publicizada pela arquitetura."
De acordo com o projeto Atlas do Chão, os "brasileiros, aos quais se somam os beninenses levados como escravos ao Brasil e retornados à sua terra natal, são chamados de 'agudás'. Graças a eles, as referências ao Brasil pontuam as ruas de cidades litorâneas do Benin e de outros núcleos urbanos da África Ocidental, mostrando que os horrores da escravidão também produziram ricos intercâmbios culturais".
"Os agudás cultivam costumes brasileiros. Celebram a festa do Nosso Senhor do Bonfim, falam português e comem feijoadas e acarajés. Suas edificações também carregam traços da arquitetura, das técnicas construtivas e dos modos de viver brasileiros, em 'bairros brasileiros' que tem a Bahia como referência suprema", pode ler-se na página daquele projeto.
Gabriel Weber nasceu no Rio de Janeiro em 1997 e é mestre pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, onde é também doutorando numa investigação sobre o projeto Agudá.
De acordo com a biografia disponibilizada no comunicado sobre o galardão, venceu o prémio Viana de Lima em 2023 e autor do livro 'Manual de prácticas del autobús - 474 Jacaré Copacabana', 'desdobramento de sua dissertação de mestrado, finalista do Archiprix Portugal em 2023'.
O anúncio do prémio Fernando Távora - atribuído pela Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitetos em parceria com a Câmara Municipal de Matosinhos, a Casa da Arquitetura e a Fundação Marques da Silva, com o patrocínio da Ageas - foi feito numa cerimónia no Salão Nobre da Câmara Municipal de Matosinhos na segunda-feira.
Leia Também: Selma Uamusse canta carta aberta ao futuro em novembro no CCB em Lisboa