Livro evidencia apoio de Salazar contra a República Espanhola

O investigador Aires Henriques recupera memórias da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) num livro que evidencia os apoios e facilidades concedidos pela ditadura de Salazar aos franquistas sublevados, revelou o próprio à agência Lusa.

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Lusa
03/01/2025 15:49 ‧ há 2 dias por Lusa

Cultura

Aires Henriques

Na obra 'Rumo a Madrid. Um diário da guerra santa', o autor, que tem dedicado vários trabalhos à história da oposição ao Estado Novo, o regime autoritário derrubado há 50 anos com a revolução do 25 de Abril, descreve e analisa factos do "quarto comboio automóvel com donativos para os insurrectos nacionalistas espanhóis".

 

Quarta de cinco expedições organizadas pelo Rádio Clube Português (RCP), sob a liderança do capitão Jorge Botelho Moniz, com ajudas ao levantamento das forças de Francisco Franco contra o governo legítimo da II República Espanhola, a ação aconteceu pouco antes do Natal de 1936, com saída de Portugal em 08 de dezembro e chegada a Madrid no dia 16.

Aires Barata Henriques, dono do Museu da República e Maçonaria, em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, disse que o livro tem como ponto de partida "um diário de viagem inédito que um popular" escreveu após ter participado na referida caravana automóvel, composta por mais de 400 camiões.

Em Espanha, nas áreas dominadas pelos franquistas, "as pessoas estavam a ser massacradas com apoio político, material e logístico de Salazar, dos fascistas italianos e dos nazis alemães", declarou à Lusa.

Numa introdução com o título 'A memória como projeto editorial', Aires Henriques considera que o escrito deixado por Alfredo Barros de Brito, funcionário do Grémio de Vinicultores de Almeirim, é "um testemunho marcante, onde se cruzam factos e gentes das mais diversas sensibilidades, cultura, posses e interesses, muitas delas vítimas daquela censura à imprensa e de sistemática desinformação".

Prefaciado pelo historiador Alberto Pena Rodriguez, professor da Universidade de Vigo, na Galiza, Espanha, o livro acaba de ser editado pela Hora de Ler, com sede em Leiria.

"Em paralelo, pois, com os ricos lavradores de Almeirim e Santarém, iremos acompanhar a causa ibérica com as gentes de Leiria que, localmente, dispõem de uma imprensa afeta [ao regime de Salazar]", explica o economista.

A imprensa da época, com títulos locais como o Correio da Extremadura e o Portugal, respetivamente, à partida e à chegada das caravanas distritais, "não deixa de apoiar e enaltecer os eventos nacionalistas e os feitos bélicos dos anfitriões fascistas", salienta Aires Henriques.

"A guerra teve consequências políticas, sociais e económicas para o governo de Salazar, que agiu como se o conflito espanhol fosse um assunto nacional", recorda Alberto Pena Rodriguez.

No prefácio, acentua que "a propaganda do Estado Novo tentou espalhar a perceção de que a ameaça do 'comunismo' espanhol, com as suas ideias iberistas, colocava em risco a própria independência de Portugal".

Na sua opinião, a quarta expedição promovida pelo RCP "foi a mais significativa", tendo reunido 410 viaturas "que transportaram centenas de toneladas de alimentos de todos os distritos", com destino a Madrid e Salamanca.

"O exército rebelde patrocinou e celebrou a chegada destas caravanas como um triunfo, utilizando-as para legitimar a sua política social e a sua causa militar", sublinha o docente da Universidade de Vigo.

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