Vencedor do Prémio LeYa/2024 ansioso por publicação de "Pés de Barro"

O vencedor do Prémio LeYa/2024, Nuno Silva Duarte, afirmou-se surpreendido pela distinção e ansioso por ver o romance "Pés de Barro" impresso, em declarações à agência Lusa.

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Lusa
06/11/2024 17:08 ‧ 06/11/2024 por Lusa

Cultura

Prémio Leya

Nuno Miguel Silva Duarte disse que este é o seu primeiro romance e quando concorreu tinha a esperança de ser finalista e de "ser lido", mas ter acabado por vencer se afigura como inacreditável.

 

A obra de ficção aborda o tempo da construção da atual Ponte 25 de Abril, o tempo de ditadura e da guerra colonial, e o autor disse à Lusa que, enquanto escrevia a obra, acabou por sentir "essa revolta" perante esse contexto.

Ainda sob a emoção das felicitações e das entrevistas - "o telemóvel não pára de tocar" -, Nuno Silva Duarte não prevê que o prémio vá alterar a sua vida, mas já foi um terramoto, como afirmou.

"Eu sou publicitário e gosto do que faço", disse, referindo que não vai dedicar mais tempo à literatura, como escritor e leitor, pois, habitualmente, já acorda mais cedo e deita-se mais tarde para ler ou escrever.

O facto de ter recebido este Prémio irá, todavia, trazer "mais responsabilidade". "Vou passar a ler duas e três vezes os originais que enviar para publicar", disse.

"Pés de Barro", o romance vencedor do Prémio Leya/2024, passa-se no bairro lisboeta de Alcântara durante a construção da primeira ponte sobre o rio Tejo, em Lisboa, em meados da década de 1960, então um bairro marcadamente operário, no seu lado mais popular. A construção começou em novembro de 1962 e prolongou-se por quatro anos, tendo sido inaugurada como Ponte Salazar, a 06 de agosto de 1966, nome alterado depois da Revolução dos Cravos para Ponte 25 de Abril. 

À Lusa o autor disse que conhece o bairro de Alcântara "como qualquer lisboeta", e foi até recebido na Junta de Freguesia, a quem agradece o apoio, reconhecendo "o bairrismo dos alcantarenses". E espera que o romance não os defraude.

"Não tive essa intenção", disse, realçando que este "não é um romance histórico, mas sim uma ficção".

O autor, de 51 anos, afirmou que "muitas vezes olhamos para a ponte e elogiamos o ter sido construída sem derrapagens e não ter ultrapassado os prazos". "Foi, de facto, terminada antes do tempo previsto. Olha-se a ponte mas esquecem-se das suas margens, o seu contexto", que foi a ditadura do Estado Novo.

"Nós temos o hábito de romancear o passado, mas a verdade é que por baixo daquela ponte passaram os paquetes que levavam rapazes para a guerra colonial, há um paradoxo, e daí o título do romance, 'Pés de Barro'".

Este facto não passou despercebido ao júri, presidido pelo escritor Manuel Alegre, que o referiu, realçando, na sua justificação, que "Pés de Barro" tem como "pano de fundo a construção da primeira ponte sobre o Tejo, em Lisboa, e dá-nos um retrato do Portugal dos anos sessenta [do século XX]. Por um lado, a formação de um exército proletário para a construção da ponte, por outro as primeiras partidas do exército para a guerra colonial".

O autor concordou com a opinião do júri que apontou "Pés de Barro" na "tradição do romance político-social".

"Eu tive essa preocupação e a meio do romance senti essa revolta", disse Nuno Silva Duarte.

"Pés de Barro", de Nuno Silva Duarte, venceu a edição deste ano do Prémio LeYa, que foi a mais concorrida desde sempre, com 1.123 candidatos, salientou hoje Manuel Alegre.

O romance vai ser publicado no primeiro trimestre do próximo ano, disse à Lusa fonte do Grupo LeYa.

Leia Também: Prémio Leya vai para 'Pés de Barro' de Nuno Miguel Silva Duarte

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