Este ciclo "À Volta do Barroco" vai às origens italianas da expressão mais tardia, explora o seu impacto na transição galante para o classicismo e o legado que se estendeu por séculos, até à contemporaneidade, sem esquecer sementes da polifonia renascentista portuguesa.
No concerto de abertura, a Orquestra Sinfónica e Coro Casa da Música, sob a direção do maestro Douglas Boyd, apresentam "Libera me", de João Domingos Bomtempo, a Sinfonia Fúnebre, de Joseph Haydn, e o Concerto em Ré menor, de Johann Sebastian Bach, sendo solista o acordeonista João Barradas.
Este concerto propõe "um mergulho completo na riqueza histórica e na influência duradoura do barroco", escreve a Casa da Música.
No Barroco, a música ganhou a capacidade de representar em sons os movimentos da alma. Tudo tem a ver com a técnica e com o estabelecimento de novos modelos de composição e interpretação. Foi no período Barroco que se desenvolveu a harmonia entre diferentes linhas melódicas, foi também neste período que a música passou a ser agente do drama, com a emergência de novas formas como a ópera e a oratória, foi ainda no Barroco que se assistiu à emancipação da música instrumental, para ganhar em diálogo - ou concerto - consigo mesma. Foi aqui, no século e meio que separa a estreia de "L'Orfeo", de Monteverdi, da morte de Johann Sebastian Bach, que a música adquiriu modernidade, abrindo perspetivas que se estendem por séculos.
No domingo, o Remix Ensemble, na primeira parte do concerto, interpreta o contemporâneo Luca Francesconi, dirigido por Tito Ceccherini, com a flautista Stephanie Wagner. Na segunda, a Orquestra Barroca da Casa da Música, dirigida por Andreas Staier, revisita obras de William Corbett, Carlos Seixas e Domenico Scarlatti, "destacando o diálogo entre solista e orquestra", segundo os seus princípios de interpretação historicamente informada.
Este concerto, que pode constituir-se como 'centro de massa' do programa do festival, testemunha a expressão privilegiada pelo rei João V, "que investiu na italianização da Sé Patriarcal e da Capela Real, com o envio de bolseiros a Itália e a contratação intensiva de prestigiados músicos italianos", como explica o programa.
Assim se cruzam as obras de Domenico Scarlatti, que se fixou na corte de Lisboa, na mesma altura em que o português Carlos Seixas se encontrava na Patriarcal, com a música de William Corbett, compositor inglês que viveu em Itália.
O repertório já foi gravado pelo maestro e cravista alemão Andreas Staier no disco "Alla Portuguesa", que dá nome ao concerto.
Na terça-feira, o Remix Ensemble e a Orquestra Barroca da Casa da Música regressam para apresentarem o programa "Heranças do Barroco".
Na primeira parte, Andreas Staier volta a dirigir a Orquestra Barroca, desta feita na interpretação de peças de Charles Avison, Domenico Scarlatti e Luigi Boccherini, que também gravou. Na segunda parte, o maestro italiano Tito Ceccherini dirige o Remix Ensemble, num programa constituído por peças contemporâneas de Philippe Manoury e de Kaija Saariaho.
No domingo, dia 17, o Festival encerra com o Coro da Casa da Música, sob a direção do maestro Nils Schweckendiek, que vai "explorar a riqueza da música coral portuguesa, desde a polifonia renascentista até criações contemporâneas de Ângela da Ponte, Luís Tinoco e Chagas Rosa".
Neste concerto serão também escutadas peças de Duarte Lobo, Pero de Gamboa, Carlos Seixas, Pedro de Cristo, João Lourenço Rebelo, Diogo Dias Melgás, e Francisco António de Almeida, completando um arco de quase 500 anos de música de tradição europeia, da polifonia renascentista portuguesa, à nova música "que ainda nasce como resultado das inovações do Barroco".
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