António Fonseca, que em 2012 disse pela primeira vez na íntegra o poema épico de Luís Vaz de Camões, no âmbito de Guimarães Capital Europeia da Cultura, propôs-se no verão passado gravar a obra em versão áudio, com intenção de a editar em audiolivro.
No entanto, ao fim de um ano de procura de parcerias para a edição, António Fonseca está quase a desistir. Até ao final de abril, se não encontrar uma editora, organismo ou instituição que ajude a publicar o audiolivro, só fará uma versão em áudio, repartida em dez CD, relatou hoje à agência Lusa.
No ano passado, quando lançou um processo de angariação de verbas pela Internet ("crowdfunding"), António Fonseca já lamentava o desinteresse pelo projeto de gravação de uma das maiores obras da literatura portuguesa e em língua portuguesa.
"Não consigo perceber. O meu cansaço tem a ver com esta coisa de estar a pedir e a pedir e a fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Vai-se a Espanha e têm-se o 'Quixote' gravado; as obras do Shakespeare estão gravadas, só com 'Os Lusíadas' é que é isto. Enchem a boca com o Camões e com a defesa da língua portuguesa e 'rebebéu' e não fazem nada", afirmou hoje.
António Fonseca contou que já gravou sozinho na íntegra nove cantos de 'Os Lusíadas', tendo repartido a gravação do décimo canto com cerca de 40 vozes de pessoas de comunidades lusófonas e portuguesas espalhadas pelo mundo.
Na gravação entram vozes, por exemplo, do Brasil, de Angola ou Cabo Verde, mas também de portugueses em Goa (Índia), Macau e de Boston (EUA). Falta juntar as vozes de Timor-Leste e António Fonseca terá a gravação completa.
"Eu queria ter as diferentes musicalidades da língua portuguesa, na maioria dos casos de pessoas que vivem nesses locais", adiantou.
Para a publicação, o ator explicou à Lusa que fez propostas a várias editoras, que gostaram do projeto, mas que lhe disseram que "comercialmente não fazia sentido, que só faria sentido com um apoio institucional".
"A única coisa que eu preciso é do dinheiro para fazer o audiolivro. Seja uma Gulbenkkian, a Presidência da República, o Ministério da Educação, o Ministério da Cultura, um banco, seja o que for. Isto não se esgota num ano", declarou.
Foi em 2008 que António Fonseca começou o trabalho de apropriação do texto de Camões para a oralidade, que lhe tomou bastante esforço físico e mental, como relatou anteriormente à Lusa.
Na interpretação integral de 'Os Lusíadas', António Fonseca declama nove cantos da obra, deixando o décimo e último canto para uma interpretação coletiva com a comunidade de cada localidadde aonde se desloca.
Há quase oito anos imerso nesta epopeia sobre os portugueses e Portugal, escrita por Camões há mais de 400 anos, António Fonseca continua a dizer que é uma obra genial, da qual gosta cada vez mais.